2 de maio de 2012

Meninas-soldado: a verdadeira criança invisível


Maaike van Breevoort
A condição das crianças-soldado na África foi manchete nas últimas semanas, primeiro com o vídeo ‘Kony 2012’, do grupo Invisible Children e depois com a condenação do ex-presidente da Libéria, Charles Taylor por auxiliar no recrutamento de crianças-soldado. Mas pouco se fala da quantidade de meninas nesses exércitos.
As notícias sobre crianças-soldado geralmente usam imagens de garotos portando armas, mas aproximadamente metade de todas as crianças associadas aos grupos armados são meninas, de acordo com um relatório da organização Save the Children de 2005.
A atual discussão na mídia sobre crianças-soldado inclui, na maioria das vezes, referências aos meninos. Mas muitas garotas ainda estão ativamente engajadas no combate. Meninas-soldado costumam esconder seu passado por medo de serem estigmatizadas. Para agravar o problema, a comunidade internacional subestima o papel delas nos conflitos, o que dificulta sua integração.

Desenvolvimentos legais
Recentemente, a questão das crianças-soldado tem recebido mais atenção. Na quinta-feira passada, 26 de abril, Charles Taylor foi condenado pelo Tribunal Especial para a Serra Leoa por auxiliar e instigar assassinatos e violentos abusos sexuais usando crianças-soldado.
Esse tribunal é pioneiro em julgar os responsáveis pelo recrutamento de crianças-soldado e casamentos forçados. Mas apesar dos significantes desenvolvimentos legais nessa área, muitas garotas nas forças armadas continuam invisíveis e marginalizadas.
Mas não deveria ser assim. A definição geralmente aceita para crianças-soldado, incluída nos Princípios da Cidade do Cabo, não foca exclusivamente em crianças portando armas. Garotas recrutadas para exploração sexual também são incluídas nesta definição.

Estigmatização
Meninas-soldado seguem reintegração específica em Serra Leoa: “Muitas delas foram usadas como escravas sexuais e como esposas dos comandantes, e os comandantes nunca querem que elas sigam esse tipo de programa porque isso significa deixá-las partir”, afirma o especialista em proteção infantil da Unicef em Serra Leoa, David Lamin.
As garotas tentam evitar estigmatização em suas comunidades, escondendo seu passado. A exploração sexual de meninas é com frequência vista como imoral e suja pelos membros da comunidade.
“Muitas delas temem que sofrerão muitos estigmas. Elas têm medo e não querem que as pessoas saibam sobre seu passado”, afirma Lamin.
Garotos com mãos amputadas têm melhores chances de serem reaceitos na comunidade do que meninas que foram sexualmente vitimizadas nas forças armadas, de acordo com o relatório 'Onde estão as garotas?', escrito por Susan McKay e Dyan Mazuara da Universidade de Tufts.

Reintegração
Programas de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR) em Serra Leoa, implementados por atores nacionais e internacionais, não são criados tendo as meninas em mente. Os programas tratam, com frequência, das crianças-soldado que portam armas, excluindo aquelas que não o fazem.
“No final do desarmamento e desmobilização, 6845 crianças foram atendidas, sendo que 547 eram garotas. Um enorme número de meninas foi abandonado e elas não seguiram os programas de DDR”, diz Lamin. Como consequência, dizem os observadores, muitas delas acabam virando trabalhadoras do sexo.

Foco especial nas garotas
Depois que os programas de DDR falharam em responder adequadamente às necessidades das garotas, programas comunitários especiais foram implementados pela UNICEF. Ainda que as meninas-soldado enfrentem numerosos problemas, as necessidades delas são frequentemente negligenciadas.
Rádio Nederland/montedo.com

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