Exército usa tecnologia do século XIX na fronteira
Sérgio Barreto Motta
O ex-comandante militar da Amazônia general Augusto Heleno, que provocou a ira de Lula ao criticar a política indigenista, voltou ao programa Canal Livre, da Band TV. E novamente atacou a ação do governo. "Eu e meus colegas da Marinha e Aeronáutica conhecemos de perto os índios. Eles querem energia elétrica, saúde, higiene e todos os confortos da sociedade, pois vivem um martírio. As pessoas e organizações que defendem o isolamento dos índios não se baseiam na realidade, mas em dogmas políticos." O general Heleno, que acaba de passar para a reserva, não sem antes ter sido transferido para atividades burocráticas em Brasília, afirmou que as fronteiras terrestres brasileiras, de mais de 11 mil km, são fonte de preocupação. Revelou que maior controle só pode ser feito com mais tecnologia, pois a presença física, embora essencial, não permite a fiscalização de toda a área. Elogiou o anúncio do Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron), com previsão de R$ 10 bilhões, mas destacou que só estará pronto em 2019 - se não houver corte de gastos. Lamentou que, mês a mês, a cúpula do Exército tenha de se desgastar para evitar cortes mais profundos nos orçamentos para a pasta.
- Hoje, há como se usar veículos não tripulados por toda parte e controlar a comunicação por rádio e telefone na região. Mas isso exige recursos, e o Exército usa, na Amazônia, tecnologia do século XIX.
Lembrou que os países que vendem armas e aviões prometem transferência de tecnologia, mas dificilmente cumprem a palavra. E citou que, para reter tecnologia, o Brasil precisa ter gente capacitada. Citou ser comum profissionais da elite do Instituto Militar de Engenharia (IME) trocarem seu posto pelo cargo de fiscal de ICMS ou do INSS, funções menos estratégicas, mas de melhor remuneração. Afirmou que, nas fronteiras de selva, a preocupação maior é com invasões e manutenção da soberania. A entrada de armas se dá pelas fronteiras com Paraguai, por exemplo. Curiosamente, diz que na fronteira com a Colômbia ocorre saída de armas, pois membros das Farc, eventualmente, trazem cocaína e levam armas de volta para seu país.
Ao falar de estratégia global, comentou que invasões e ataques feitos por potências nucleares só têm se repetido porque os Estados Unidos não encontram rival bélico. "No tempo da guerra fria, quando a antiga União Soviética era potência de grande porte, essas invasões não ocorreriam, pelo menos com a facilidade de hoje em dia", disse.