Gilada Shalit
"Tive medo que se esquecessem de mim"
O soldado israelita, Gilad Shalit, esteve 5 anos e 4 meses sequestrado por um comando palestiniano. Um ano depois de ter sido libertado, quebra o silêncio e fala dos dias de cativeiro.
Luís Manuel Cabral
O soldado israelita, Gilad Shalit, foi capturado a 25 de junho de 2006 junto à faixa de Gaza por um comando palestiniano e libertado em outubro de 2011. Um ano depois, Shalit quebrou o silêncio. "O segredo foi manter as rotinas, não ficar parado sem fazer nada e agarrar-me aos pequenos detalhes. De início foi muito duro, fazia sempre as mesmas coisas todos os dias: Acordava e deitava-me mais ou menos à mesma hora e tentava manter a noção do tempo, mas passado algum tempo já não fazia ideia de que dia era ou em que mês estava", diz.
Shalit afirma que o seu maior receio era que se esquecessem dele e que os seus captores acabassem por o fazer desaparecer. "Nessas alturas tentei ser optimista, agarrar-me a tudo o que pudesse para minorar o meu sofrimento e disfrutar das mais pequenas coisas que me fizessem esquecer a minha vida miserável. Televisão, rádio, comida razoável, algo para ler, etc". O israelita adianta que não sofreu torturas muito graves durante o cativeiro porque os seus raptores perceberam que "era mais valioso como moeda de troca do que para sacar informações". E a certa altura acabou até por criar uma certa comunicação com eles. "Lembro-me que uma vez vimos um jogo de futebol da Liga dos Campeões entre o Lyon e o Hapoel Tel Aviv e eles gritaram pelos golos do Hapoel dizendo que nunca tinham visto uma equipa israelita a jogar assim", conta.
Há um ano, revela, aquando da sua libertação, foi levado até à fronteira com o Egito escoltado por elementos do Hamas e quando chegaram a Rafah, ao ser entrevistado pela jornalista egípcia, Shahira Amin, Shalit destaca uma sensação que teve na altura à qual a maioria das pessoas não daria qualquer tipo de importância: "Aquela era a primeira mulher que via há cinco anos e meio".
"Quando regressei a IIsrael, perguntavam como é que um rapaz de 19 anos conseguiu sobreviver tanto tempo encarcerado sem dar em louco, passando dias inteiros sem dizer uma palavra", relata.
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Uma visita a Barcelona
"É um autêntico milagre que Gilad esteja são e com uma mente lúcida, após ter estado mais de cinco anos sequestrado debaixo da terra. Passou momentos muito difíceis, embora não o tenham torturado todos os dias", declarou ao jornal espanhol "El Mundo" Arik Hening, jornalista desportivo e amigo de Shalit.
Ambos escrevem uma coluna conjunta no diário israelita "Yediot Ajaranot" sobre vários temas desportivos, onde não poderia faltar, obviamente, o último clássico entre Barcelona e Real Madrid, que os levou a deslocarem-se a Camp Nou. "Foi espetacular, gostámos muito do jogo e sobretudo do ambiente que se viveu nas bancadas. A cidade é muito agradável e as pessoas são hospitaleiras, disse Hening.
Shalit que também se mostrou agradado por ter assistido à partida de futebol ao vivo, revelando, no entanto, que a "as ameaças de grupos propalestinianos de fazerem manifestações contra a minha presença no estádio, levaram a que elementos dos serviços de segurança me tivessem acompanhado durante toda estadia em Barcelona".
5 anos e 4 meses de cativeiro
Gilada Shalit ao ser libertado, ao lado do premiê de Israel, Benjamin Netanyahu e outras autoridades (AFP) |
Shalit tinha 19 anos quando foi capturado a 25 de junho de 2006 junto à faixa de Gaza por um comando palestiniano que integrava elementos de três grupos armados, incluindo o braço armado do movimento radical Hamas, as brigadas Ezzedine al-Qassam.
Israel decretou um bloqueio à faixa de Gaza, que reforçou um ano depois quando o Hamas assumiu o controlo do território ao afastar as forças da Fatah, o partido do presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmud Abbas.
A Cruz Vermelha nunca foi autorizada a visitar Shalit e foram muito raros os contactos deste com o exterior. A família recebeu uma terceira carta em junho de 2008 e em setembro de 2009 o Hamas divulgou um DVD que mostrava o soldado, em troca da libertação de perto de 20 palestinianas que estavam em prisões israelitas.
No outono de 2009, a libertação de Gilad Shalit parecia próxima, após negociações indiretas entre Israel e o Hamas, através do Egito e de um mediador alemão, que previam a troca do soldado por um milhar de presos palestinianos.
Mas as negociações fracassaram devido a desacordo quanto à identidade dos presos e ao local onde poderiam viver. Israel recusou libertar na Cisjordânia presos envolvidos em ataques.
Em 2010, a família de Shalit montou uma tenda junto à residência do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, em Jerusalém, num protesto que prometeu manter até à sua libertação.
No passado dia 12 de outubro de 2011, um dia depois de ter sido anunciado o acordo entre Israel e o Hamas para a libertação do seu filho Noam e Aviva Shalit deixaram o local do protesto para regressarem a casa, na cidade de Mitzpe Hila (norte).
DN GLOBO (PT)/montedo.com