JORGE BASTOS MORENO
Já com seis anos de cobertura do Congresso, eu só conhecia os "cardeais" do MDB. Meu primeiro flerte com a ditadura foi logo com um general. E com um general que ia ser presidente. Conheci o então chefe do SNI, general João Baptista Figueiredo, antes de conhecer a cúpula da Arena.
Entrevistando Teotônio Vilela nos corredores do Senado, passa por nós o poderoso senador José Sarney. Os dois se cumprimentam efusivamente, e Sarney se dirige a mim formalmente:
— O senhor é novo na Casa?
Antes que eu respondesse, Teotônio Vilela solta uma estrondosa gargalhada, que se espalha pelo salão Verde:
--- Meu filho, você está aqui há 20 anos, já entrevistou o general que vai ser presidente e nunca sequer cumprimentou o homem mais poderoso do Congresso. Você é repórter de que planeta?
Teotônio espalhou essa história pelo Congresso.
O episódio da entrevista com Figueiredo tinha acontecido há poucas semanas. Eu estava tentando fazer, por iniciativa própria, uma série de matérias sobre os "presidenciáveis". E fui tentar logo o mais difícil. E consegui. De tocaia no Regimento de Cavalaria da Guarda, eu tremia mais do que Rodrigo Maia diante de José Serra quando, de repente, chegou um Opala azul, placa AM-9347. Eram 7h05m de uma quarta-feira, 4 de setembro de 1978. No fim da tarde, desse mesmo dia, o repórter Ethevaldo Dias me levou à estação rodoviária para ver os meninos gritando: "Extra! Extra! Extra! Figueiredo é o novo presidente do Brasil." De lá ao Congresso, onde, numa roda, Francelino Pereira repetia:
— O presidente Geisel já declarou que na hora certa a Nação conhecerá o nome do candidato da Arena à Presidência da República.
De repente, um colega entregou-lhe um exemplar da edição extra do "Jornal de Brasília", com a minha entrevista com Figueiredo. Somente a ousadia do falecido Paulo Redher poderia mobilizar um jornal inteiro para botar na rua aquela história.
Eu também não havia sido apresentado a Francelino. Mas já sabia, pelas aulas que eu recebia do dr. Ulysses, que era de Flaubert a frase "lambe as palavras como a vaca lambe a cria". Eu estava lambendo a própria cria.
A edição trazia na manchete a revelação do próprio Figueiredo e, na contracapa, outro furo, como consequência do primeiro: "Hugo Abreu pede demissão do gabinete militar". Essa segunda notícia já era um prenúncio dos dias difíceis que Figueiredo enfrentaria já como presidente da República. Brevemente publicarei o teor da conversa em off que virou entrevista que correu o mundo.
O GLOBO
Já com seis anos de cobertura do Congresso, eu só conhecia os "cardeais" do MDB. Meu primeiro flerte com a ditadura foi logo com um general. E com um general que ia ser presidente. Conheci o então chefe do SNI, general João Baptista Figueiredo, antes de conhecer a cúpula da Arena.
Entrevistando Teotônio Vilela nos corredores do Senado, passa por nós o poderoso senador José Sarney. Os dois se cumprimentam efusivamente, e Sarney se dirige a mim formalmente:
— O senhor é novo na Casa?
Antes que eu respondesse, Teotônio Vilela solta uma estrondosa gargalhada, que se espalha pelo salão Verde:
--- Meu filho, você está aqui há 20 anos, já entrevistou o general que vai ser presidente e nunca sequer cumprimentou o homem mais poderoso do Congresso. Você é repórter de que planeta?
Teotônio espalhou essa história pelo Congresso.
O episódio da entrevista com Figueiredo tinha acontecido há poucas semanas. Eu estava tentando fazer, por iniciativa própria, uma série de matérias sobre os "presidenciáveis". E fui tentar logo o mais difícil. E consegui. De tocaia no Regimento de Cavalaria da Guarda, eu tremia mais do que Rodrigo Maia diante de José Serra quando, de repente, chegou um Opala azul, placa AM-9347. Eram 7h05m de uma quarta-feira, 4 de setembro de 1978. No fim da tarde, desse mesmo dia, o repórter Ethevaldo Dias me levou à estação rodoviária para ver os meninos gritando: "Extra! Extra! Extra! Figueiredo é o novo presidente do Brasil." De lá ao Congresso, onde, numa roda, Francelino Pereira repetia:
— O presidente Geisel já declarou que na hora certa a Nação conhecerá o nome do candidato da Arena à Presidência da República.
De repente, um colega entregou-lhe um exemplar da edição extra do "Jornal de Brasília", com a minha entrevista com Figueiredo. Somente a ousadia do falecido Paulo Redher poderia mobilizar um jornal inteiro para botar na rua aquela história.
Eu também não havia sido apresentado a Francelino. Mas já sabia, pelas aulas que eu recebia do dr. Ulysses, que era de Flaubert a frase "lambe as palavras como a vaca lambe a cria". Eu estava lambendo a própria cria.
A edição trazia na manchete a revelação do próprio Figueiredo e, na contracapa, outro furo, como consequência do primeiro: "Hugo Abreu pede demissão do gabinete militar". Essa segunda notícia já era um prenúncio dos dias difíceis que Figueiredo enfrentaria já como presidente da República. Brevemente publicarei o teor da conversa em off que virou entrevista que correu o mundo.
O GLOBO