Ocupar morros, emprestar blindados e patrulhar nas greves de policiais são parte de uma escalada arriscada, um jogo de tudo ou nada. Pode funcionar, mas também pode trazer para as nossas Forças Armadas o problema vivido no México: corrupção e politização.
Osmar José de Barros Ribeiro
Sob esse título, o jornal Estado de S. Paulo (27 de maio de 2012, caderno J3), publica artigo de Guaracy Mingardi, cientista político e pesquisador, no qual o autor trata do emprego do Exército mexicano no combate ao tráfico de drogas, particularmente ao longo da fronteira com os Estados Unidos.
No artigo em questão, como subtítulo, o autor assinala que uma violenta máfia mexicana formada por ex-soldados do Exército serve de alerta para a política de segurança do Brasil.
Ao longo do texto são feitas afirmações tais como: devido a sua formação, os Zetas são muito organizados e violentos (trata-se da quadrilha formada por ex-militares); os desertores foram seduzidos por salários muito superiores aos do Exército mexicano; o Exército foi chamado não para realizar ações pontuais, mas para se incorporar ao dia a dia do combate ao tráfico.
O autor assinala ainda que os cartéis... corrompem o aparelho repressivo do governo, com presença cada vez maior nas Forças Armadas; na última semana, três generais mexicanos foram presos, acusados de vínculo com o tráfico de drogas; oficiais estão presos por causa do uso do Exército numa atividade eminentemente policial.
Esclarece que... chamar o Exército foi uma tentativa de mostrar serviço, resolver o problema de uma só vez. Magia não existe em segurança pública. É o alerta que fica para o Brasil.
E finaliza: estamos aos poucos envolvendo as Forças Armadas na luta contra o tráfico. Todo dia alguém pede a entrada do Exército e setores do Estado se mostram cada vez mais sensíveis à tese. Ocupar morros, emprestar blindados e patrulhar nas greves de policiais são parte de uma escalada arriscada, um jogo de tudo ou nada. Pode funcionar, mas também pode trazer para as nossas Forças Armadas o problema vivido no México: corrupção e politização.
A subordinação do emprego das Forças Armadas aos interesses e conveniências políticas tal qual na última greve da PM baiana, quando caberia perfeitamente a intervenção federal no Estado, vai se tornando fato corriqueiro. E não se diga que ações como as citadas pelo articulista são exceções. Já se fala no emprego do Exército, pasmem, na segurança do campus da USP; em Cuiabá, o Ministério Público reivindicou o emprego de tropa no combate à dengue, e por aí vai a coisa.
Longe o tempo em que, nos casos de perturbação da ordem pública, a simples presença de qualquer das Forças Armadas era garantia de que a ordem seria imposta, se preciso fosse, a ferro e fogo. Hoje, como se viu recentemente no motim havido na Bahia, nome certo para a greve de policiais militares, o general comandante da operação confraternizou com os amotinados, numa total inversão de valores.
Assim, sob governos socialistas que vêm enfrentando acusações de corrupção em todos os setores e níveis, cujos princípios éticos são altamente discutíveis e que, sem sombra de dúvida, buscam eternizar-se no poder, as Forças Armadas correm o risco de serem transformadas em órgãos do Governo e não do Estado.
Os indícios apontam para a transmutação das Forças Armadas, muito particularmente do Exército, em milícia. Seriam guardados alguns núcleos de excelência tais como a tropa paraquedista, unidades de selva e algumas outras destinadas ao emprego em missões de paz sob a égide da ONU. O restante da Força estaria liberado para atuar como agentes de saúde, na guarda de fronteiras, na defesa do meio ambiente, no combate ao tráfico de drogas, etc.O resultado final não aponta para o sucesso e sim para o desastre.