4 de janeiro de 2013

Caixa-preta militar: morte de Chávez pode aflorar diferenças nas Forças Armadas da Venezuela

Divisões latentes nas Forças Armadas podem aflorar com saída de Chávez
Presidente é o fator que mantém unidas as alas ideológica, pragmática e institucionalista
David Fernández/Efe
EWALD SCHARFENBERG
CARACAS - A petroleira estatal PDVSA e as Forças Armadas são os pilares da revolução bolivariana desde que Hugo Chávez assumiu a Presidência da Venezuela, em 1999. Mas, enquanto a petroleira tem um rosto visível - o ministro de Petróleo e presidente corporativo, Rafael Ramírez -, da área militar só se sabe que é um arquipélago de alas agrupadas em torno de critérios de lealdade e liderança, de conveniência econômica e princípios profissionais e ideológicos.
Há um consenso de que todos esses grupos ficarão unidos se uma posse sem a presença de Hugo Chávez exceder as vias institucionais. Mas esse seria o último cenário. Em geral, os oficiais preferem evitar intervenções diretas.
Assim, os militares, nos bastidores, determinariam os limites de tolerância para desordem e indefinição. A proteção e a vigilância das Forças Armadas, em meio a uma transição constitucional, exigiriam um reordenamento interno para anular eventuais novos líderes. Mas quem seriam eles? O certo é que as facções mais inclinadas a representar a opinião militar durante a crise mantenham sua fidelidade ao processo bolivariano, pela convicção política ou por uma sujeição à linha constitucional. Ainda assim, é possível reconhecer nuances que diferenciam três grupos: os ideologizados, os pragmáticos e os institucionalistas.
Do primeiro grupo, o representante é o ministro da Defesa, almirante Diego Molero. Chávez, sabedor de seu estado de saúde, nomeou-o para o cargo em outubro, talvez por sua declarada convicção socialista. Algumas fontes dizem que a nomeação de Molero teve resistência nos quartéis. A doença de Chávez, no entanto, deixa o militar numa posição de fragilidade. O líder não teve a oportunidade de legitimar Molero entre seus pares, sobretudo no Exército, que rejeita um oficial da Marinha à frente da pasta.
Molero foi uma surpresa. Dois candidatos pareciam destinados a ocupar o ministério: o general do Exército Wilmer Barrientos, atual chefe do Comando Estratégico Operacional, e o general Carlos Alcalá Cordones, comandante-geral do Exército. Os dois foram ligados ao MBR 200, a ala interna que, em 1992, aflorou com a tentativa de golpe conduzida por Chávez e outros três comandantes. Mas, enquanto Alcalá Cordones se considera um institucionalista, apegado em última instância aos parâmetros de profissionalismo militar, Barrientos seria um pragmático, disposto a esperar com o objetivo de saber para que lado soprarão os ventos.
As virtudes de Alcalá Cordones contrastam com seu irmão, o também general Clíver Alcalá Cordones, comandante da IV Divisão Blindada, a mais poderosa do Exército. Clíver, que também teve postos de comando nos estados de Zulia e Carabobo, intervinha na política regional e foi acusado de corrupção e vínculos com o crime organizado, sendo incluído na lista de pessoas ligadas ao narcotráfico e ao terrorismo feita pelo Departamento do Tesouro dos EUA.
Também espera-se atuação dos 11 oficiais aposentados que foram eleitos governadores de estado. Além da influência de cada um, são considerados conhecedores dos meandros da política, bagagem que será crucial em algum cenário no qual sejam erguidas pontes entre civis e militares. Não se pode descartar que, na escuridão da caixa-preta militar, esteja germinando outra liderança política ainda desconhecida, como foi o próprio Chávez até a madrugada de 4 de fevereiro de 1992.
O Globo/montedo.com

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