Paulo Ricardo da Rocha Paiva*
“Por mais terras que eu percorra, não permita Deus que eu morra... sem que leve por divisa este V que simboliza a vitória que virá! 21 de fevereiro de 1945! Uma divisão de infantaria armada e equipada pelos EUA, a nação não produzia nada como ainda hoje não fabrica grande parte do material bélico adotado para seus soldados, cala baionetas e investe o Monte Castelo. Manejando aquela panacéia de armas, para a época de última geração, pistolas, fuzis, metralhadoras, “bazoocas”, canhões, obuseiros, viaturas e blindados sobre rodas está um soldado competente, corajoso e, sobretudo, de brio inigualável. Flanqueando nossos regimentos de infantaria nada mais nada menos do que a famosa 10ª Divisão de Montanha/USA, mas nossos pracinhas orgulhosos não vão deixar por menos... aqueles “montanheses” vão ver como se faz uma cobra fumar!
“Nossa vitória final, que é a mira do meu fuzil, a ração do meu bornal, a água do meu cantil, as asas do meu ideal, a glória do meu Brasil.” Vitória no final, a glória maior do soldado, mas vitoriosos são os que cumprem a missão. Hoje, agora, não irão alcançá-la. Cumprirão com o seu dever, mas, serão sacrificados no campo de batalha por absoluta inferioridade de meios. E agora, por favor, que não se ventile aquele ufanismo falso de “potência regional”. E daí? Se os senhores acham que vamos enfrentar exércitos sul-americanos, francamente, não vai dar nem para iniciar a conversa. Perigo! Não adianta querer se enganar, são os grandes predadores militares que vão nos incomodar quando menos esperarmos.
Ainda estamos muito preocupados com a fronteira sul. Para que serviriam então o MERCOSUL, a UNASUL e o Conselho de Defesa Sul Americano? Mas, tudo bem, trata-se de uma região para tropas blindadas/mecanizadas, porém, não adianta comprar o carro de combate LEOPARD na UE se as viaturas blindadas de transporte de pessoal (VBTP M/113, aqueles fósseis redivivos/sucateados do Vietnã) não o acompanham em velocidade. É de se perguntar: por que o governo ainda não as substituiu pelos CHARRUA, encomendando-os na MOTOPEÇAS em São Paulo? Se desde a década de 1980 estas viaturas tivessem sido encomendadas, hoje, as mesmas estariam atualizadas nas suas versões II ou III. Este simples fato inviabiliza o emprego do binômio infantaria/carros de combate. Agora, se formos aprofundar mais, cidadão brasileiro vamos cobrar: pergunte se o equipamento rádio da VBTP é compatível (fala) com o do LEOPARD. Aliás, indague: essas viaturas entram em comunicação com os canhões sobre lagartas da artilharia para se pedir o apoio de fogo? Minha gente: sem coordenação e controle ninguém comanda ninguém!
Interessante, nossa grande região norte, mais ameaçada/cobiçada, está bem mais carente de fuzis novos (o ainda usado é da safra de 1965), mísseis portáteis, material de explosivos e destruições acionados por controle remoto e de minas e armadilhas, do que propriamente o nosso garrão meridional de blindados sobre lagartas. Pobre soldado brasileiro, entregue ao adestramento diuturno do combate na selva. Assinou-se o vil Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares e te condenaram a uma guerra na paz. Sim porque quem se adestra na floresta só não leva tiro, todavia, está sujeito a todo o tipo de doença tropical, desde a leishmaniose até a malária.
E agora uma pergunta de seleção para o ministro da defesa: a quantas anda o planejamento do preparo de nossas “forças subterrâneas e de sustentação”? Mas o que é isto, pergunta um Celso Amorim estupefato? Ora, ora, senhor ministro, elas são de vital importância para quem optou pela estratégia da resistência no lugar de uma outra mais convincente e de resultados imediatos. Sem o apoio delas o Exército dificilmente vai dar conta do recado. E atenção, não são os militares que as compõem, são os civis. Não seria o caso da população de Manaus e das outras capitais da Amazõnia já irem se conscientizando da participação que vão ter na composição dessas forças? Vossa Excelência só vai pensar nisso quando os “homens” estiverem aqui dentro?
*Coronel de Infantaria e Estado-Maior