Pio Penna Filho*
"Os defensores do corte do orçamento da Defesa dizem que não existem ameaças
ao Brasil e que tanto faz termos ou não Forças Armadas.
Ora, esse tipo de pensamento é de uma miopia gritante, que beira a cegueira."
O Ministério da Defesa foi o segundo mais atingido pelo novo corte de despesas anunciado no começo dessa semana pelo governo federal. Pelo que foi dito, serão 919 milhões de reais a menos para um orçamento que já é insuficiente para as demandas da área da defesa do Brasil.
Chega a ser escandalosa a forma como sucessivos governos vem tratando o assunto da segurança nacional. Parece que nenhum deles, pelo menos desde o início da década de 1990, tem consciência de como a falta de investimentos nesse setor acarreta prejuízos de difícil e longa recuperação. Está aí a novela da compra de aeronaves de combate para provar como não há seriedade nesse assunto.
Enquanto milhões de reais somem pelo ralo da corrupção e muito dinheiro é enterrado em projetos e obras que nunca são concluídas (aparentemente de propósito) e valores absurdos são pagos em nome de uma dívida que ninguém que está no poder quer auditar, as Forças Armadas ficam à míngua, quase inoperantes e levando uma vida do tipo para “inglês ver”.
E é esse país que deseja, pelo menos no discurso, uma cadeira como membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Ora, tratar a Defesa e, consequentemente, as Forças Armadas dessa maneira é dar um tiro no próprio pé. Enfim, não é uma atitude nada inteligente.
O Brasil não é um país pobre. Existem recursos, mas alguns gastos públicos beiram à irracionalidade e existe o costumeiro desperdício em nome de inúmeros privilégios aos donos do poder. A título de exemplo estão aí os escândalos da utilização de aeronaves da Força Aérea Brasileira por políticos e o execrável aparelhamento do Estado por uma coligação de partidos políticos que até outro dia se diziam de “esquerda”.
Os defensores do corte do orçamento da Defesa dizem que não existem ameaças ao Brasil e que tanto faz termos ou não Forças Armadas. Ora, esse tipo de pensamento é de uma miopia gritante, que beira a cegueira. As Forças Armadas não são um luxo, mas uma necessidade para um país da dimensão do Brasil. E as ameaças existem, sim. Vivemos num mundo em que os conflitos persistem e os grandes impõe a sua vontade pela força. Sem uma capacidade mínima de dissuasão, o país fica vulnerável e à mercê da vontade e dos interesses externos.
O pior de tudo é que o comportamento dos políticos e dos partidos brasileiros nos últimos anos tem demonstrado grande desinteresse e enorme falta de sensibilidade para um tema tão importante. Entra governo, sai governo e quase nada muda. Parece que esse quadro só mudará quando a sociedade estiver mais consciente da importância de termos Forças Armadas mais modernas, bem equipadas e treinadas. E para tudo isso é preciso dinheiro.
Em síntese, não existe uma cultura política voltada para a Defesa no nosso país e isso, pelo visto, ainda se arrastará por algum tempo. Por enquanto, temos que contar mesmo é com a sorte e com a determinação dos militares em atuar com os escassos recursos à sua disposição.
* Ph D, professor da UnB