Reprodução Facebook AMIR/JF (Edição: montedo,com) |
De fato, os militares tem muito pouca familiaridade com a arte de fazer política. A AMIR/JF - associação que congrega militares da reserva e pensionistas em Juiz de Fora (MG) - reuniu num mesmo 'santinho' o general Marco Felício (o nome está errado na imagem) e Kelma Costa, ambos candidatos a deputado federal por Minas Gerais. A associação está dizendo: 'apoiamos os dois, você decide em quem votar'. No dizer popular, ficou em cima do muro para sair bem na foto.
Sinto lembrar aos diretores da AMIR que, face ao perfil dos candidatos, isso é absolutamente incoerente. Senão, vejamos:
- O General Marco Felício ganhou notoriedade nacional em fevereiro de 2012, ao lançar o manifesto Alerta à Nação, uma reação da alta oficialidade de pijamas à ação do governo Dilma contra um manifesto conjunto dos clubes militares do Exército, Marinha e Aeronáutica, em que criticavam declarações revanchistas das então ministras Maria do Rosário e Eleonora Menicucci. O Manifesto teve grande repercussão e logo obteve a adesão de centenas de civis e militares das Forças Armadas, de generais a soldados, irmanados ao pensamento do general (à época, não assinei o Alerta à Nação por razões que expus aqui e aqui).
Pois bem, logo a seguir, os autores do Manifesto resolveram retirar as assinaturas dos militares da ativa (no que estavam absolutamente certos!) e, de quebra, dos praças da reserva que se dispuseram a aderir.
À época, na postagem Manifesto à Nação: coordenação retira nome de praças da relação. Ou: os profissionais de segunda classe. escrevi:
Mais uma vez, os altos coturnos que encabeçam o manifesto mostram inabilidade e revelam um pouco de sua essência, refletida no comando das Forças Armadas nos últimos anos (lembremos que a maioria dos signatários de quatro estrelas estava na ativa até pouco tempo).
Primeiramente, devo dizer que concordo integralmente com a decisão de não aceitar a adesão de militares da ativa. Seria estimular a indisciplina, dando motivos reais - hoje inexistentes - a Dilma, Amorim et caterva para a aplicação de punições. A lei é clara e, no estado democrático de direito, todos devemos nos submeter ao seu império.
É a lei, por outro lado, que permite a livre manifestação dos militares da reserva. Cabe aqui uma ressalva , desnecessária em outras circunstâncias: praças inclusive. Daí a conclusão que a decisão de retirar da lista suas assinaturas é um despropósito que só se explica pela arcaica mentalidade de que oficiais e praças são como água e óleo, não se misturam. Este pensamento, aliás, muito mais do que os baixos salários, está na raiz da insatisfação generalizada da turma do andar debaixo com seus comandantes.Na leitura que faço, o temor é que a presença de praças na lista 'contamine a pureza' do manifesto, já que este expressa o pensamento da alta oficialidade. É uma postura retrógrada, consequência mais que tardia da cisão ocorrida no seio das Forças Armadas em 1964, estimulada por correntes políticas de matizes esquerdistas e uma das principais causas da derrubada de Jango. Essa corrente de pensamento é que faz com que o praças, até hoje, sejam vistos e tratados por seus chefes - é o caso - como profissionais de segunda classe.
A postura do general é muito clara, não deixa margem à dúvidas. Ela expressa o pensamento da cúpula militar e seu trabalho como parlamentar será pela manutenção do 'status quo' das Forças Armadas.
- Kelma é casada com o sargento Laureni Costa e alcançou visibilidade pela luta que culminou na aprovação da promoção a segundo sargento dos integrantes do Quadro Especial do Exército, do qual seu marido faz parte. Na esteira do movimento iniciado por militares de Santa Maria, aliou-se a Genivaldo Silva, Ivone Luzardo, Mirian Stein, entre outros, protagonizando um movimento reivindicatório inédito dentro do Congresso Nacional e junto ao Executivo Federal. Percorrendo - de carro ou ônibus - várias vezes os 1.000 km que separam Juiz de Fora de Brasília - tomando banho em rodoviárias e contando trocados para o lanche - Kelma fez com que sua voz fosse ouvida, como podemos constatar aqui, aqui e aqui.
Como se vê, são candidaturas absolutamente distintas que, tal água e azeite, não se misturam, muito menos cabem no mesmo 'santinho'.
Em cima do muro Montedo?
Claro que não. Apoio a Kelma Costa, afinal, combatividade não lhe falta para defender as demandas dos militares do andar debaixo na Câmara Federal. Mas não posso votar nela. Cabe à família militar mineira decidir entre o conservadorismo e a mudança.