Mais 20 militares do Brasil morreram na missão de paz da ONU desde 2006.
Sargento Vicente, de 46 anos, teria sido vítima de parada cardiorespiratória.
Tahiane Stochero
Do G1 São Paulo
O sargento do Exército brasileiro Vicente Medeiros, de 46 anos, morreu no Haiti nesta semana na base temporária brasileira na cidade de Les Cayes, no sul haitiano, fortemente destruída após a passagem do furacão Matthew. O furacão deixou ao menos 473 mortos e 75 desaparecidos, conforme balanço provisório oficial.
Medeiros atuava na tropa de engenharia e foi encontrado desacordado dentro da base do Brasil por volta das 13h30 de segunda-feira (17). A unidade foi construída em contêiners para ajudar as pessoas desabrigadas e abrir estradas que haviam sido bloqueadas após a passagem do furacão.
Segundo o coronel Sebastião Roberto de Oliveira, comandante do Batalhão Brasileiro no Haiti, ele foi, provavelmente, vítima de uma parada cardiorrespiratória.
O sargento é considerado o 21º militar brasileiro a morrer integrando a missão de paz da ONU no Haiti, chamada de Minustah. O Brasil lidera militarmente a operação desde que ela foi criada, em 2004, em meio a um caos político e institucional que levou à queda do então presidente Jean Betrand Aristides e a um princípio de guerra civil.
O 2º sargento Vicente recebeu os primeiros socorros de colegas em Les Cayes e foi levado de helicóptero para um hospital militar em Porto Príncipe, a capital haitiana, mas não resistiu. O corpo passou por autópsia na República Dominicana, de onde será transladado para o Rio de Janeiro, onde reside a família.
Antes de seguir ao Haiti, onde integrava o 24º Contingente Brasileiro, o sargento servia no Hospital Central do Exército, em Benfica, no Rio.
O Exército informou que ele passou por todos os treinamentos, testes e exames previstos para integrar a Minustah. Durante seu período no Haiti, "o referido militar sempre desempenhou suas atividades sem queixas, nem nada o desabonasse".
"A Companhia Brasileira de Engenharia de Força de Paz (BraEngCoy) manifesta as condolências à família do sargento Vicente, que cumprindo a missão que a sociedade e o Exército lhe confiaram, deu a própria vida, trabalhando para garantir o desenvolvimento e o bem-estar do povo haitiano", informou o Exército em nota.
Foram instaurados procedimentos para investigar o ocorrido, dentro das normas da Organização das Nações Unidas (ONU) e do Brasil, para esclarecer o que ocorreu.
O Itamaraty informa que a embaixada em Porto Príncipe está trabalhando para facilitar as providências de traslado do corpo.
Mais 20 mortes do Brasil
Em 2006, o general brasileiro Urano da Matra Bacellar, então comandante da missão de paz, foi encontrado morto com um tiro, em meio à pressão internacional para que houvesse a realização de eleições presidenciais e a pacificação de regiões violentas da capital, como Cité Soleil. Em 2015, outro general brasileiro e também no cargo de comandante da missão, José Luiz Jaborandy Júnior, morreu devido a um infarto durante viagem do Haiti para Manaus (AM), onde iria conhecer a neta, nascida há poucos meses.
Durante o terremoto, em janeiro de 2010, 16 militares brasileiros morreram no Haiti. Dez deles em um posto das tropas brasileiras localizada na principal rodovia da capital haitiana, chamado de "Casa Azul", e que ficava próximo a uma das áreas mais violentas do país, Cité Soleil. O tremor deixou mais de 200 mil vítimas fatais, divulgaram as organizações internacionais na época.
Houve ao menos outras duas mortes de militares brasileiros em acidentes. Um soldado morreu em 2007 - ele teria se descuidado e tomado uma descarga elétrica em um ponto-forte (uma base avançada) do Exército do Brasil em Cité Soleil. Outro, em 2011: um soldado de 22 anos caiu de uma altura de cerca de 1,5 metros, após se desequilibrar ao fazer a segurança na parte de trás de um jipe.
G1/montedo.com