"Meu filho era um cadete experiente", diz pai de jovem da Aman que morreu
Ele foi enterrado com honras militares, salva de tiros e minuto de silêncio.
Aman abriu inquérito policial militar para apurar as causas da morte.
Alba Valéria Mendonça
O vendedor Darcy Gama Neves, pai do cadete Renan Gama, de 23 anos, afirmou que o filho era experiente e já tinha participado de mais de 20 treinamentos em acampamentos da Academia Militar das Agulhas (Aman), em Resende, no Sul Fluminense. Ele disse ainda que não sabe o que aconteceu com o rapaz que morreu na quinta-feira (6), após ser internado em um hospital da cidade com diagnóstico de rabdomiólise.
"Meu filho estava aqui (na Aman) há 4 anos, era um cadete experiente e saudável. Era um rapaz forte. Não sei o que aonteceu e me entregaram ele assim", afirmou o pai, apontando para a sepultura, após o enterro.
Renan estava internado no CTI do Hospital Samer, em Resende, no Sul Fluminense. Ele morreu na tarde de quinta-feira (6), mas já tinha tido a morte cerebral atestada na terça-feira (4), segundo o hospital.
O jovem foi enterrado com honras militares, salva de tiros e um minuto de silêncio, na tarde desta sexta-feira no Cemitério São Miguel, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio. Cerca de 150 militares entre cadetes e oficiais participaram do enterro de Renan. Pela manhã, o capelão da Aman, padre Paulo, celebrou uma missa de corpo presente na academia, antes de o corpo ser transladado para São Gonçalo.
O pai do cadete disse ainda que, durante as duas semanas que passou em Resende, no hospital acompanhando a evolução do quadro de Renan, recebeu inúmeros relatos de que o rapaz pediu diversas vezes para abandonar o exercício quando passava mal, mas que não teve permissão para parar.
"Só consegui falar com ele, no hospital, durante dois minutos, porque ele estava com falta de ar e teve de ser entubado. Ele só reclamou de falta de ar. Mas para a mãe, ele contou que não permitiram que ele parasse os exercícios mesmo passando muito mal. Relataram que mesmo depois de ele vomitar muito, não o deixaram beber água. E quando ele pediu para parar ainda foi chamado de vagabundo. Foi para isso que ele estudou tanto? Para ser tratado desse jeito, ser chamado de vagabundo e acabar morto?" reclamou Darci.
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Segundo a assessora da Aman, tenente Adriana, já foi aberto um inquérito policial militar em que um oficial da Aman, já designado, terá 45 dias para apurar as causas da morte de Renan, após um treinamento.
A tenente disse ainda que não foi recebida nenhuma denúncia sobre maus-tratos por parte de militares. E que a Aman prestou todo apoio psicólógico e assistência aos parentes do cadete enquanto ele esteve internado. Segundo a tenente, após retornar de um exercício no terreno, ele foi prontamente socorrido no Hospital Escolar da Aman e depois transferido para o Hospital Samer, em Resende. O cadete Gama chegou a queixar-se de dores nas costas durante o exercício, quando recebeu atendimento médico. Ele se alimentou, descansou e após sua melhora, retornou às atividades, concluindo todo o exercício.
O exercício, segundo a assessora, que foi realizado pelo jovem teve também a participação de mais de 400 cadetes do 3º ano em dois turnos, com duração de cinco dias cada turno, sem a ocorrência de nenhum outro caso grave.
Ela informou que a família pediu, no IML de Resende, a necrópsia do corpo.
Diagnóstico de rabdomiólise
De acordo com o boletim médico, Renan Gama deu entrada no hospital às 15h35 do dia 24 de setembro. "O paciente deu entrada com diagnóstico de rabdomiólise e insuficiência renal aguda, sendo necessária terapia renal substitutiva (hemodiálise). Durante sua evolução apresentou insuficiência respiratória aguda, insuficiência hepática, insutificência gastrointestinal, sepse, choque séptico refratário a tratamento".
A rabdomiólise ocorre quando há rompimento de fibras musculares que liberam proteínas que vão para a corrente sanguínea e se depositam nos rins, provocando insuficiência renal. Ainda segundo o boletim enviado pelo hospital, o cadete foi submetido a altas doses de medicamento para manter a pressão arterial, conter a hemorragia cerebral e o coma profundo.
"No dia 4, depois de seguir protocolo padrão para diagnóstico de morte encefálico com dois exames clínicos com médicos diferentes, sendo um especialista em neurologia e acrescido de exame complementar foi constatada a morte encefálica".