Nem mais as Forças Armadas estão livres do doping cada vez mais recorrente no esporte brasileiro. Nesta semana, caiu como uma bomba dentro da Marinha a suspensão aplicada a duas atletas do levantamento de peso que treinam diariamente dentro do Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes (Cefan), no Rio. Aline Facciolla e Alexsandra Gonçalves, menores de idade, são da equipe oficial da Marinha e têm como técnico um militar: o tenente Carlos Henrique Aveiro, da Força Naval.
As duas testaram positivo para o esteroide anabolizante boldenona, usualmente utilizado por cavalos, durante o Campeonato Sul-Americano de Levantamento de Peso, realizado em dezembro, em Lima (Peru). Dois casos de atletas da mesma equipe, menores de idade, flagradas com a mesma substância, numa mesma competição, é forte indício de que o doping é sistêmico.
De acordo com o comandante Carlos Lessa, encarregado da comunicação social do Cefan, o centro esportivo da Marinha tomou conhecimento do caso na segunda-feira e decidiu abrir procedimento administrativo. “A gente está começando a apurar, para dar uma resposta. Ficamos completamente estarrecidos”, diz ele, garantindo que a Marinha foi pega de surpresa com a suspensão. “A gente acha uma falta grave isso”, comenta.
Aline é a grande vitrine do Forças no Esporte, programa social do Ministério da Defesa que se dedica à “inclusão social, valorização da cidadania, inserção no trabalho e na realização de atividades físicas, esportivas e de lazer”, de acordo com o governo. A jovem, agora com 16 anos, foi descoberta num dos polos do programa e se tornou a grande revelação do levantamento de peso brasileiro.
No ano passado, ganhou o título mundial sub-17, se tornando a primeira brasileira a alcançar tal feito. No Sul-Americano, bateu o recorde brasileiro da categoria até 48kg levantando 169kg na soma de arranco e arremesso. Como comparativo, o recorde sub-17 masculino na categoria até 50kg é de 175kg.
“Ela é a nossa pedra preciosa”, admite o comandante Lessa. De acordo com ele, o tenente Aveiro, conhecido no levantamento de peso pelo apelido de Saul, também foi pego de surpresa com a suspensão. “Ele nunca usaria algum subterfúgio para ter ganho de rendimento. Ele também foi surpreendido”, garante.
O caso de Aline e Alexsandra se difere de outro caso de doping que recentemente atingiu as Forças Armadas. Em outubro, os 3º sargentos Alex Arseno e Uênia Fernandes testaram positivo para o hormônio sintético EPO nos treinos promovidos pelo Exército para os Jogos Mundiais Militares. Eles, entretanto, são membros Programa de Atletas de Alto Rendimento do Ministério da Defesa e apenas defendem o Exército em competições, treinando de forma independente, em equipes profissionais.
ESTADÃO/montedo.com