Por Alexandre Galante e Fernando “Nunão” De Martini
Quem acompanha a realidade das Forças Armadas brasileiras há anos sabe a verdadeira situação reinante nos quartéis, bases aéreas e meios navais. Quase sempre tem faltado dinheiro para as coisas básicas, como comida e uniformes. Para munição então, nem se fala.
Na FAB, o contingenciamento constante dos recursos tem obrigado a Força a diminuir o número de horas de voo dos seus pilotos e a manter vários aviões no chão, por falta de dinheiro para manutenção. Ocasionalmente, a situação parece melhorar, mas mesmo assim, ainda aquém das necessidades de uma Força Aérea competitiva.
Quase não há recursos para investimentos. Os melhores equipamentos da FAB e da Marinha foram comprados durante os Governos Militares, há décadas, tendo passado por modernizações para se manterem minimamente competitivos com os cenários atuais, ou sendo desativados e substituídos, em grande parte, por equipamentos de segunda mão, com algumas notáveis exceções, das quais os A-29 são um exemplo. Os Governos Civis, apesar de algumas iniciativas mais recentes, não souberam definir o que querem do Brasil em matéria de Defesa, ou conciliar o discurso com a prática.
É o caso do atual governo que, mesmo tendo criado a END (Estratégia Nacional de Defesa), continuou contingenciando os recursos destinados ao custeio das Forças Armadas e não defininiu um percentual do PIB constante para a Defesa. Os royalties do petróleo da Marinha, por exemplo, continuam contingenciados e ainda querem deixar a Marinha fora dos projetados lucros do Pré-Sal.
A FAB, por sua vez, parece saber que os contingenciamentos continuarão. Quando a situação aperta, são as Forças Armadas os primeiros alvos da Equipe Econômica do Governo. Então faz sentido que a Força Aérea escolha um caça que seja barato de manter e voar (caso se confirmem as informações do relatório divulgadas pela Folha de São Paulo), pois é essa a realidade do Brasil.
O Rafale, que teve sua preferência sinalizada pelo Presidente da República e pelo Ministro da Defesa, é um ótimo avião de combate, mas seu custo operacional é, muito provavelmente, 10 vezes superior ao do caça mais usado pela FAB atualmente, o F-5. Para uma Força que luta constantemente para manter seus aviões voando, receber um avião sofisticado que não terá garantia de recursos para se manter plenamente operacional é uma temeridade.
Esse é o nó operacional, aquele que faz a diferença no dia-a-dia e na real capacidade de dissuasão da Força, um nó que pode ser desatado, em parte, caso a transferência de tecnologia, indispensável para a operação local de um novo caça, seja realizada a contento. E que também pode ser ainda mais apertado caso essa transferência se complique, o que vale para todos os três finalistas.
Para a operação na realidade da FAB, não faz sentido um Governo que já cancelou o primeiro F-X por causa do “Fome Zero”, escolher no F-X2 o avião mais caro. Para ser coerente, o Governo deveria escolher também o mais barato.]