17 de maio de 2012

Tensão no Haiti: ex-militares ameaçam o governo

Ex-militares ameaçam governo do Haiti
Soldados do antigo Exército do Haiti voltaram a se mobilizar e, armados, ameaçam o governo do presidente Michel Martelly.

Renato Machado
Os integrantes da extinta FAd'H (Forças Armadas do Haiti) reivindicam a volta das forças militares, pensões e a retirada da Minustah - missão de paz da ONU comandada militarmente pelo Brasil.
Por conta dessa situação, a Minustah começou na última semana ações para reprimir a circulação de pessoas com armas ilegais.
O Exército foi extinto em 1995 pelo então presidente Jean-Bertrand Aristide, para tentar evitar a repetição dos frequentes golpes militares.
Desde então, ex-militares intercalam momentos de maior e menor mobilização. Ironicamente, em 2004 participaram da derrubada do próprio Aristide, que havia voltado ao poder.
Eles agora ocupam bases abandonadas do antigo Exército. Afirmam contar com 15 mil homens e deram um prazo até amanhã para que Martelly atenda suas reivindicações. Do contrário, prometem tomar ações contra o governo e combater a Minustah.
"Somos todos militares. E vocês sabem do que os militares são capazes", disse à Folha o ex-sargento Larose Aubin, um dos líderes. Ele não fala quantas armas o grupo possui, mas afirma que os soldados estão prontos para enfrentar a força da ONU.
A Folha esteve na semana passada na antiga unidade da FAd'H de Camp Lamantin, periferia da capital, Porto Príncipe. O local é o quartel-general do grupo.

AÇÃO CONTRA ARMAS
O grande espaço está com vegetação alta e ruínas de antigas instalações.
Os paramilitares ocupam barracas espalhadas pelo local, onde circulam também cabras e galinhas. Logo na entrada, cinco integrantes fazem a segurança com armas calibre 12.
Os paramilitares uniformizados treinam corrida, sobem em cordas e fazem trabalhos de estratégia militar, simulando invasões e confrontos.
Há muitos jovens no grupo. "São filhos de militares ou amigos, pessoas que não concordam com a Minustah e se juntaram a nós", disse o ex-sargento Chery Samson.
Para conter a ameaça, a Minustah começou há uma semana junto com a PNH (Polícia Nacional do Haiti) uma grande ação para retirar armas ilegais de circulação. Duas pessoas foram presas.
A Minustah evita caracterizar as ações como operação contra os paramilitares. "A novidade é que há agora uma busca específica por armas ilegais", disse o porta-voz da parte militar da missão, o americano Jim Hoeft.
Ele acrescenta que a questão dos paramilitares diz respeito ao governo do Haiti e que a missão está apenas auxiliando a PNH. "Se precisarem da nossa ajuda, estamos prontos."

Grupo invadiu sessão da Câmara e, do lado de fora, deu tiros ao alto
Embora fiquem na maior parte do tempo dentro das antigas bases, os paramilitares já deram duas demonstrações de força recentemente, ocupando um prédio do governo e ameaçando deputados.
Eles invadiram armados uma sessão da Câmara em 17 de abril, no dia em que seria analisada a indicação de Laurent Lamothe como premiê. Do lado de fora, diversos tiros ao alto foram disparados.
O grupo queria pressionar os deputados pela ratificação do indicado do presidente Michel Martelly para a vaga de premiê e pela reorganização das Forças Armadas.
Em entrevista a uma rádio local, o senador de oposição Andrice Riché acusou o governo, dizendo que "nenhuma força paramilitar poderia existir sem a cumplicidade dos que estão no poder".
Em março, os paramilitares já haviam invadido um prédio do Ministério da Agricultura em Cap Haitien, a segunda maior cidade do país, localizada no norte. Os ex-soldados permanecem lá.
Além disso, o grupo afirma dominar 200 bases ou postos militares, onde treinam os supostos 15 mil homens que controlam. A Minustah mantém hoje no país 7.340 militares, e a PNH (Polícia Nacional do Haiti) conta com um contingente de 10,6 mil.
Embora evitem comentar publicamente, as autoridades haitianas consideram que os números dos paramilitares são superestimados. Independentemente disso, a ameaça contribuiu para tumultuar um início de ano já complicado para o Haiti.
No mês passado, a polícia fez greve por alguns dias após o assassinato do policial Walky Calixte - um deputado, Rodriguez Sejour, foi acusado de ser o mandante, o que ele nega. Tropas da Minustah precisaram cobrir a ausência dos policiais.

Primeiro-ministro haitiano diz ter plano contra os rebelados
O primeiro-ministro do Haiti, Laurent Lamothe, diz que o governo pretende expulsar em breve os ex-militares das bases que ocupam.
Quando o país estará preparado para a saída da Minustah?
O Haiti trabalha neste momento com uma comissão que vai detalhar as questões iniciais para uma nova força pública de segurança. Quando essa força estiver preparada, eu diria que entre os próximos 24 e 36 meses, estaríamos prontos para uma retirada parcial das forças estrangeiras.

O Brasil já iniciou a redução de suas tropas. Qual a posição do governo sobre isso?
Nós encorajamos todos os países a seguirem o curso, trabalharem conosco e, quando nós estivermos prontos, nós iremos comunicar isso à ONU. Eu não faria prematuramente, porque pode haver uma desestabilização política do país.

Qual a posição do governo em relação aos ex-soldados que estão voltando a se reunir armados para pressionar o governo?
Trabalhamos em um plano para expulsá-los [das bases militares que ocuparam] assim que for possível, com as forças da ONU e a polícia.

O sr. é contrário ao projeto da usina de Artibonite [com apoio do Brasil]?
O custo do projeto é de US$ 192 milhões. O Brasil deu US$ 40 milhões e o BID, outros US$ 30 milhões, o que dá um total de US$ 70 milhões. Ou seja, faltam US$ 122 milhões. Não está claro como será financiada essa quantia que falta. Nossa posição é usar esses US$ 70 milhões para construir uma usina elétrica menor e mais potente.
Folha de S. Paulo, via IHU (Unisinos)/montedo.com

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