Hoje na História: 1879 - França adota 'La Marseillaise' como hino nacional
Max Altman
Em Marselha, onde voluntários do Exército revolucionário se preparam para Paris, são distribuídos folhetos com texto de canto patriótico que dá nome a hino
A Câmara de Deputados adotou “A Marselhesa” como hino nacional francês em 13 de fevereiro de 1879. Composto para o Exército do Reno, fronteira com a Alemanha, em 1792 pelo oficial Rouget de Lisle, a melodia já se havia tornado o “canto nacional” em 1795 (26 Messidor ano III), mas o texto jamais havia sido oficializado.
Em 24 de abril de 1792, em Estrasburgo, no salão nobre do prefeito, o barão de Dietrich, a efervescência estava no auge. Cinco horas antes, a França havia declarado guerra à Áustria. O chefe da casa se dirigiu ao jovem Claude Joseph Rouget de Lisle, oficial de sua província e violoncelista nas horas vagas: "Senhor de Lisle, componha-nos uma bela canção patriótica para esse povo feito soldado que surge de todas as partes atendendo ao apelo da pátria em perigo e a nação lhe será profundamente agradecida".
O capitão da guarnição, de volta a sua casa, decide trabalhar febrilmente. No dia seguinte à noite, o barão organiza um jantar durante o qual ele mesmo interpreta a canção, acompanhado por uma dama ao cravo e por Rouget de Lisle ao violão. Batisado logo como Canto de Guerra para o Exército do Reno, o novo canto colhe um sucesso fulgurante. Viajantes divulgam as palavras e a melodia por todo o país.
Em Marselha, onde os voluntários do Exército revolucionário se preparam para seguir para Paris a fim de combater a invasão, são distribuídos folhetos com o texto do canto patriótico. Os federados marselheses entonam a melodia ao longo de toda a viagem e em coro quando entram na capital em 30 de julho de 1792. Os parisienses com toda a naturalidade a batizam de pronto como “A Marselhesa”.
O canto é retomado pelos federados de Marselha que participam da insurreição das Tulherias em 10 de agosto de 1792. Antes o general François Mireur, do exército da campanha do Egito, que tinha ido a Marselha com o objetivo de reunir voluntários de Montpellier e de Marselha, achou a canção excelente. E a fez divulgar às tropas sob o título “Canto de Guerra dos Exércitos de Fronteira”
Durante as revoluções de 1848 que irrompem no conjunto do continente europeu, a Marselhesa recebe uma consagração internacional como cântico revolucionário só comparável mais tarde com o hino dos socialistas, "A Internacional".
Hino oficial
Em 14 de julho de 1795, por decreto de 26 Messidor ano III de iniciativa do deputado Debry, a Assembléia Nacional declara “A Marselhesa” hino nacional francês. Foi proibida durante o Primeiro Império por Napoleão Bonaparte e pelo rei Luis XVIII quando da Segunda Restauração. Reassumindo a condição de hino após a Revolução de 1830, A Marselhesa foi novamente banida por Napoleão III. Ela seria definitivamente proclamada “hino nacional” em 1879.
Claude Joseph Rouget de Lisle (10/05/1760 – 26/06/1836) deu seus primeiros passos como adulto na condição de oficial do corpo de engenharia do exército revolucionário. Sua obra artística não se resumiu à Marselhesa. Preso durante o Terror, compõe após sua libertação o “Hino Ditirâmbico sobre a Conjuração de Robespierre, bem como o “Canto das Vinganças” e “Canto dos Combates”.
Setores conservadores e reacionários da III, IV e V República e até os dias de hoje tentaram alterar pelo menos o texto do hino, que consideram excessivamente revolucionário e ‘sangrento. Em vão. A Marselhesa continua emocionando corações e mentes.
Opera Mundi/montedo.com