Relatório do Exército revela que sargento que abastecia o tráfico também vendia armas a policiais
Vera AraújoO sargento do Exército Volber Roberto da Silva Júnior, apontado pela  Polícia Civil como um dos maiores traficantes internacionais de armas e  morto em junho deste ano, não era fornecedor apenas das facções  criminosas do Rio. Um relatório reservado do serviço de inteligência do  Exército, ao qual O GLOBO teve acesso, revela que Volber também vendia  armas a policiais civis e militares, além de ser especializado na  fabricação de explosivos.   
Ele foi investigado pelo serviço de inteligência de sua corporação, suspeito de desvio de armas.   Como no caso dos ex-paraquedistas que ingressam no tráfico ou nas milícias, conforme O GLOBO noticiou no domingo,   os desvios de conduta de militares com cursos especializados no Exército sempre foram o calcanhar de aquiles da instituição.  
De acordo com o relatório, em conversas telefônicas gravadas com  autorização da Justiça, foi constatada a ligação de Volber com  policiais. Devido à rapidez com que o sargento atendia às encomendas de  armas de diversos calibres, principalmente pistolas Glock, e miras a  laser, ele era bastante procurado.  
Exército não abriu inquérito contra sargento  
Embora o Exército soubesse das atividade ilícitas do sargento,  não foi aberto inquérito policial-militar contra ele, que era apenas  monitorado. Volber só estava afastado de sua unidade, o 21 Batalhão  Logístico, em Deodoro, quando foi morto, porque pedira licença sem  vencimentos, alegando problemas pessoais.   
Segundo a Delegacia de Combate às Drogas (Dcod), o  sargento Volber morreu, aos 38 anos, no dia 30 de junho deste ano, ao  reagir à abordagem de policiais na garagem de um motel, em Jacarepaguá.  Com ele, a polícia encontrou duas pistolas Glock, arma preferida dos  policiais, e uma mochila repleta de munição. O militar estava sendo  investigado pelo Dcod e pela Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos  (Drae). Ele também era alvo da Polícia Federal.   
O documento reservado do Exército informa ainda que, em fevereiro  de 2005, o contrabandista negociou miras a laser com policiais do 14º  BPM (Bangu) e um inspetor que trabalhava na 34ª DP (Bangu). De acordo  com o relatório, as peças foram adquiridas pelo cunhado do militar em  Foz do Iguaçu e Cidade do Leste, no Paraguai. As miras foram enviadas  pelo correio, por R$ 430 cada.  
Ainda em 2005, em março, uma outra interceptação  telefônica, de uma conversa entre Volber e um inspetor chamado  Alexandre, lotado na época na delegacia de Bangu, mostrou que os dois  planejaram forjar uma apreensão de armas, com a finalidade de "elevar o  conceito" que o delegado tinha do policial.  
Nos pedidos dos policiais, eles se referiam às armas como  "tênis". Um deles, não identificado, encomendou um "tênis" tamanho 45 -  referência a uma pistola Colt calibre 45.  
Contrabandista indicava outros vendedores de armas  
Quando o assunto era armamento, Volber atendia todos que o  procuravam ou indicava colaboradores, como fez com um policial que pediu  um prolongador para cano de pistola .40. Nesse caso, ele aconselhou o  comprador a procurar um outro armeiro.  
O envolvimento de policiais com o sargento seria tão grande que,  segundo o relatório, foi ele quem facilitou, em 2005, o acesso do  Exército às polícias Civil e Militar do Rio, para a manutenção de  armamento das forças de segurança do estado. O contrabandista também  estaria envolvido com agiotagem, emprestando dinheiro a policiais e  militares.