Paulo Chagas*
Caros amigos
Há tempos contaram-me o caso de um impasse entre as alegações de defesa e de acusação ocorrida no julgamento de um homem a quem era atribuído um crime muito grave.
O Juiz, sábio e experiente, mandou conduzir o réu a seu gabinete para uma entrevista pessoal.
Entre perguntas simples e objetivas sobre as acusações que eram feitas ao homem, o magistrado ofereceu-lhe um charuto, o que, prontamente e de bom grado, ele aceitou.
O Juiz, diz a história, deu por encerrada a entrevista e, voltando à Sala do Júri, condenou o acusado!
Este fato obviamente é ficção, mas serve ao objetivo de caracterizar a análise do comportamento humano.
Na oportunidade em que o criminoso, na condição de réu e sob a pressão de graves acusações, alegadamente falsas, aceita de bom grado a gentileza do principal agente do processo, evidencia-se a falha e o indício de fraude na argumentação da defesa.
Um homem honrado e honesto, quando injustiçado, difamado, caluniado e ameaçado em seus direitos não tem outra reação, outra atitude, que não a indignação e, diante desta, não confraterniza com quem o julga, acusa ou dele duvida, pois está diante da ameaça a um valor maior que a liberdade ou que a própria vida!
Não sou réu de qualquer acusação, mas faço parte do Exército Brasileiro, uma instituição acusada injustamente de truculência, tortura e desrespeito aos direitos humanos, agredida em sua dignidade com o inconfessável objetivo de desdourar sua imagem diante dos jurados, a opinião pública, e de intimidar qualquer iniciativa sua em defesa da liberdade da nação a que serve!
A aceitação passiva dessas acusações, que não visam, absolutamente, aos militares seguidamente nominados e execrados, pública e judicialmente, pelos adversários derrotados, hoje no papel de acusadores e caluniadores, é, para os jurados do tribunal popular, nada mais nem nada menos do que uma clara admissão de culpa!
A falácia acusatória e a inversão de valores permitida pela aparente indiferença institucional é que encorajaram até um Ministro de Estado (da Justiça!) a faltar com a verdade e transpor de um lado para outro os objetivos estratégicos do conflito armado que, nos anos 60/70, sangrou irmãos brasileiros, chamando de democratas os que contra a liberdade pegaram em armas e de ditadores os que as usaram para defendê-la!
Diante dos “Juízes” da Comissão da Verdade e do “Corpo de Jurados” da Nação, a ausência de uma manifestação de repúdio à alegação de que excessos e arbitrariedades tenham sido cometidos de forma sistemática, generalizada e institucionalizada; a convivência complacente e cordial, não apenas profissional, com os acusadores; a troca de gentilezas, mesmo que efêmeras e formais; a crença em promessas vazias; a aceitação de falsos afagos e de migalhas orçamentárias sem, nem mesmo, o reconhecimento do valor do trabalho pela justa remuneração; antecipam o veredicto de culpado!
Este alerta para o equivoco da postura passiva, feito com espírito construtivo, visa a chamar a atenção, a convidar para a meditação e a contribuir para as mudanças de atitudes que vejo necessárias, respeitando e prestigiando os que ainda detêm o Bastão de Comando.
Advogo por uma manifestação de repulsa, protesto e de indignação, não prego a rebelião, a quebra da disciplina ou o desrespeito às autoridades constituídas ou às decisões do Comandante, cuja postura reflete e representa, sempre, como aprendemos, sabemos e acreditamos, a posição e os interesses da Força e não os seus próprios, pessoais!
As instituições, assim como os homens, vítimas de injustiça e injúria, podem e devem conviver em harmonia com quem as julga ou acusa, mas não podem nem devem com eles confraternizar e têm a obrigação de manifestar-se com veemência em defesa da verdade e da sua dignidade, sob pena de serem condenadas, antes mesmo de serem julgadas...
No livro “INDIGNAI-VOS!”, Stéphane Hessel nos ensina que a pior das atitudes é a indiferença; quando a sociedade, ou uma instituição, assim se comporta, perde o engajamento e a capacidade de se indignar.
*Gen Bda R/1