Ruben Barcellos de Melo*
Há um toque de violão no auditório.
Uma canção em vozes juvenis é ensaiada em comemoração da Semana da Pátria. Mas a canção não canta a honra de seus heróis nem o valor de seu povo. Nem mesmo fala dos que tombaram nos campos de batalha na defesa de sua soberania. A canção diz que “nos quartéis lhes ensinam antigas lições, de morrer pela Pátria e viver sem razão...” Como se houvesse valor maior, que dar a vida por seus semelhantes. Como se houvesse valor maior do que fazer disso, uma razão para viver.
Qualquer dia desses, não pasmem se fizerem de Tiradentes o traidor da Inconfidência e se colocarem Calabar nos pedestais da glória.
Como podem julgar sem razão para viver, quem vive para servir? Como se atrevem a colocar em jogo o que mal conhecem?
Os quartéis formam os homens que colocam lado a lado, na mesma mochila, o medo da morte e o desprezo por ela. Os soldados brasileiros fizeram o Brasil do tamanho que ele é. Defenderam, e defendem suas fronteiras e lutaram, e ainda lutam além delas e milhares morreram longe de casa.
Milhares jamais foram citados em poesias de guerra. Heróis sem nome, sem rosto, sem memória que os reverencie.
Ainda querem dizer que isso é viver sem razão? Ainda ousam cantar que estão “todos perdidos de armas na mão?”
Porque não lhes dizemos que os amamos por “viverem sem razão” e porque não lhes louvamos por morrerem pela Pátria em nosso lugar?
Vejo Osório, avançado em anos , cavalgar em meio a fumaça dos canhões, espada em riste, poncho ao vento, indo de encontro à morte, desafiando a morte pela Pátria que amou... sem nenhuma razão... apenas perdido de patriotismo.
E vejo todos os que vivem trabalhando nas escolas, nas universidades, nos hospitais, nos quartéis, todos eles irmanados em nome do sentimento patriótico que deveria nos assolar no mês de setembro.
Melhor seria que, em vez de Geraldo Vandré se cantasse Vinicius de Morais:
“não te direi o nome, Pátria Minha, teu nome é patriazinha, és mãe gentil...”.
7 de setembro de 2014
* Tenente QAO R/1