*Paulo Ricardo da Rocha Paiva
Um aviltamento que abrange todos os setores, do pessoal ao material, a começar pelo soldo indecente dos oficiais de carreira com escolaridade superior (3º grau). Máxime com relação aos graduados (subtenente, sargento e cabo estabilizado), como suportar o aperto no qual já sobrevivem as famílias que têm que sustentar e os filhos que devem educar? Perigo! Estes transtornos estão a se sobrepor ao desmanche cada vez mais humilhante pelo qual passa o armamento/equipamento da Força Terrestre?
Que se diga, servir em um exército aparelhado, menos para combater, porém, muito mais, que fosse realmente capaz de dissuadir o inimigo da luta, nunca deixou de ser o maior sonho do soldado. É simplesmente notável, verdadeiramente nobre e edificante, como os militares se superam, todo e a cada ano, expondo, fazendo desfilar com orgulho redivivo, sempre, as mesmas antiguidades que os parcos recursos destinados à defesa nacional lhes permitem estampar para o público. Mas alguém poderá dizer: que exagero! Vamos conferir.
O fuzil ainda é o de 1965, pelo menos até que aquele novo prometido, talvez para o “dia de São Nunca”, esteja em condições de ser distribuído. As viaturas blindadas de transporte de pessoal (VBTP) sobre lagartas ainda são as “M113”, antológicas da guerra no Vietnã, geringonças aqui chegadas na década de 1970 para as quais, no final de 2011, a BRITISH AEROESPACE/BAE SYSTEMS assinou contrato (é de pasmar, só após o virtual sinal verde de Tio Sam) de forma a modernizar um primeiro lote (150, temos 350) destas VBTP, avaliado em 43 milhões de dólares. Será que esquecemos que, na década de 1980, já fabricávamos o CHARRUA? Este blindado, com a mesma servidão, mas de melhor desempenho que o americano, nos dias atuais já poderia estar sendo montado nas suas versões “II” ou “III”.
Quanto ao material de artilharia antiaéreo, que Deus tenha piedade, estamos tiranicamente “na pindaíba”, sem nenhuma condição de fazer a proteção pertinente no nível brigada, quiçá dos escalões divisão ou exército de campanha, muito menos das nossas gigantescas hidrelétricas (Itaipu, Tucurui e, futuramente, Belo Monte, entre outras), haja vista o grau de sofisticação dos vetores aéreos alcançado pelos grandes predadores militares que, quando menos esperarmos, vão questionar a posse das amazônias verde e azul.
(publicado no jornal “A RAZÃO” de Santa Maria/RS em 26 de setembro de 2012)
*Coronel de Infantaria e Estado-Maior