Brasil tem longo caminho rumo ao Conselho de Segurança da ONU
Dilma Rousseff fez o discurso de abertura da 66ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, no dia 21 de setembro - Foto: ONU/Divulgação
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Com um destaque maior no cenário internacional, o Brasil não abandona seu sonho de se tornar membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, mas precisa superar a oposição de algumas potências para obter um assento neste seleto grupo, segundo analistas.
Na semana passada, ao abrir a Assembleia Geral das Nações Unidas, a presidente Dilma Rousseff defendeu o ingresso do Brasil no Conselho e ressaltou o crescente protagonismo internacional do país, citando a liderança da Missão de Estabilização da ONU no Haiti (Minustah).
"A cada ano que passa, mais urgente se faz uma solução para a falta de representatividade do Conselho de Segurança, o que corrói sua eficácia. (...) O mundo precisa de um Conselho de Segurança que venha a refletir a realidade contemporânea; um Conselho que incorpore novos membros permanentes e não-permanentes, em especial representantes dos países em desenvolvimento", afirmou Dilma.
No mesmo discurso, o Brasil confirmou o seu reconhecimento de um Estado palestino com as fronteiras de 1967. Como ocorre na questão palestina, o Brasil precisa enfrentar as grandes potências ocidentais, em especial os Estados Unidos, que criticam abertamente algumas posições adotadas pelo governo brasileiro.
Em março deste ano, o Brasil - que ocupa até dezembro o posto de membro não permanente do Conselho de Segurança - se absteve na votação sobre a resolução 1973 que aprovou uma intervenção armada na Líbia.
Em agosto, enviou uma missão diplomática controversa à Síria para dialogar com o presidente Bashar al-Assad, e em 2010 realizou uma tentativa de mediação para resolver a questão nuclear do Irã, que se mostrou infrutífera.
Matias Spektor, coordenador do Centro de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas, considera que "o mais importante é que o país tenha uma visão própria".
"O Brasil cada vez mais é chamado a apontar alternativas. Se o país não gosta das regras do jogo como elas existem atualmente, precisa dizer quais são as alternativas. Então, sempre que o Brasil trouxer ideias novas à mesa, isso contribui para o argumento de que merece uma cadeira no Conselho", ressalta Spektor.
O embaixador Marcos Azambuja, membro do conselho curador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI), reconhece que o Brasil é lento na hora de tomar decisões importantes, mas acredita que pode ter isso ao seu favor, ao se apresentar como um agregador de opiniões.
"O Brasil é um criador de consensos, de pontes entre ricos e pobres, desenvolvidos e em desenvolvimento, norte e sul, leste e oeste. Este é um processo interessante mas é, por definição, lento", explica Azambuja, acrescentando que "o Brasil erra pouco, mas demora muito em acertar".
"O Brasil se equivoca pouco, mas demora muito para acertar", considerou Azambuja, embora tenha destacado o Brasil como "criador de consensos, de pontes entre ricos e pobres, desenvolvidos e em desenvolvimento, norte e sul, leste e oeste". "Este é um processo interessante, mas é, por definição, lento", explicou.< p> Ao contrário da Índia, potência emergente que já recebeu o apoio dos Estados Unidos para integrar o Conselho de Segurança, o Brasil ainda precisa superar a barreira da hegemonia americana para chegar ao Conselho, segundo os especialistas.
"O Brasil, como todo país que pretende uma redistribuição do poder mundial, incomoda os países estabelecidos. E se, por um lado, a situação geopolítica da Índia propiciou o reconhecimento dos EUA, no caso do Brasil é diferente, já que os Estados Unidos gostariam de ver sua hegemonia reconhecida na América do Sul", explica Azambuja.
Apesar disso, para Peter Hakim, do centro de análises Diálogo Interamericano em Washington, "é inevitável que o Brasil se torne um membro permanente".
"A reforma não vai ocorrer neste ano ou no próximo, mas é realmente esperada", afirma, considerando como ponto a favor do Brasil o fato de "ser um país democrático, que realmente participa das missões de paz e que está em melhor posição na questão da proliferação nuclear do que muitos outros países", completa.