Paulo Ricardo da Rocha Paiva*
O ministro da Defesa parece não ter senso da medida quando, como um condestável de primeira grandeza, avalia o ganho em operacionalidade do Exército nos últimos anos. Para ele, as tais “Operações Ágata”, eminentemente policialescas, inserem-se em contexto de realidade e não de mero treino. Para sua excelência, o adestramento no combate a crimes fronteiriços (tráfico de drogas, pessoas, mercadorias ilegais e crimes ambientais) substitui o preparo dos profissionais das armas para a defesa da Pátria. O ministro chegou a dizer: “Eu vejo a integração cada vez maior entre as forças. Vejo a alegria mesmo dos componentes das forças em participar desse esforço...”.
Ledo engano, excelência, soldados em cumprimento de missão estão sempre alegres, mesmo naquelas situações em que os desvirtuam do seu desígnio maior como guerreiros da Pátria. Oficiais-generais não apreciam fazer o mesmo papel de seus correspondentes mexicanos, hoje absorvidos pelo combate ao crime organizado na fronteira com os EUA, em completa observação das diretrizes preconizadas pelo Tio Sam no que se refere ao empregopara o emprego das forças militares latino-americanas no combate ao tráfico ilegal, de uma maneira geral.
Ah, mas sem o concurso dos militares não se obteriam resultados palpáveis. A Força Nacional de Segurança (FNS), um arremedo de tropa federal com somente dois batalhões, um em Goiás e outro no Rio de Janeiro, não adianta em nada no reforço das PMs estaduais. A FNS, mais do que necessária, está a merecer uma estrutura nos moldes da Guarda Nacional dos EUA, justamente para manter o Exército no seu adestramento pertinente. Ah! Mas isto custa caro. Vai custar mais ainda se nossos soldados permanecerem enredados, durante o ano, em megaoperações do tipo polícia, desviados do planejamento e preparo da estratégia da resistência, a única que nos foi permitida para o enfrentamento dos grandes predadores militares.
*Coronel de infantaria e estado-maior/RR
Jornal do Comércio/montedo.com