28 de maio de 2016

EUA vai usar na Síria uma arma de 70 anos, e faz sentido


Carlos Cardoso
Todo mundo que leu Carl von Clausewitz ou jogou Age of Empires sabe que guerras não são sobre armas, são sobre suprimentos. Saddam ficou 10 anos a mais no poder do que deveria por causa da incapacidade da Coalizão em manter as linhas de suprimento: eram comboios por milhares de km, com a linha de frente avançando algumas vezes 100 km por dia. A logística para isso funcionar é um inferno.
No Afeganistão o problema foi parecido. Os americanos perceberam que estavam usando mísseis de US$ 250 mil para matar dois idiotas em um camelo, e o estoque de idiotas e camelos supera em muito o de mísseis.
Agora na Síria os EUA estão distribuindo mísseis antitanque para os rebeldes, mas continua sendo algo muito caro. Cada disparo custa entre US$ 30 mil e US$ 50 mil, o que é aceitável quando o alvo é um tanque de alguns milhões de dólares, mas complica quando atiram em pickups velhas ou grupos de soldados.

Outro problema é que esses sistemas embora tecnicamente portáteis, são um trambolho. Imagine uma tropa carregando isso nas costas, subindo e descendo montanhas:

Há um terceiro problema: esse tipo de míssil usa “cargas moldadas”, uma técnica onde o explosivo cerca um cone de cobre que é vaporizado e expelido em altíssima velocidade, atravessando a blindagem do tanque e pulverizando tudo e todos dentro dele. Não são eficientes contra construções de tijolo, e mesmo grupos de infantaria. Claro que fazem um estrago mas bem menos que uma munição normal.
A solução para isso tem quase 70 anos, foi criada em 1948 e se chama Rifle Sem Recuo Carl Gustav, cortesia dos pacíficos suecos.

É uma arma muito simples, por isso leve e que aguenta ser levada por tropas a pé. Não tem toneladas de eletrônicos para dar defeito, e comporta um monte de tipos de munição, podendo ser usada contra pessoal, contra blindados, anti-tanque, etc, etc.
A munição também é muito barata. É não-guiada, e não tem aletas ou outras peças complicadas. É disparada por um motor de foguete que funciona por uma fração de segundo: quando a munição sai do cano, já está só na inércia. A estabilização se dá graças a isto:

O cano raiado é o motivo de a arma ser chamada rifle: a munição sai girando estabilizada por efeito giroscópico, como em uma arma de mão tradicional. O cano ser aberto dos dois lados é o motivo de ser chamado de sem recuo. Como os gases da explosão saem por trás, não há coice como em um RPG.

O Carl Gustav vem sendo usado por forças especiais faz tempo. Durante a Guerra das Falklands uma guarnição inglesa de 22 homens estava protegendo Grytviken, um povoado na ilha Georgia do Sul, quando a ARA Guerrico, uma corveta argentina de 1.100 toneladas e 84 tripulantes entrou na baía e abriu fogo.
Como o Gurka da unidade estava almoçando e não queriam incomodar os fuzileiros ingleses decidiram eles mesmos defender a posição. De posse de foguetes antitanque de 66 mm os ingleses municiaram seus Carl Gustavs, se aproveitando do alcance de quase 1 km. Ao final do combate um soldado inglês estava ferido.

Do lado argentino um helicóptero havia sido derrubado, 3 marinheiros mortos, outros 3 feridos e a ARA Guerrico estava tão danificada que enfiou o rabo entre as pernas, voltou para a Argentina e passou 3 dias no estaleiro consertando os danos.
Agora a decisão é que não só forças especiais usem a CG, cada pelotão de 40 combatentes irá receber um. Quanto aos rebeldes, há o problema da prestação de contas. Com os mísseis caros dá para controlar, exigindo provas em vídeo do uso antes de entregar mais munição, já com os Carl Gustav estariam colocando na mão de gente instável uma arma muito versátil. Talvez a decisão estratégica vença a econômica, e eles continuem com os mísseis tecnologicamente superiores, mas piores.
Fonte: Popular Mechanics
meiobit/montedo.com

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