1 de outubro de 2012

Milicos ianques no São Francisco: ao estilo Lula, general Enzo diz que não sabia de nada.

Congresso questiona Dilma sobre contrato com Exército dos EUA
G1 divulgou que Brasil pagará para engenheiros estudarem São Francisco.
Comissão de Defesa vê risco a dados secretos; Planalto analisa o caso.

codevasf usace (Foto: Codevasf/Divulgação)
Engenheiros civis do Exército dos EUA analisam o 
Rio São Francisco (Foto: Codevasf/Divulgação)
Tahiane Stochero
A Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Congresso enviou um requerimento à Presidência manifestando preocupação em relação à soberania nacional no contrato firmado entre o governo e o Corpo de Engenheiros do Exército dos Estados Unidos (Usace) e pedindo a intervenção de Dilma Rousseff no caso.
Em julho, o G1 divulgou que a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), órgão subordinado ao Ministério da Integração, contratou engenheiros civis do Exército dos EUA para estudar formas de tornar o Rio São Francisco navegável.
A parceria entre a Usace e a Codevasf, de R$ 7,8 milhões (US$ 3,84 milhões), foi assinada em dezembro de 2011 e, em março de 2012, os primeiros engenheiros do Exército norte-americano chegaram ao país.
No requerimento enviado a Dilma na quinta-feira (27), a presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, deputada Perpétua Almeida, afirma ver riscos de vazamento de informações estratégicas para o país, por entender que militares americanos poderão ter acesso dados secretos, como localização das riquezas minerais e reservas de urânio.
Trata de uma tropa estrangeira em território nacional sem o consentimento do governo ou autorização do Congresso e, o mais preocupante, os militares norte-americanos poderão ter acesso a informações estratégicas sobre as riquezas minerais do país
Perpétua, presidente da Comissão de Defesa
Ela pede a que as Forças Armadas brasileiras e as universidades acompanhem o trabalho dos engenheiros norte-americanos, "de forma a resguardar e salvaguardar as informações de segurança nacional".
“Além do requerimento enviado a Dilma, estou enviando também ofícios solicitando maiores informações aos ministérios de Relações Exteriores, Defesa e Integração sobre o caso, avisando da preocupação dos parlamentares com o fato. Quero saber por que eles não interferiram na questão", afirma Perpétua.
"Se temos tropas brasileiras que podem fazer este projeto, por que contratar militares dos Estados Unidos?”, questiona ela.
Procurada, a assessoria da Presidência respondeu que recebeu o ofício e que o caso será analisado e o questionamento repassado ao Ministério da Integração. O Ministério de Relações Exteriores confirmou que também recebeu o requerimento e que analisa a situação. O Ministério da Defesa disse que não recebeu o documento e o da Integração, não se posicionou.
A missão dos engenheiros do Exército dos EUA no Brasil é apresentar projetos de dragagem, geotecnia e controle de erosão e estabilização das margens do São Francisco. O rio atravessa os estados de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco e serve de divisa natural entre Sergipe e Alagoas até desaguar no Oceano Atlântico. Um projeto do Ministério da Integração busca transpor parte das águas do rio para aproveitá-lo também para irrigação no Ceará e Rio Grande do Norte, servindo de eixo de ligação do Sudeste e do Centro-Oeste com o Nordeste do país.
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Parceria com universidades
A deputada Perpétua Almeida diz ter encontrado, na semana passada, o comandante do Exército, Enzo Martins Peri, que lhe afirmou que não tinha dados sobre a atuação dos militares norte-americanos no Brasil. "Ele falou que não sabe, não foi consultado, e que as únicas coisas que sabia, tinha lido na imprensa", afirma Perpétua.
À Presidência, a parlamentar lembrou que o ingresso da força militar no país ocorreu "sem consentimento do governo federal ou autorização do Congresso" e que isso "não foi discutido com o Exército Brasileiro, apesar da excelência dos seus batalhões de Engenharia para prestar o mesmo tipo de trabalho".
O texto da Comissão de Relações Exteriores e Defesa enviado a Dilma lembra ainda que "instituições militares, como o Instituto Militar de Engenharia (IME) e o Instituto de Pesquisas da Marinha, além de universidades federais, possuem profissionais aptos a elaborar os mesmos projetos e dar a consultoria necessária à Codevasf com economia de recursos e controle das informações estratégicas no Brasil, afastando eventuais riscos à Segurança Nacional".

Exército sabia, diz Codevasf
Em julho, o gerente de projetos da Codevasf, Roberto Strazer, disse ao G1 não ver riscos à segurança nacional em trabalhar com o Exército norte-americano.
O órgão informou que o Exército brasileiro tinha conhecimento do acordo desde que as negociações começaram, em 2008, e que houve reuniões com a presença de representantes da Diretoria de Obras e Cooperação do Exército para tratar da questão. A Codevasf diz que, em dezembro de 2011, enviou um ofício ao general que comandava a diretoria comunicando do acordo com o Exército dos EUA. Em junho deste ano, um relatório das atividades foi enviado ao Estado-Maior Conjunto do Ministério da Defesa.
Por meio da assessoria de imprensa, o Exército confirmou que militares brasileiros já visitaram a sede do Usace, nos EUA, e que engenheiros militares brasileiros estão próximos à área onde os americanos estão trabalhando no São Francisco.
Em junho, o Exército afirmou ao G1 que não vislumbrava riscos no caso. A Força não confirmou o encontro do general Enzo com Perpétua.
G1/montedo.com

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