À frente do Comando Militar do Leste, general Adriano Pereira Júnior analisa atuação do Exército no Alemão
MARIA MAZZEI
MARIA MAZZEI
À frente do Comando Militar do Leste desde maio, depois de ter chefiado a Força de Paz na Guatemala, o general Adriano Pereira Júnior, gaúcho de 62 anos, recebeu no último dia 25 a missão de gerenciar mais uma unidade de pacificação. Em menos de 12 horas, 800 homens do Exército já ocupavam os acessos do Alemão. “Foi como ser técnico de futebol. Deu muita vontade de entrar em campo. Dessa vez, a motivação era ainda maior. Era pelo meu País”.
Foto: Fernando Souza / Agência O Dia
O DIA: Quando a Força de Pacificação vai entrar nos complexos de favelas?
GAL. ADRIANO: Oficiais de Brasília com experiência no Haiti e o general Sardenberg (que comandará os militares) estão fazendo o planejamento, levantando e delimitando toda a área, inclusive subterrânea. A partir do dia 20, já estarei em condições de entrar. Mas antes a Secretaria de Segurança vai baixar uma diretriz com as funções de cada instituição.
Como será a nova fase de ocupação do Exército?
O Exército fará o patrulhamento ostensivo nos acessos e no interior. A PM fará varreduras atrás de armas, drogas e bandidos. E a Polícia Civil terá uma delegacia lá dentro para atuar como polícia judiciária. O objetivo é formar uma força única. Não haverá mais o caso de um batalhão ou de uma delegacia ir lá para cumprir mandado de prisão, por exemplo. Só quem vai atuar lá dentro são os militares e policiais da força. Recebi relatos de que havia muitas viaturas e policiais por lá nas últimas semanas. Isso não vai mais acontecer.
Existe algum controle para evitar excessos?
A estrutura de uma única força composta por policiais e militares é justamente para ter mais controle e evitar os excessos. Se acontecer, saberemos a quem responsabilizar. Não vamos admitir nenhum militar e nenhum policial podre na tropa. Com o controle, fica mais fácil responsabilizar, excluir e punir. Esse não é um projeto novo. Mas é inédito em um lugar de normalidade.
O senhor teme que os militares do Exército sejam contaminados pela corrupção de maus policiais?
Muita gente fala que quando você emprega uma tropa por muito tempo, ela se contamina. Digo que isso só acontece quando a tropa perde a motivação. Além disso, nossa forma de atuar é diferente da adotada pela PM, por exemplo. Se tiver três soldados em um ponto e mais três logo à frente, pode ter certeza que há um sargento coordenando. No Exército, o contato de comando é muito forte, o que dificulta os desvios. No entanto, dependendo do tempo de permanência, posso mudar a tropa. Tenho a 9ª Brigada de Infantaria Motorizada que pode substituir rapidamente a que está lá.
É verdade que militares que moram em áreas de risco foram ameaçados por traficantes?
Sim. Foram três ligações. Em nenhuma delas a nossa inteligência comprovou que pudessem passar de ameaças. Mesmo assim, tomamos providências e colocamos segurança velada para as famílias.
Qual é a diferença dessa ação para as outras que o Exército também participou em favelas, como a Providência, e a Operação Rio?
Dessa vez temos uma força que vai ficar. Em outras vezes, não havia um trabalho em conjunto. O sucesso dessa tomada territorial está sendo, justamente, a integração.
Enquanto centenas de policiais tentavam combater a onda de ataques, a cúpula da Segurança Pública se articulava para dar uma resposta. Como foram essa reuniões?
Na quinta-feira (25), em conversa com o general Enzo (comandante-geral do Exército), ele me falou da possibilidade de o Exército apoiar. Mandei imediatamente a tropa ficar a postos, mas ainda não sabia qual seria a missão. No mesmo dia, à noite, chegou no meu fax um documento do Ministro da Defesa dando a diretriz do que fariam Exército, Aeronáutica e Marinha. À meia-noite, estávamos reunidos com secretário de Segurança e com os comandantes da PM e do Bope. Ainda tinham muitas dúvidas se deveriam invadir o Alemão. E quando. Mas eu dei força para irmos em frente. Era questão de oportunidade e eles já tinham chegado até aquele ponto.
Qual é a diferença entre o Haiti e o Alemão?
O Haiti está sob as regras da ONU. Lá, o governo perdeu o controle, o País está em guerra. Aqui, não. Temos um governo constituído, os serviços estão chegando àquelas áreas e as pessoas continuam indo trabalhar e estudar. Numa guerra você emprega artilharia diferente. São rojões e morteiros. Ali no Alemão a situação é outra. O cenário até pode lembrar o de guerra por causa dos blindados, mas não é. Para você ter uma ideia, no dia da ocupação, não gastamos 300 munições.
Muito se especula quanto ao tempo em que o Exército ficará na ocupação. Há, de fato, uma data para sair?
