Seis incêndios em sete anos
Maior e mais poderoso navio do Brasil, porta-aviões São Paulo terá que provar que é seguro. Novo acidente com morte leva procuradoria militar a buscar informações sobre a vida a bordo. Para Marinha, navio é ‘valioso instrumento’
MARCO AURELIO REIS
Uma rotina de risco para militares e preocupação constante para suas esposas e filhos. Nos últimos sete anos, seis incêndios atingiram o porta-aviões São Paulo, a maior embarcação da esquadra brasileira. Em dois deles, de proporções trágicas que chegaram ao conhecimento público, quatro militares morreram e treze ficaram feridos. O último ocorreu na madrugada de quarta-feira, na antessala de um dos alojamentos de praças, situado na popa do navio. Uma das vítimas, o marinheiro Carlos Alexandre dos Santos Oliveira, 19 anos, foi sepultado ontem em Salvador. Outros dois militares — Jean Carlos Fujii de Azevedo e José de Oliveira Lima Neto, permanecem internados no Hospital Naval Marcílio Dias, no bairro do Lins, subúrbio do Rio.
A procuradora-geral da Justiça Militar, Claudia Marcia Ramalho Moreira Luz, acompanha a investigação feita pela procuraria do Rio. Militares a bordo podem fazer, sem se identificar, denúncias pelo 0800-021-75-00 ou e-mail (pgjm.sac@mpm.gov.br).
Leia também:PORTA-AVIÕES SÃO PAULO É UMA "BOMBA-RELÓGIO", DIZ TRIPULANTE.
Incêndio no porta-aviões São Paulo mata um e fere dois militares no RJ. E não foi por falta de aviso!
A pedido do jornal, mais de um militar a bordo compôs relatório alarmante que foi enviado por O DIA às autoridades. O relato dá dimensão do clima a bordo. “Ano passado, logo no cais, antes de o navio sair, houve incêndio a bordo. Mesmo assim, o comandante decidiu seguir viagem. No mar, ocorreram mais dois incêndios e alagamentos”, revela um militar.
Segundo os marinheiros, quando há acidente, a tripulação deve ser avisada através de sistema de som do navio. Mas nem sempre isso acontece. “Havia ordem para que não fosse divulgado, pois um almirante estava a bordo e se ele ouvisse podia mandar o navio retornar (o que aconteceu em um incêndio posterior)”, conta um marinheiro.

A previsão é que o porta-aviões opere até 2021. A Mariha assegura que o último incêndio não afetou a parte operacional do navio, classificado como “valioso instrumento de controle, proteção e vigilância”. Em 2005, laudo pericial anexado ao Inquérito Militar concluiu que a ruptura na tubulação de vapor na padaria foi causada por corrosão. O desgaste chegou a 60% — o tolerado por agências classificadoras é 25%.
‘O QUE HÁ DE VIR (?)’
As mortes de 2005 não tiram, porém, o fascínio de jovens como Carlos Alexandre, pela Marinha. Aos 19 anos, ele alimentava a bordo do São Paulo o sonho de dar vida melhor à mãe e aos irmãos. “Ele gostava escrever poesias”, recorda a tia Judenice dos Santos. Em uma delas, parecia antever o futuro. “O tempo é precioso... não sabemos o que há de vir!”.
O Dia/montedo.com