31 de julho de 2015

Lava Jato: almirante diz que empresa recebeu por 'traduções' e serviços do genro

O diretor-presidente afastado da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro Silva, durante debate em Brasília
O diretor-presidente afastado da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro Silva, durante debate em Brasília
GABRIEL MASCARENHAS
RUBENS VALENTE
DE BRASÍLIA
O diretor-presidente licenciado da Eletronuclear, o vice-almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, 76, atribuiu a serviços de "tradução" de sua filha ou de "engenharia" do seu genro os R$ 6 milhões que empreiteiras e fornecedoras da estatal depositaram nas contas de sua empresa, a Aratec Engenharia.
A versão foi apresentada em depoimento prestado à Polícia Federal nesta quinta-feira (30). Othon foi preso na terça (28) na 16ª fase da Operação Lava Jato, denominada "Radioatividade".
Documentos da Receita Federal demonstram que a Aratec quadruplicou a sua receita a partir de 2009, depois que Othon assinou um aditivo com a empreiteira Andrade Gutierrez no valor de R$ 1,24 bilhão.
Segundo a PF, a empreiteira depositou pelo menos R$ 3,8 milhões à empresa de Othon por meio de duas empresas de fachada.
Ao longo do depoimento, Othon apresentou a versão de que desconhecia detalhes das atividades da Aratec, embora tenha permanecido nos quadros da empresa por 15 anos, até o primeiro trimestre deste ano, quando surgiram as primeiras denúncias de irregularidades na Eletronuclear.
Othon disse que a Aratec trabalhava, até 2005, em serviços de consultoria em áreas diversas como infraestrutura, meio ambiente, geofísica e prospecção de jazidas. Ele também possuía outra empresa, a Área Geofísica, que, disse, foi contratada para obras de um oleoduto da Petrobras em Cabiúnas.
O almirante afirmou que "compunha equipes específicas para cada tipo de trabalho, não mantendo um staff fixo".

TRADUÇÕES
Othon, que tornou-se presidente da Eletronuclear em 2005, revelou que o convite partiu do então ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau –amigo e aliado político do ex-presidente José Sarney (PMDB-MA)– e que, na ocasião, decidiu manter aberta a Aratec para sua filha Ana Cristina.
"Ana Cristina na época tinha interesse em constituir uma empresa na área de traduções, por ter residido no exterior, e a esposa do declarante [Othon] também tinha passado em concurso de tradutor juramentado", diz o termo de depoimento do almirante.
Ele afirmou que os ganhos da Aratec estão relacionados a trabalhos prestados por sua filha na área de traduções, ou de engenharia por parte de seu genro.
Questionado por que a empresa estava vazia durante cumprimento do mandado de busca e apreensão da Operação Radioatividade, o almirante disse acreditar que seja porque sua família estava viajando.
Disse ainda que a Aratec mantém a mesma dinâmica de "constituir um staff para cada projeto".
Localizado pela Folha, Rondeau disse que escolheu Othon porque se tratava "do melhor currículo" que lhe chegou às mãos, que "respeita muito" o almirante, para ele "um grande profissional", e afirmou esperar "que tudo seja esclarecido".

SEM PRIVILÉGIO
Othon afirmou que, à frente da Eletronuclear, nunca privilegiou "quem quer que seja, principalmente as empreiteiras envolvidas na construção de Angra 3".
Ele minimizou os valores pagos à Aratec e disse ter conhecimento que lhe permitiria "ganhar muito mais" do que lhe acusam de ter recebido.
A PF indagou sobre os motivos que levaram Othon a deixar a empresa quando as investigações da Lava Jato se aproximaram dele e da Eletronuclear. Ele argumentou que estava desenvolvendo um projeto de uma nova turbina (hidrogerador integrado), sem relação com a área nuclear, que pretendia patentear em breve, e que para isso "constituiria uma outra empresa".
Folha de São Paulo/montedo.com

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