14 de outubro de 2012

Militares das Forças de Paz relatam memórias, experiências e expectativas

Orgulho de representar o país e vontade de ajudar estimulam o voluntariado
Tenente Vinúicius Murta em ação no Haiti (Foto:Divulgação/Forças Armadas Brasileiras) (Foto: Divulgação/Forças Armadas Brasileiras)
Tenente Murta em ação no Haiti: 12 quilos de equipamento (Foto:Divulgação/Forças Armadas Brasileiras)
Tenente Paula: haiti (Foto: Divulgação/Forças Armadas Brasileiras)
Tenente Paula Pacheco apoiando a patrulha noturna
(Foto: Divulgação/Forças Armadas Brasileiras)
O choque foi grande quando pisou em Porto Príncipe. Lá, o tenente Vinícius Murta precisa estar sempre alerta. É expediente de 24 horas por dia. No Brasil, serve, em Brasília, nos Dragões da Independência. Rotina amarrada, de 8h às 17h, de segunda a sexta. No Haiti, o tenente Murta acorda às 6h da manhã e, para começar o expediente, se equipa com capacete e colete balístico, totalizando 12 quilos, para enfrentar o dia. Está longe da calmaria do Brasil, já que pode ser acionado a qualquer hora do dia e da noite. Vinícius Murta tem 30 homens sob seu comando. E, divide o alojamento com outros 2 tenentes, em um quarto com geladeira e ar-condicionado. “A figura do fim de semana não existe e, quando estou de folga, arrumo o armário e lavo minhas roupas. Todo o dia é dia de trabalho”, explica. Mas não reclama. “Vim para o Haiti pelo orgulho de representar o Exército fora do país, e pela oportunidade de trocar experiências com militares de outros países”, esclarece. Apesar da rotina pesada, tensa e sem descanso, os militares brasileiros que partem voluntariamente para o Haiti saem o Brasil com o objetivo de ajudar o próximo, mas também para ganhar experiência profissional e participar de “missões reais”.
Major Serejo reconhecendo o terreno no Haiti antes de ir por seis meses (Foto: Divulgação/Forças Armadas Brasileiras)
Major Serejo reconhecendo o terreno no Haiti
(Foto: Divulgação/Forças Armadas Brasileiras)
A tenente Paula Gibim Pacheco, 25 anos, médica, ingressou no Exército em 2004, ano em que as Forças de Paz da ONU começam a atuar no Haiti. Em 2011, ela pode acompanhar os treinamentos dos companheiros que estavam na iminência de partir e ouvir relatos de quem voltava. Animou-se e decidiu se inscrever como voluntária. “Havia um certo grau de segurança para os médicos e vi que era uma oportunidade de conhecer a cultura haitiana. Como sou médica, sempre quis participar do Médico Sem Fronteiras e visitar locais onde pudesse ajudar. E o Exército possibilita isso também”, conta.
O treinamento não afugentou a médica. Muito pelo contrário. “São seis meses de treinamento e, no fim, três semanas intensas durante as quais não saíamos do quartel. É cansativo, mas a gente fica ainda mais animado. Dá até mais vontade de ir”, afirma.
Paula reconhece que é um trabalho duro. A vontade e a garra transformaram-se em realidade quando chegou no Haiti. “O que muda é que você percebe como demanda energia. Você vê uma população com infinitos problemas e se dá conta que a nossa contribuição é pequena. A gente não consegue resolver o problema do Haiti. Dá tristeza porque eles precisam de muito mais”, lamenta. Apesar do choque de realidade, Paula cogita em voltar. “Mas só com o namorado junto”, diz.

Capitão Barcelos: haiti (Foto: Divulgação/Forças Armadas Brasileiras)
Capitão Barcelos irá comandar uma companhia
multinacional durante sua estadia no Haiti
(Foto: Divulgação/Forças Armadas Brasileiras)
Expectativas de quem vai
O Major Serejo, 40 anos, vive exatamente esse período de expectativa. Deve partir em dezembro deste ano, mas, em setembro, passou um curto tempo no Haiti para fazer o reconhecimento do terreno. “Minha motivação foi a vontade de poder participar de uma missão de paz e o reconhecimento do Brasil como país que está à frente da missão”, conta.
Para o capitão Barcelos, 29 anos, não foi diferente. O desafio profissional e de ajudar pessoas em um país tão pobre o fez desejar sair do Brasil. No Haiti, ele irá comandar uma companhia com militares paraguaios, da Força Aérea e do Exército brasileiros. “Vamos fazer patrulhas ostensivas, fazer segurança de comboios e de autoridades, além do controle de tráfego de pessoas. Vai ser um desafio muito grande”, diz o capitão, que vai conduzir homens em uma missão real. "Sabemos que vamos encontrar dificuldades como diferença de valores, cultura diferente, riscos de uma missão real, além de dificuldades de comunicação. São barreiras, mas que de forma alguma vão nos impedir de fazer nosso trabalho", diz o otimista.
Parto nas ruas do Haiti (Foto: Divulgação/Forças Armadas Brasileiras)
Parto nas ruas do Haiti: lembrança marcante do
tenente-coronel Tibério (Foto: Divulgação/
Forças Armadas Brasileiras)
Quem volta, traz lembranças que marcam suas vidas. Foi o caso do tenente-coronel Tibério, que partiu para o Haiti no dia 6 de agosto de 2011 – dia do seu aniversário – e voltou no fim de abril de 2012. “Uma história me marcou muito. Estávamos fazendo o patrulhamento noturno, no Parc Jean Marie Vincent, com a polícia do Haiti. De repente, nos assustamos com uma movimentação estranha. Achávamos que era algum confronto. Quando chegamos perto, vimos que era uma mulher, deitada, que estava em trabalho de parto. Os soldados que faziam o patrulhamento acabaram ajudando no parto, junto com o médico”, relembra o tenente-coronel, que trabalhou na comunicação social.
Os militares que estão se preparando para encarar os desafios no Haiti recebem informações semanais sobre o campo e treinamentos que reproduzem as atividades no lugar. “Durante o treinamento, temos uma ideia geral do Haiti. Mas para conhecer, só pisando aqui. Nos primeiros meses de missão você fica impactado. O haitiano dorme no chão, numa casa feita de lona e as crianças brincam na rua, sem roupas. Você se comove com a pobreza. Falta saneamento e alaga tudo. É lixo na lama e a população dentro d'água”, descreve o tenente Murta.
Globo Ação/montedo.com

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