13 de maio de 2012

FAB compra caixão apodrecido e menor que o corpo do soldado morto em Belém

Protesto marca velório de militar da Aeronática

Dor e revolta marcaram o início do velório do armeiro da Aeronáutica Cleidson Clemilton da Purificação Viana, 24, morto com um tiro enquanto estava de serviço. O crime aconteceu na tarde de quinta-feira, 10, dentro da Base Aérea de Belém. Além do sofrimento provocado pela perda, familiares e amigos de Cleidson se revoltaram diante da pouca importância dada pela corporação para o velório e sepultamento do armeiro - a começar pelo funeral oferecido pela Aeronáutica, que comprou uma urna em deterioração e com o tamanho menor que o corpo do rapaz. A família cobra rigor nas investigações e que o caso seja esclarecido para que a justiça possa ser feita. O enterro está marcado para as 10h, num cemitério particular, em Marituba.
Era por volta das 11h de ontem quando o corpo de Cleidson Viana foi liberado pelo Instituto Médico Legal (IML). De acordo com familiares do armeiro, no início a Aeronáutica teria resistido em arcar com as despesas do funeral, mesmo ele tendo morrido dentro da Base Aérea, enquanto estava de serviço. “Eles (a Força Armada) só deram apoio quando procuramos por eles para relatar as dificuldades que sofríamos para pagar o enterro. Só depois de muita insistência foi que eles deram os custos”, reclamou a irmã do militar, Letícia Purificação.
No entanto, apesar de assumir os gastos, a Aeronáutica contratou, de início, os serviços básicos de um funeral, e não de acordo com o pedido da família. O caixão comprado estava em estado de deterioração e era menor que o corpo do Cleidson – além de não ter recebido nenhum tipo de ornamentação ou flores. O corpo ficou imprensado na estrutura do caixão e ficou torto para poder encaixar.
Quando a urna chegou à igreja da Assembleia de Deus, na Barão do Triunfo, para ser velado, os irmãos, parentes e amigos do militar ficaram revoltados com o que viram. “Ele não era nenhum ‘cachorro’ para estar assim. Ele morreu enquanto estava trabalhando. Poderiam ter feito um funeral digno à altura de um militar da Aeronáutica. Até bandido é enterrado em melhores condições”, desabafavam unanimemente.
De acordo com o gerente da Sociedade Pax-Pará, funerária contratada para fazer o funeral, a Aeronáutica solicitou este tipo de serviço, por isso enviou uma urna simples e sem ornamentação. Os irmãos procuraram pela funerária e exigiram a troca do caixão por um maior. A mudança foi autorizada pela Aeronáutica e o serviço foi feito. A troca ocorreu no final da tarde de ontem, horas depois de o velório ter começado.
As pessoas que tinham ido prestar a última homenagem ao rapaz tiveram que sair da igreja para que o serviço fosse refeito. No local, familiares choravam inconsolados. A irmã de Cleidson, Mariane Viana, chegou a desmaiar ao ver o corpo do irmão.
A avó do militar, Maria Dantas Mota, disse que a última vez que viu o neto vivo foi para lhe dar a bênção. “O meu neto era uma bela pessoa”, lamentava.
Até o final da tarde, apenas alguns amigos do quartel mais próximos de Cleidson haviam comparecido ao velório. A ausência de oficiais foi bastante questionada pelos parentes.
Leia também:
Soldado da FAB é morto com um tiro de pistola na Base Aérea de Belém
INVESTIGAÇÕES
De acordo com a família, ainda pouco se sabe a respeito da ocorrência do crime. A irmã de Cleidson, Letícia Purificação, sabe apenas que os dois soldados envolvidos na situação permanecem detidos. São eles Robson Miranda Furtado (S2 – patente de soldado) e o soldado David Farias.
“Não explicam nada para a gente. Disseram apenas que foi um acidente”, reforçou Letícia. “Ele trabalhava sozinho em uma sala, não se sabe o motivo de os outros dois soldados estarem ali dentro com ele. O meu irmão já estava quase de saída quando tudo aconteceu”, atentou.
O crime aconteceu no Setor de Material Bélico. O tiro foi disparado por uma pistola 9 mm e a munição atingiu o coração de Cleidson.
Na nota enviada pela Aeronáutica, é citado apenas o nome de Robson Furtado como o autor do disparo que culminou na morte do armeiro. Ele ficará preso até o final das investigações e também está à disposição da Justiça Militar. Furtado foi autuado em flagrante e passou por exame de corpo de delito.
A Aeronáutica informa que o caso será investigado pela própria corporação e o inquérito será apresentado ao juiz da 8ª Circunscrição da Justiça Militar. Em seguida, será encaminhado ao Ministério Público.

CARREIRA MILITAR
Cleidson Clemilton da Purificação Viana ingressou nas Forças Armadas após ser aprovado em concurso público. Ele servia a Aeronáutica há quatro anos. O militar não tinha filhos, mas deixou viúva Sabrina Costa, 25 anos, que estava inconsolada com o fato de o marido ter saído de casa para trabalhar e não voltado vivo.
...
Diário do Pará/montedo.com

Arquivo do blog

Compartilhar no WhatsApp
Real Time Web Analytics