Marabá (PA) - A viúva do sargento do Exército Daniel Poczwardowski, que morreu após passar mal durante um treinamento do Exército em Marabá, no sudeste do Pará, no último dia 15, afirmou que o marido não recebeu nenhum atendimento e quando foi encontrado, já estava morto.
“Não tinha equipe de saúde mais para socorrer ele. Ainda que ele tivesse sido achado com vida, nem ambulância tinha mais. Jogaram ele atrás de um caminhão que tem lá no quartel. Ele foi achado morto e não teve nem chance de ser ajudado porque não tinha ninguém para ajudá-lo na hora em que passou mal”, conta Irla Fernandes, que denunciou ainda que outros excessos teriam sido cometidos. O Exército nega as denúncias, diz que prestou socorro ao sargento e que desconhece as denúncias feitas pelos oficiais.
Durante o exercício, ocorrido dentro de área de mata no Batalhão de Infantaria de Selva, em Marabá, cinco oficiais, entre eles, o terceiro sargento Daniel Poczwardowski, de 29 anos, passou mal, chegou a ser socorrido no local e foi encaminhado ao Hospital de Guarnição de Marabá, mas não resistiu na última segunda-feira (15). A causa da morte ainda é desconhecida e o laudo do IML deve ser emitido em 20 dias. O corpo do militar chegou na noite de terça-feira (16) a Guarani das Missões, na região Norte do Rio Grande do Sul, onde ele nasceu. Ele foi sepultado na manhã de quarta-feira (17). Segundo o Exército, a atividade desenvolvida era de rastejamento na mata.
Um dos oficiais foi transferido para Belém e segue internado no Hospital do Exército. De acordo com o Exército, ele já deixou a UTI e segue se recuperando bem.
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Denúncias
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Segundo a viúva Irla Fernandes, o marido reclamou diversas vezes da forma com que eram acordados no Batalhão de Infantaria de Selva, em Marabá.
“Ele estava achando estranho. Ele falava ‘Amor, muito estranho, no segundo dia a gente foi acordado às quatro e pouco da manhã com tiro, gás lacrimogêneo e eu nunca tinha visto isso, nem no Guerra, na selva, que é um curso totalmente puxado, eu nunca fui acordado assim’”, relatou.
A vítima tinha 29 anos, há 9 servia o Exército, havia sido transferido para o Pará há cinco meses e estava em Marabá para um treinamento de caçador militar que duraria duas semanas. Ele e mais quatro sargentos passaram mal durante a segunda semana do estágio.
Um dos militares que participou dos exercícios fez uma denúncia e contou que não foi socorrido.
“Eu cheguei no final da pista gritando de dor, desesperado, pedi ajuda para o soldado. Quando eu fiquei de pé para ir, o instrutor pegou, mandou eu voltar pro começo da pista. E quando eu levantei para voltra, não consegui ficar de pé, desmaiei, aí me jogaram na ambulância e fui acordar no Batalhão”, afirmou um dos oficiais, que pediu para não ser identificado.
Em outra denúncia, um outro oficial participante do treinamento relatou o estado em que chegou ao hospital.
“Eu emagreci uns cinco quilos, estou todo inchado, minhas mãos estão pretas, entendeu? Só judiação um estágio que era para ser técnico”, detalhou.
Para o advogado Odilon Vieira Neto, que acompanha o caso, as denúncias revelam o despreparo da instituição.
“Quem conduziu este curso desta forma tem que ser responsabilizado. A irresponsabilidade, para mim, no Direito Penal, se traduz nos elementos da negligência e da imprudência no mínimo. Se durante a apuração desse militar ficar comprovado que houve castigo físico ou sugação desnecessária, já entendo que houve tortura com resultado morte”, afirma o advogado.
Um inquérito foi aberto pelo Exército para apurar o caso, mas por enquanto, a causa da morte do sargento do Exército é desconhecida. Segundo a instituição, os militares que participavam do treinamento estão sendo ouvidos e as denúncias estão sendo apuradas. O inquérito deve ser concluído em 20 dias.
“Nós temos um Código Penal Militar, que trabalha à luz de uma falha ou deficiência da instituição para que possamos corrigir e aquelas pessoas que tiveram possivelmente algum tipo de falha na conduta sejam penalizados”, declarou o tenente coronel Zeni, do Exército.
FOLHA DO BICO/montedo.com