Tenente da Marinha fica em coma após treino em selva do AM
Coma já dura um mês; pai suspeita de negligência durante treinamento.
Marinha diz que foi instaurado Inquérito Policial Militar para apurar caso.
Leandro Tapajós Do G1 AM*

O atendimento ao tentente demorou 7 horas. Ele passou mal em uma área do Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS) e foi transferido de helicóptero para o Hospital Militar de Área na capital, onde segue internado. A Marinha informou ao G1 que um inquérito apura o caso.
De acordo com o pai do tenente, Saumir Portugal, o filho foi diagnosticado com traumatismo craniano e rabdomiólise - doença que atinge os músculos e pode causar insuficiência renal.
"A única coisa que diziam é que ele estava caminhando, passou mal, teve duas convulsões na selva e foi levado para o hospital. Aconteceu durante o treinamento", disse o pai do tentente ao G1.
Portugal disse ainda que o filho estava muito machucado e sujo. "Com traumatismo craniano, com rabdomiólise, com os rins parados, completamente sujo, cheio de marcas roxas, com um arranhão enorme no braço esquerdo, com o olho roxo, eu não entendo", afirmou.
Ainda de acordo com Saumir Portugal, a família - que vive no Rio de Janeiro - foi avisada sobre o ocorrido no dia 1º de outubro. Ele reclama da demora no socorro do filho.
Uma carta assinada pelo comando da Marinha foi entregue aos pais do tenente. O G1 teve acesso ao documento. A carta cita que Guillermo participava da Operação Tucunaré, que faz parte do currículo do Curso Especial de Comandos Anfíbios e prepara Oficiais e Praças para o planejamento e a execução de Operações Especiais de Fuzileiros Navais.
Demora no atendimento

"O pessoal do Exército que o recebeu diz que ele chegou num estado lastimável. Foi o termo deles. Ele não pôde ser levado ao CTI, precisou, antes, ficar um tempão na emergência para ser higienizado, e disseram que a expectativa dele era nenhuma, que teria que chamar um padre", afirma Saumir.
Tratamento
Os familiares relatam que ainda têm esperança de que o tratamento faça o tenente melhorar. "Ele está em coma, sedado, mas já começaram a tirar essa sedação. Foi feito uma traqueostomia, ele está fazendo diálise. A gente está lutando contra problemas nos pulmões. Foi feito um pequeno edema cerebral por causa da porrada que ele levou. Ele estava com um corte muito profundo na cabeça então o neurologista disse que a princípio esse edema não vai afetar nenhuma função dele, acho que não terá nenhuma sequela", acredita o pai.
A família diz que há falta de especialistas para atendimento. "A gente encontrou várias dificuldades, por exemplo: o hospital não tinha pneumologista, a família teve que correr atrás de dois pneumologistas porque ele está muito lesionado. Agora a gente está com outro problema lá com fisioterapeuta ", revela pai do tenente, que acrescenta: "as pessoas do CTI do hospital do Exército estão tratando ele da melhor forma possível, estão fazendo tudo dentro das possibilidades deles. Eles estão em uma luta árdua".
A Marinha informou, por meio de nota, que "lamenta profundamente o ocorrido e, desde o dia 30 de setembro de 2015, vem prestando o apoio necessário ao Tenente Portugal e à sua família, que se encontra em Manaus. As informações disponíveis foram fornecidas à família".
A nota cita ainda que foi instaurado um Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar as circunstâncias do ocorrido durante o curso. A investigação tem prazo máximo de 60 dias para ser concluída.
Para o pai do tenente é preciso garantir a segurança dos militares que participam do treinamento na selva. "Agora, não havia médico nenhum com eles lá na manobra. É um curso altamente agressivo", finaliza.
G1/montedo.com