Há 25 anos, o Iraque invadia o Kuwait, e a comunidade internacional respondia com uma grande ofensiva militar. O conflito durou pouco, mas alterou a região drasticamente, abrindo caminho para a radicalização religiosa.
Em agosto de 1990, a tensão em torno do petróleo chegava ao extremo no Oriente Médio. O então presidente do Iraque, Saddam Hussein, achava que a insistência do Kuwait em aumentar a produção de petróleo não era somente irritante, mas uma provocação.
O governo iraquiano acusava o vizinho de provocar baixas no preço do petróleo no mercado internacional ao vender mais que a cota estabelecida pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Na argumentação iraquiana, todo o barril adicional que o Kuwait lançava no mercado pressionava os preços.
O Iraque exigia que o Kuwait abandonasse a prática imediatamente. O pequeno emirado ignorou o apelo, e, então, no dia 2 de agosto de 1990, Saddam deu ordens para atacar o vizinho. Em pouco tempo, o emirado estava ocupado.
As Nações Unidas pediram reiteradamente para Saddam retirar suas tropas do Kuwait, mas não houve qualquer reação concreta do ditador iraquiano. Em poucos meses, o ex-presidente dos Estados Unidos, George H. W. Bush formou uma aliança militar internacional e instalou a chamada Operação Tempestade no Deserto.
Na noite do dia 17 de Janeiro de 1991, a coalizão internacional lançou os primeiros bombardeios sobre Bagdá. Em cinco semanas, as forças iraquianas foram alvo de mais de 100 mil ataques aéreos. No dia 24 de fevereiro, os aliados invadiram o território do Iraque e do Kuwait, sem encontrar resistência significativa.
As tropas de Saddam foram derrotadas em apenas quatro dias. A "mãe de todas as batalhas", como o ditador costumava chamá-la, marcou o início do fim de seu reinado, que somente se concretizaria 12 anos depois, em 2013, quando as tropas americanas invadiram o Iraque pela segunda vez.
"Bombardeios cirúrgicos"
A Guerra do Golfo é um divisor de águas na história do Oriente Médio. Ao mesmo tempo, abriu um novo capítulo no estilo de cobertura da mídia de confrontos armados. Pela primeira vez, uma guerra era transmitida em tempo real.
A decolagem de caças a partir porta-aviões a quilômetros de distância, as explosões iluminando a noite de Bagdá, os alvos visíveis no computador sendo atingidos por bombas segundos depois. Tudo isso indicava a superioridade militar absoluta dos Estados Unidos. Também fazia parecer plausível, pelo menos de início, a afirmação do general dos EUA Norman Schwarzkopf de que os americanos conduziam "ataques aéreos cirúrgicos", através dos quais dificilmente a população civil era afetada.
Mas as primeiras impressões foram rapidamente corrigidas. Ao mesmo tempo em que surgiam os tais "ataques cirúrgicos", apareceu outra expressão até então pouco conhecida – o "collateral damage" ou "dano colateral" –, que mostrava o lado sujo da guerra, supostamente mais "limpa" devido ao emprego de métodos e instrumentos de alta tecnologia.
Radicalização religiosa
O Oriente Médio da época em que o Kuwait foi invadido pelo Iraque era diferente do atual. A maioria dos árabes era imune à incitação religiosa. Saddam sentiu isso na pele ao tentar transformar o confronto contra a coalizão internacional numa guerra santa.
"Convocamos todos os árabes, todos os guerreiros crentes a se engajarem na jihad. Convocamos todos a atacarem as forças do mal, da traição e da corrupção. Esta é a obrigação de todos vocês", apelou o ditador em 1991. O chamado foi em vão. Os árabes não se impressionaram nem mesmo com a tentativa de impor um teor religioso ao conflito lançando mísseis contra Israel.
No entanto, a Guerra do Golfo e suas consequências transformaram-se em terreno fértil para o fanatismo religioso. O embargo internacional imposto ao Iraque atingiu sobretudo a população, levando-a à pobreza e aumentando sua disposição à radicalização religiosa. "Talvez se voltar a Deus tenha sido uma forma de os iraquianos lidarem com as catástrofes que os atingiram na Guerra do Golfo e depois dela", escreve o cientista político iraquiano Fanar Haddad.
A miséria, a corrupção política – iniciada já na guerra contra o Irã, de 1990 a 1988 – e os danos ambientais intensificados na investida contra o Kuwait, com poços de petróleo queimando durante meses, contribuíram para uma gradual radicalização do islã no Iraque. O extremismo religioso também ganhou força com a invasão do país pelos EUA em 2003, considerada politicamente injustificada e que mergulhou o Iraque definitivamente no caos.
Também a Arábia Saudita sofreu efeitos colaterais. Para que os EUA conduzissem ataques ao Iraque, o reino saudita colocou aeroportos à disposição dos americanos. Parte das unidades dos Estados Unidos se manteve no país após o fim da Operação Tempestade no Deserto. Isso enfureceu combatentes radicais ligados à Al Qaeda de tal maneira que eles declararam a família real saudita ilegítima. A resistência ganhou força rapidamente, se direcionando também ao Ocidente.
A comunidade internacional mal havia enfraquecido militarmente o ditador Saddam Hussein e já se via tendo que enfrentar jihadistas, que, em nome da religião, propagavam o medo e o terror. (Colaborou: Beny Bandeira)
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