*Robson A.Silva
O ano de 2012 foi um ano de novidades no que diz respeito aos militares, a categoria parece ter assumido uma postura mais politizada, adotando novas maneiras de manifestar suas demandas. Tradicionalmente os “cidadãos fardados” tem o costume de se calar, esperando que seus líderes tomem a iniciativa de se manifestar sobre as questões que lhes dizem respeito. Porém, parece que essa situação esta se modificando rapidamente. Os militares resolveram “abrir a boca”, não só de forma anônima ou virtualmente, mas de fato. Trocando informações por meio da internet, lendo e escrevendo em sites voltados para o público militar, os profissionais das armas se organizaram e realizaram uma marcha virtual que arregimentou centenas de milhares de assinaturas e logo em seguida uma manifestação presencial em Copacabana, principal portal das manifestações cívicas do país.
Embora alguns se refiram a passeata de Copacabana como inexpressiva diante da totalidade da sociedade militar brasileira, olhando por um prisma otimista, avaliamos o movimento como um sucesso e como evento inaugural de grandes movimentos a ser realizados pela sociedade em questão. No Rio estavam presentes militares da vários estados. Além dos cariocas pudemos constatar a presença de representantes de Minas Gerais e Brasília. A manifestação foi quase que totalmente organizada pela internet e sem financiamento de ninguém, ao contrario dos movimentos de outras categorias que normalmente contam com verbas para fretar carro de som, ônibus, pagamento de lanches e camisetas, e multidões quase sempre arrastadas por uns poucos ativistas profissionais, contratados para incentivar e, vez por outra, realizar badernas, como os que vimos na manifestação descabida que ocorreu em frente ao clube militar no Rio.
Em Copacabana havia, em esmagadora maioria, militares da reserva e suas esposas, cidadãos pacatos e não habituados a se manifestar publicamente para expor suas dificuldades. Alguns transitavam de cabeça baixa, com bonés, visivelmente constrangidos com a situação. O cuidado extremo que tomavam para não atrapalhar o trânsito destoava do clima caótico que o Rio assumiu naquele fim de semana, marcado por manifestações das Vadias, maconha e escrachos. Tomando a frente da via por poucos segundos enquanto o sinal permanecia no vermelho, os militares e esposas logo em seguida corriam para a calçada, tomando extremo cuidado para não atrapalhar o direito de outros cidadãos que transitavam por ali.
Percebia-se alguns militares jovens, geralmente andando pela lateral, ainda em dúvida sob seu direito constitucional de se manifestar publicamente.
As associações de militares da reserva tendem a se organizar e, centralizando-se financeira e politicamente, financiar grandes movimentos, preferencialmente no Rio e em Brasília. Já que militares da ativa não podem se filiar a entidades “classistas” isso tem sido realizado pela reserva, mas nada impede que os que estejam ainda na ativa estejam colaborando com doações para movimentos organizados por essas entidades.
No ano passado recebemos informações, e isso foi notícia de primeira página na Europa, que os militares de Portugal realizaram passeatas contra decisões do governo em desfavor da categoria. Lá, os militares tem uma representação forte por meio de associações, principalmente a ANS (Assoc. Nac. de Sargentos). O governo português encarou os movimentos como reivindicações legais, o que mostra a maturidade democrática do país. Os soldados portugueses têm obtido sucesso em sua empreitada pelo retorno da dignidade, e tudo indica que os militares brasileiros, seguindo praticamente os mesmo passos de seus compadres, também serão bem sucedidos.
*Militar na ativa e Sociólogo – Originalmente publicado no site Sociedade Militar -
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