Num cálculo estimado, contando que o benefício há 30 anos é de R$ 6 mil, a viúva já teria recebido cerca de R$ 2 milhões da União
LETICIA FERNANDES
RIO - Rio de Janeiro, 1985. O dia estava ensolarado, perfeito para rasgar o céu da capital fluminense. Era só mais um dia de trabalho para o segundo-tenente do Exército. Ele entrou no avião para participar de uma demonstração de voo, mas problemas técnicos com o tanque da aeronave interromperam seus planos. O fim da viagem foi trágico: o militar morreu com uma pancada na cabeça depois da queda. Aos 21 anos e grávida da primeira filha, sua mulher o esperava em terra firme. Passou a receber pensão com o valor integral do salário do marido, de cerca de R$ 6 mil (valores corrigidos pela inflação), que irá para a filha quando ela morrer. Num cálculo estimado, contando que o benefício há 30 anos é de R$ 6 mil, a viúva já teria recebido cerca de R$ 2 milhões da União.
A filha do militar, de 29 anos, que preferiu não se identificar, contou ser contra o recebimento do auxílio vitalício:
— Não concordo com esse sistema de benefício, apesar de ter salvado a vida da minha mãe. Acho que ninguém deveria receber uma pensão vitalícia porque isso acomoda. Imagina receber uma boa mesada para sempre? — disse a jovem.
Ela, porém, não considera injusto que a mãe receba a pensão:
— A minha mãe acha justo a pensão ser vitalícia para a esposa e injusto ser vitalícia para o filho. Particularmente, não acho que as esposas não mereçam, porque realmente abrem mão de muita coisa, vão morar em lugares remotos, áreas de fronteiras, em geral abrem mão de suas carreiras e têm um papel importante na carreira do militar, ajudam nas promoções. Mas encaro como se a pensão não existisse. Minha mãe tinha 21 anos, ficou viúva grávida. Foi ela que viveu o perrengue para se reerguer e fazer faculdade com filho — disse.
O Globo/montedo.com