Sargento tem orgulho da missão de paz
Em meio a aridez dos conflitos, um simples acessório é capaz de sinalizar a proximidade da paz. Fácil justificar o orgulho que leva no peito quem veste a boina azul e, imediatamente, assume sua missão. É o caso do sargento Ozeias Gomes Correia da 6.ª Circunscrição do Serviço Militar de Bauru (6 ª CSM). Para onde quer que vá e independentemente da data, carrega consigo todas as experiências que viveu ao cumprir missão de paz pela ONU, no Haiti.
Neste domingo comemora-se o Dia Internacional dos Mantenedores da Paz. Assim como os colegas, para tornar-se um Boina Azul, Correia passou por treinamento específico oferecido aos voluntários, com orientações sobre como atuar em local de guerra. Eles ajudam a aplicar os acordos de paz, fiscalizam o cessar fogo, patrulham zonas desmilitarizadas, criam zonas de separação entre forças em conflito e procuram suspender as lutas, enquanto os negociadores buscam uma solução pacífica para as controvérsias. Os soldados das forças de paz vestem seus próprios uniformes, identificando-se como integrantes das missões apenas pelas boinas azuis, um tipo de distintivo da ONU.
Com 46 anos e natural de Recife, Correia iniciou sua carreira no Exército Brasileiro em 3 de fevereiro de 1984. Em meados de março de 1986, quando atuava na 2.ª Região Militar (RM), na Capital paulista, foi promovido a cabo do Exército. Na seqüência veio a promoção para sargento. Integrou-se, então, voluntariamente aos “Boinas Azuis” que fazem parte das Missões de Paz da Organização das Nações Unidas (ONU). Chegou a Bauru em Julho de 2009 com uma bagagem diferenciada justamente pela experiência de participar de uma missão de paz.
Presenciou situações de tristeza e miséria, inesquecíveis. “Em vários momentos, as situações eram muito tristes. Os relatos daquelas crianças me faziam chorar. Sofriam com a falta de alimentos e a violência que devastava o local. Não tinham o que comer nem onde dormir. A gente ali lutava para que eles conseguissem de volta a paz merecida”, diz o sargento.
O contexto
O Conselho de Segurança da ONU autorizou o envio de força militar na missão de paz para garantir a estabilidade no país após a queda do ex-presidente Jean Bertrand Aristide. Durante esta primeira etapa da atuação dos brasileiros, a missão da ONU buscou consolidar um efetivo que substituísse a Força Multilateral Interina (MIF), formada por Estados Unidos, Canadá, França e Chile.
Sob o comando inicial do general brasileiro Augusto Heleno, a missão no Haiti enfrentou um quadro incompleto de militares previstos pela ONU.
Isso dificultava a atuação nas áreas mais críticas do país, onde gangues, rebeldes e grupos armados mantinham conflitos permanentes com civis e com a Polícia Nacional haitiana.
Na época, a morte dos dois soldados da Minustah fizeram as primeiras baixas desde que as tropas foram enviadas. Os conflitos entre os grupos armados e a Polícia Nacional eram constantes.
O governo brasileiro fez atuações junto ao Conselho de Segurança da ONU para aumentar o efetivo militar no Haiti. Também fez pedidos de ajuda internacional para projetos de infra-estrutura, cooperação internacional e visitas do próprio ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, para avaliar a situação política pré-eleitoral no país.
Primeiros resultados
Segundo informações pesquisadas pela reportagem do JC, nessa época entre 2004 e 2008. o Exército Brasileiro passou a ser uma das principais fontes de confiança dos haitianos, em conseqüência do trabalho pacificador realizado em Cite Solei, uma das regiões mais pobres e violentas do país.
O restabelecimento da paz no bairro de 300 mil habitantes na capital haitiana, Porto Príncipe, foi consolidado exatamente quatro anos após a queda do ex-presidente Jean-Bertrand Aristide, deposto em 29 de fevereiro de 2004 em uma onda de violência que varreu o país.
Reduto de grupos armados que lutavam pela volta de Aristide, Cite Solei foi alvo de uma série de operações comandadas pelo Brasil no início de 2007, prendendo ou matando mais de 500 criminosos. Em janeiro de 2008, a organização de ajuda humanitária Médica Sem Fronteiras deixou Cite Solei, anunciando que ali não era mais “região de conflito” e que havia seis meses que não atendia feridos por tiros em seu hospital.
Entre os de 1.300 soldados brasileiros que participava do efetivo enviado ao Haiti, estava o sargento Correia, ajudando na missão de paz.
“Tínhamos o dever de saber se as ações estavam surtindo efeito, aconteceram momentos em que mesmo com os uniformes, éramos alvejados por haitianos que não aceitavam a missão de paz. O povo não tinha nada, mas existiam armas e fuzis por toda a parte. É claro que aí vinham a miséria, a fome e o sofrimento daquele povo, e nós estávamos ali voluntariamente para garantir que a paz voltasse a existir, pelo menos com relação aos ataques”, conclui Correia.
JCNET