Luis Nassif, vocês sabem, é um jornalista com inestimáveis serviços prestados ao petismo, causa na qual ombreia ao lado de Paulo Henrique Amorim, Mino Carta e outros menos votados, todos aquinhoados regiamente com verbas de publicidade estatal desde o primeiro governo de Lula.
A ressalva inicial faz-se necessária para que abordemos seu artigo de ontem, 'Xadrez do governo Temer e o fator militar'. Nele, Nassif esboça uma peça de ficção jornalística que reporta aos melhores (ou piores?) tempos da Guerra Fria, pano de fundo da cena política brasileira nos idos de 1964.
Denunciando a ação de 'aves predadoras' sobre a presidência da República, o articulista cita a escassa legitimidade de Temer e a falência dos sistemas de mediação (leia-se STF), antes de alertar que, nesse contexto, as Forças Armadas procuram fortalecer-se no cenário político, buscando para isso uma 'missão legitimadora' que, segundo Nassif, estaria na identificação de um novo inimigo interno e externo que justificasse a volta do protagonismo dos fardados.
Do lado de Temer - continua - uma das maneiras de desviar o foco das críticas seria a criação de um inimigo interno. A tentativa de recriação da legitimidade política das Forças Armadas passaria por aí. O primeiro passo seria a volta de uma estrutura militar de controle no governo federal e segurança presidencial.
A frente das articulações estaria o o general Sérgio Etchegoyen, chefe do Estado Maior do Exercito Brasileiro, que teria como interlocutor Denis Rosenfield, um dos principais assessores de Temer. No dia 22 de abril, os dois teriam encontrado-se em Brasília. Dois dias antes, a pedido do general, Rosenfield teria jantado com os comandantes da Marinha e da Aeronáutica. A intenção era montar uma frente que forçasse Temer a assumir compromisso de nomear um militar para o Ministério da Defesa. O indicado seria o general Joaquim Silva e Luna, atual Secretário Geral da Defesa. Além disso, se tentaria arrancar de Temer o compromisso de assegurar a permanência dos comandantes em seus postos, recriar o Gabinete de Segurança Nacional, sob a chefia de Etchegoyen. O General Mourão, defenestrado pelo governo Dilma e desautorizado pelo comandante da Força, iria para o Estado Maior do Exército. Nem Marinha, nem Aeronáutica teriam aceitado a ideia de retorno ao cenário político.
Em encontro com Temer no último domingo, Etchegoyen teria tentado impor a criação do gabinete, sob o argumento do risco da perda de controle sobre os movimentos sociais e as ameaças bolivarianas de governos vizinhos. O general Eduardo Villas Bôas teria visitado o vice na terça-feira, no palácio Jaburu.
Da ficção para a realidade
Num cenário político que antevê o impeachment de Dilma com clareza no horizonte e desenha como certo seu afastamento do governo já na próxima quarta-feira, a última coisa que Temer deve desejar é instabilidade na área militar. Nada mais conveniente, portanto, que mantenha os atuais Comandantes, cuja postura institucional - diga-se! - tem sido impecável diante do quadro de crise que vive o País.
É possível também que seja recriado órgão similar ao antigo GSI, extinto por pressão da ABIN, que ganhou a disputa política com o General Elito, seu último titular. O nome de Etchegoyen para chefiar a nova pasta seria pule de dez.
Quanto à Defesa, depois de ter sido oferecida - e recusada! - como prêmio de consolação ao advogado Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, a melhor notícia para os milicos seria a nomeação do general Silva e Luna para o cargo.
Notem que todas estas hipóteses são perfeitamente factíveis, e prescindem da existência ou não de um 'inimigo' a ameaçar a soberania nacional. Aliás - diga-se - as Forças Armadas trabalham permanentemente com cenários de possíveis conflitos externos e internos, não sendo esse um argumento de ocasião.
Notem que todas estas hipóteses são perfeitamente factíveis, e prescindem da existência ou não de um 'inimigo' a ameaçar a soberania nacional. Aliás - diga-se - as Forças Armadas trabalham permanentemente com cenários de possíveis conflitos externos e internos, não sendo esse um argumento de ocasião.
Como se vê, Nassif pinça hipóteses prováveis no panorama político para - ao melhor estilo Carlos Lacerda - traçar um quadro farsesco, conspiratório, incompatível com a realidade do Brasil de hoje. Perspectiva real - essa sim! - é a de que - sob Temer - o bravo jornalista perca o patrocínio do Banco do Brasil em sua página na internet.
Com informações de LUIS NASSIF ONLINE