Claudio Tognolli
Vou te contar o que foi revelado a este blog por um militar de alta patente: como Dilma foi alertada a voltar atrás na briga que comprou com militares. A dica veio de um conselheiro (militar), que a ela disparou: “Presidente, cuidado com o fator Camarinha…o Sarney sabe muito bem o que é isso..”
Antes de te explicar o que é o Fator Camarinha, vamos relembrar a crise de Dilma com os milicos.
Para tentar reverter o problema criado com os comandantes militares, o ministro da Defesa, Jaques Wagner, vai assinar uma portaria devolvendo ao titulares do Exército, da Marinha e da Aeronáutica o poder de editar atos relativos a pessoal militar –como transferência para a reserva remunerada de oficiais superiores, intermediários e subalternos, reforma de oficiais da ativa e transferências para o exterior.
Os militares já dispunham, classicamente, desse poder. Mas como Dilma dispõe da singular capacidade de pisar na bola com ela mesma, na semana passada a secretária geral do Ministério da Defesa, Eva Chiavon, pediu à Casa Civil que encaminhasse o decreto 8515, a tirar poder dos comandantes. E impôs que a presidente Dilma Rousseff assinasse o decreto antes do 7 de setembro.
A publicação do texto no Diário Oficial da União (DOU) foi na sexta-feira.
Publicar um decreto deste teor, tirando poderes da cúpula militar, e sem comunicar aos comandantes, foi considerado “inaceitável”. Os milicos coçaram o coldre (afinal sob Dilma eles também viraram homens de gatilho fácil…)
O ministro da Defesa Jaques Wagner entrou na área, labutando naquilo a que chamaram de “operação absorvente”: para evitar maior derramamento de sangue….
O fator Camarinha
O ex-chefe do Estado-Maior das Forças Armadas (EMFA), Tenente-Brigadeiro do Ar Paulo Roberto Coutinho Camarinha, morreu a 30 de abril de 2013, aos 89 anos, no Rio de Janeiro. Foi sobre um episódio a ele sucedido que aconselharam a Dilma.
Paulo Roberto Coutinho Camarinha foi o brigadeiro mais famoso depois do outro brigadeiro, Eduardo Gomes (candidato à Presidência em 1945).
E Paulo Roberto Coutinho Camarinha protagonizou a mais aguda crise militar desde a abertura política.
Quando a inflação corria solta sob Sarney presidente, um instrumento calibrava os salários: chamava-se URP (unidade de referência de preços). Por ela, salários de todo o Brasil (incluindo de servidores públicos, como militares) eram reajustados mensalmente, para se cobrir a corrosão inflacionária.
Sarney resolveu cortar a URP. Salários iriam para o espaço. O efeito foi algo inesperado: nivelou os destinos de sindicalistas e militares. Todos passaram a lutar ombro a ombro. Camarinha foi capa de “Veja”, batizado de “O brigadeiro da URP”. Nunca antes na história desse país (nem sob Vargas) um milico havia sido tão elogiado por sindicalistas.
O alinhamento ao “peonato” custou caro ao Tenente-Brigadeiro do Ar Paulo Roberto Coutinho Camarinha. O presidente Sarney o demitiu a 17 de junho de 1988. “Não posso admitir que minha autoridade seja questionada”, disparou Sarney contra o military defenestrado por ter se aliado com os “peões”.
Eis o que me mandou sobre o episódio o militar de alta patente:
(Atualização: link para a edição do Jornal do Brasil de 18/6/1988)
Esse é o “Fator Camarinha”: se Dilma não tivesse voltado atrás de ter tirado o poder dos militares, iria ser peitada por eles, publicamente. Teria de reagir inovocando a autoridade (como fez Sarney). Ato contínuo, teria de demitir milicos: algo nada potável para quem está sendo rifada a cada dia por um oponente diferente…
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