O sargento licenciado do Exército e contrabandista internacional de armas Volber Roberto da Silva Filho, de 38 anos - morto no fim da noite de quarta-feira durante troca de tiros com policiais civis da Delegacia de Combate às Drogas (DCOD) -, exercia forte influência sobre os subalternos, principalmente por ser especialista em explosivos. Em função dessa habilidade, ele dava aula sobre confecção de artefatos para cabos e sargentos de cursos de forças especiais. O serviço de inteligência do Exército estaria investigando uma denúncia de que o Centro de Instrução de Gericinó, na Zona Oeste, estaria sendo usado para recrutar e treinar os militares com a finalidade de trabalharem como mercenários no Iraque.
Além ser acusado de fornecer fuzis, pistolas e munições para todas as facções criminosas do Rio, Volber também era o principal suspeito de execução do atentado a bomba contra o bicheiro Rogério Andrade, no qual morreu o filho do contraventor, durante uma explosão do carro blindado da família, em abril, na Barra.
Caderno trazia números da contabilidade do crimeO titular da Divisão de Homicídios, Felipe Ettore, não quis adiantar quem era o mandante do atentado destinado a Rogério Andrade, que controla a exploração de máquinas de caça-níqueis em boa parte da Zona Oeste, mas afirmou que o sargento era o principal suspeito da explosão que matou Diogo Andrade e Silva, de 17 anos. Volber também era investigado pela Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos (Drae) e pela Delegacia de Repressão ao Tráfico de Armas da Polícia Federal (Delearm) por tráfico de armas.
Segundo o delegado Alesandro Petralanda da DCOD, a delegacia recebeu uma informação de que o sargento estaria com uma grande carga de drogas. Por isso foi montada uma operação com oito policiais da especializada, que surpreenderam o contrabandista quando estava na garagem de um motel de Jacarepaguá. O delegado informou que Volber foi abordado sozinho e reagiu à ação policial. No confronto, ele foi baleado e levado ao Hospital Lourenço Jorge, na Barra, onde morreu. Segundo Petralanda, ele havia marcado um encontro no motel com dois homens e duas mulheres. Todos foram liberados pela polícia.
De acordo com os policiais, o contrabandista tinha duas pistolas Glock e farta munição na mochila que carregava. Também foi apreendido com ele um caderno com a contabilidade da venda de armamento. Só numa negociação, o traficante teria vendido mais de R$ 725 mil em armas e munições. Numa das páginas é registrada a venda, segundo a polícia, de quatro fuzis, no valor de R$ 160 mil.
O chefe de Polícia Civil, delegado Allan Turnowski, disse que a contabilidade apreendida mostra a importância de Volber no mercado internacional de armas:
- Pelos valores comercializados em apenas uma venda, acima de R$ 725 mil, o sargento Volber era reconhecido no mercado ilegal de armas. Com a sua morte, a gente sabe que desestruturou este tipo de negócio. Os bandidos vão ter que comprar de outro matuto de confiança.
Para o diretor da DCOD, Marcus Vinícius Braga, além do volume das negociações, o que impressiona é a desenvoltura do sargento:
- Ele circulava por todas as facções, das três bandeiras.
Além do fornecimento de armas, a polícia investigava a ligação do sargento com as milícias da Zona Oeste. Em de$ência das suas habilidades com explosivos, ele seria contratado também por grupos que disputam o controle exclusivo das máquinas de caça-níqueis naquela área, região onde morava. Assim como fornecia armas para todas as facções criminosas, Volber também faria "jogo duplo" com os contraventores.
Durante a perícia do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE), na época do atentado contra o bicheiro, foram encontrados fragmentos de um dispositivo eletrônico, usado possivelmente na deflagração do artefato através de um celular. Uma das habilidades de Volber era justamente a de confeccionar esses explosivos com uso de detonadores por radiotransmissão.
Embora Ettore não revele quem são os suspeitos, há duas linhas de investigação. A primeira seria uma vingança do principal rival de Rogério, o contraventor Fernando Iggnácio, genro do bicheiro Castor de Andrade. Outra linha seria a participação de policiais que atuam à frente de sete áreas exploradas por Rogério. Os policiais teriam se desentendido com o bicheiro, no repasse do dinheiro arrecadado das máquinas de caça-níqueis.
O atentado contra Rogério Andrade não seria o único do qual Volber era o principal suspeito de execução. Ele também era investigado pela Polícia Civil como o responsável pela explosão da Hilux blindada do sargento da PM Rony Lessa, em outubro passado. Quando estava na ativa, o úlmo quartel que trabalhou foi o 21 Batalhão Logístico do Exército, onde cuidava da manutenção do armamento.