4 de setembro de 2010

DO PRIMEIRO GENERAL NINGUÉM SE ESQUECE

JORGE BASTOS MORENO
Já com seis anos de cobertura do Congresso, eu só conhecia os "cardeais" do MDB. Meu primeiro flerte com a ditadura foi logo com um general. E com um general que ia ser presidente. Conheci o então chefe do SNI, general João Baptista Figueiredo, antes de conhecer a cúpula da Arena.
Entrevistando Teotônio Vilela nos corredores do Senado, passa por nós o poderoso senador José Sarney. Os dois se cumprimentam efusivamente, e Sarney se dirige a mim formalmente:
— O senhor é novo na Casa?
Antes que eu respondesse, Teotônio Vilela solta uma estrondosa gargalhada, que se espalha pelo salão Verde:
--- Meu filho, você está aqui há 20 anos, já entrevistou o general que vai ser presidente e nunca sequer cumprimentou o homem mais poderoso do Congresso. Você é repórter de que planeta?
Teotônio espalhou essa história pelo Congresso.
O episódio da entrevista com Figueiredo tinha acontecido há poucas semanas. Eu estava tentando fazer, por iniciativa própria, uma série de matérias sobre os "presidenciáveis". E fui tentar logo o mais difícil. E consegui. De tocaia no Regimento de Cavalaria da Guarda, eu tremia mais do que Rodrigo Maia diante de José Serra quando, de repente, chegou um Opala azul, placa AM-9347. Eram 7h05m de uma quarta-feira, 4 de setembro de 1978. No fim da tarde, desse mesmo dia, o repórter Ethevaldo Dias me levou à estação rodoviária para ver os meninos gritando: "Extra! Extra! Extra! Figueiredo é o novo presidente do Brasil." De lá ao Congresso, onde, numa roda, Francelino Pereira repetia:
— O presidente Geisel já declarou que na hora certa a Nação conhecerá o nome do candidato da Arena à Presidência da República.
De repente, um colega entregou-lhe um exemplar da edição extra do "Jornal de Brasília", com a minha entrevista com Figueiredo. Somente a ousadia do falecido Paulo Redher poderia mobilizar um jornal inteiro para botar na rua aquela história.
Eu também não havia sido apresentado a Francelino. Mas já sabia, pelas aulas que eu recebia do dr. Ulysses, que era de Flaubert a frase "lambe as palavras como a vaca lambe a cria". Eu estava lambendo a própria cria.
A edição trazia na manchete a revelação do próprio Figueiredo e, na contracapa, outro furo, como consequência do primeiro: "Hugo Abreu pede demissão do gabinete militar". Essa segunda notícia já era um prenúncio dos dias difíceis que Figueiredo enfrentaria já como presidente da República. Brevemente publicarei o teor da conversa em off que virou entrevista que correu o mundo.
O GLOBO

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