Militar usou nome falso no Tinder para se aproximar de jovens e levá-los para local onde foram presos
SÃO PAULO - O Centro de Comunicação Social do Exército informou neste sábado que “apura as circunstâncias” em que um capitão da corporação se infiltrou no grupo de manifestantes presos no último domingo durante manifestações contra o governo Michel Temer e a favor de eleições diretas para presidente na Avenida Paulista. Reportagem do site do jornal espanhol “El País” identificou o capitão do Exército Willian Pina Botelho como a pessoa que se passou por militante antigoverno, com nome falso, e convenceu um grupo de manifestantes a se deslocarem para um local distante da manifestação, onde foram presos em ação da Polícia Militar (PM) antes da realização do protesto.
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, os 18 detidos tinham máscaras de gás, óculos, estilingues, vinagre e itens de primeiros socorros. A PM informou que também carregavam pedras e uma barra de ferro, o que eles negam. A prisão foi classificada como ilegal pelo juiz Paulo Rodrigo Tellini de Aguirre Camargo, do Fórum Criminal da Barra Funda, que determinou a soltura imediata dos detidos no dia seguinte à prisão.
A primeira imagem de Pina Botelho foi divulgada pelo site “Ponte Jornalismo”, especializado em assuntos de segurança pública. Segundo relato de alguns dos manifestantes presos, Botelho se apresentou como “Balta” e se aproximou de manifestantes por meio do aplicativo de relacionamento Tinder e de um fórum do Facebook. Depois, ele foi adicionado em um grupo do Whatsapp.
Neste sábado, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, informou ao GLOBO que não se manifestaria sobre o caso, mas apenas o Exército. Em nota, o Centro de Comunicação Social do Exército confirmou que o capitão William Pina Botelho é oficial da corporação, lotado no Comando Militar do Sudeste. A reportagem perguntou por que ele foi infiltrado no grupo que protestaria no domingo, se teve participação na operação que resultou na detenção de manifestantes e se a atuação do serviço de inteligência do Exército em protestos é realizada em parceria com a PM de São Paulo.
“Com relação aos fatos questionados, as circunstâncias estão sendo apuradas”, informou a corporação.
No início da noite deste sábado, o Comando da Polícia Militar de São Paulo informou em nota oficial negar “a existência de uma operação conjunta na ocasião citada pela reportagem”.
“A PM desconhece qualquer ação de inteligência que tenha sido realizada por outro órgão de segurança”, informou o órgão na nota.
PRISÕES NO DOMINGO
No último domingo, os jovens detidos desconfiaram do aparato policial mobilizado para a prisão - além de helicóptero, dezenas de viaturas foram deslocadas até o Centro Cultural Vergueiro, na Zona sul de São Paulo, local onde foram levadas por Pina supostamente para se encontrar com mais manifestantes.
Pina foi detido junto com os jovens, mas liberado logo em seguida pelos policiais. Ele apagou os registros do perfil falso depois que sua imagem foi divulgada por pessoas que haviam se comunicado com ele. Antes de apagar os perfis, publicou uma mensagem derradeira, informando que daria um tempo “por causa de pessoas que não entendem a nossa luta”.
Em novembro de 2013, Pina publicou artigo na revista “A Lucerna”, uma publicação da Escola de Inteligência Militar do Exército, com o título “A inteligência em apoio às operações no ambiente terrorista”. Segundo o portal da Transparência do Governo Federal, ele está na ativa desde 1998.
O Globo/montedo.com