Militar reformado que chefiava Eletronuclear vira réu
Ele e outras 13 pessoas serão julgadas por ajudar empreiteiras a ganhar contratos junto a usina de Angra 3
Por: Carlos Rollsing e Humberto Trezzi
O juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, transformou em réus 14 pessoas denunciadas por corrupção envolvendo obras da central nuclear de Angra 3, em Angra dos Reis (RJ). Entre os acusados estão o vice-almirante reformado Othon Pinheiro - na época dos fatos, presidente da Eletronuclear, a estatal que lida com energia nuclear -, a filha dele, Ana Cristina da Silva Toniolo, e Otávio Marques de Azevedo, presidente da segunda maior empreiteira do Brasil, a Andrade Gutierrez.
Othon está preso desde 28 de julho em Curitiba. Ao justificar a prisão de Othon, o juiz Moro elencou uma série de irregularidades apontadas pela PF e que indicam sinais de corrupção. Ele salienta "possível conflito de interesses" pelo fato de o vice-almirante da reserva ser, ao mesmo tempo, presidente da Eletronuclear e receber pagamentos privados como proprietário da empresa Aratec Engenharia, Consultoria & Representações Ltda. Essa empresa, entre 2005 e 2013, não tinha sequer empregado registrado. Um funcionário foi contratado em 2013, o que os investigadores apontam como indício de a firma ser apenas fachada.
A Aratec recebeu pagamento das empreiteiras Andrade Gutierrez e Engevix, ambas com contratos com a Eletronuclear. O repasse teria sido feito por meio de "empresas com características de serem de fachada", segundo o juiz. Uma delas, a CG Consultoria recebeu, entre 2009 e 2012, R$ 2,9 milhões da Andrade Gutierrez e transferiu, entre 2009 a 2014, R$ 2,6 milhões para a Aratec. A CG não tem empregados e, na prática, descontados os custos tributários, repassou o recebido da Andrade Gutierrez à Aratec.
Parte do dinheiro teria sido manipulado pela filha de Othon, Ana Toniolo, agora transformada em ré. A denúncia feita originalmente pelo Ministério Público Federal (MPF) pedia também a condenação de Gerson Almada, presidente da empreiteira Engevix, também participante das obras em Angra 3. O magistrado considerou, porém, que não há provas suficientes contra ele e rejeitou a denúncia.
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Vão responder por crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa os réus Ana Toniolo, Carlos Alberto Montenegro Gallo, Clovias Renato Numa Peixoto, Cristiano Kok, Flávio David Barra, Geraldo Toledo Arruda Júnior, Gustavo Ribeiro de Andrade Botelho, José Antunes Sobrinho, José Augusto Nobre, Olavinho Ferreira Mendes, Otávio Marques de Azevedo, Othon Luiz Pinheiro da Silva, Rogério Nora de Sá e Victor Sérgio Colavitti.
Nesta sexta-feira o MPF deve oferecer nova leva de denúncias, referente à 17ª fase da Operação Lava-Jato - a que resultou na prisão do ex-ministro José Dirceu (PT).
ZERO HORA/montedo.com