O governador Sérgio Cabral mandou um ofício pedindo a permanência do Exército até 31 de outubro, quando o Estado terá condições de instalar as UPPs. Hoje temos 1.300 paraquedistas lá, e a diretriz estipulada pelo comandante-geral do Exército não tem data limite. O ministro da Defesa determinou que a cada 30 dias seja feita uma reavaliação. Podemos sair antes ou depois.
Foto: Fernando Souza / Agência O Dia
O DIA: Quando a Força de Pacificação vai entrar nos complexos de favelas?
GAL. ADRIANO: Oficiais de Brasília com experiência no Haiti e o general Sardenberg (que comandará os militares) estão fazendo o planejamento, levantando e delimitando toda a área, inclusive subterrânea. A partir do dia 20, já estarei em condições de entrar. Mas antes a Secretaria de Segurança vai baixar uma diretriz com as funções de cada instituição.
Como será a nova fase de ocupação do Exército?
O Exército fará o patrulhamento ostensivo nos acessos e no interior. A PM fará varreduras atrás de armas, drogas e bandidos. E a Polícia Civil terá uma delegacia lá dentro para atuar como polícia judiciária. O objetivo é formar uma força única. Não haverá mais o caso de um batalhão ou de uma delegacia ir lá para cumprir mandado de prisão, por exemplo. Só quem vai atuar lá dentro são os militares e policiais da força. Recebi relatos de que havia muitas viaturas e policiais por lá nas últimas semanas. Isso não vai mais acontecer.
Existe algum controle para evitar excessos?
A estrutura de uma única força composta por policiais e militares é justamente para ter mais controle e evitar os excessos. Se acontecer, saberemos a quem responsabilizar. Não vamos admitir nenhum militar e nenhum policial podre na tropa. Com o controle, fica mais fácil responsabilizar, excluir e punir. Esse não é um projeto novo. Mas é inédito em um lugar de normalidade.
O senhor teme que os militares do Exército sejam contaminados pela corrupção de maus policiais?
Muita gente fala que quando você emprega uma tropa por muito tempo, ela se contamina. Digo que isso só acontece quando a tropa perde a motivação. Além disso, nossa forma de atuar é diferente da adotada pela PM, por exemplo. Se tiver três soldados em um ponto e mais três logo à frente, pode ter certeza que há um sargento coordenando. No Exército, o contato de comando é muito forte, o que dificulta os desvios. No entanto, dependendo do tempo de permanência, posso mudar a tropa. Tenho a 9ª Brigada de Infantaria Motorizada que pode substituir rapidamente a que está lá.
É verdade que militares que moram em áreas de risco foram ameaçados por traficantes?
Sim. Foram três ligações. Em nenhuma delas a nossa inteligência comprovou que pudessem passar de ameaças. Mesmo assim, tomamos providências e colocamos segurança velada para as famílias.
Qual é a diferença dessa ação para as outras que o Exército também participou em favelas, como a Providência, e a Operação Rio?
Dessa vez temos uma força que vai ficar. Em outras vezes, não havia um trabalho em conjunto. O sucesso dessa tomada territorial está sendo, justamente, a integração.
Enquanto centenas de policiais tentavam combater a onda de ataques, a cúpula da Segurança Pública se articulava para dar uma resposta. Como foram essa reuniões?
Na quinta-feira (25), em conversa com o general Enzo (comandante-geral do Exército), ele me falou da possibilidade de o Exército apoiar. Mandei imediatamente a tropa ficar a postos, mas ainda não sabia qual seria a missão. No mesmo dia, à noite, chegou no meu fax um documento do Ministro da Defesa dando a diretriz do que fariam Exército, Aeronáutica e Marinha. À meia-noite, estávamos reunidos com secretário de Segurança e com os comandantes da PM e do Bope. Ainda tinham muitas dúvidas se deveriam invadir o Alemão. E quando. Mas eu dei força para irmos em frente. Era questão de oportunidade e eles já tinham chegado até aquele ponto.
Qual é a diferença entre o Haiti e o Alemão?
O Haiti está sob as regras da ONU. Lá, o governo perdeu o controle, o País está em guerra. Aqui, não. Temos um governo constituído, os serviços estão chegando àquelas áreas e as pessoas continuam indo trabalhar e estudar. Numa guerra você emprega artilharia diferente. São rojões e morteiros. Ali no Alemão a situação é outra. O cenário até pode lembrar o de guerra por causa dos blindados, mas não é. Para você ter uma ideia, no dia da ocupação, não gastamos 300 munições.
Muito se especula quanto ao tempo em que o Exército ficará na ocupação. Há, de fato, uma data para sair?
O governador Sérgio Cabral mandou um ofício pedindo a permanência do Exército até 31 de outubro, quando o Estado terá condições de instalar as UPPs. Hoje temos 1.300 paraquedistas lá, e a diretriz estipulada pelo comandante-geral do Exército não tem data limite. O ministro da Defesa determinou que a cada 30 dias seja feita uma reavaliação. Podemos sair antes ou depois.