Órgão pediu a prisão de seis suspeitos, cinco cabos e um sargento
Celso Bejarano
O MPM (Ministério Público Militar) pediu a prisão de seis militares do Exército que agiam como uma quadrilha dentro do quartel do 20º RCB (Regimento de Cavalaria Blindado), cuja sede fica em Campo Grande.
O grupo – três deles já presos – teria ligação com traficantes do interior de São Paulo. Até à tarde desta quinta-feira a Justiça Militar não tinha se manifestado quanto à solicitação do MPM. O magistrado tem ao menos oito dias para definir a questão.
O inquérito militar acerca deste caso corre desde o dia 28 de agosto, quando três cabos do 20º RCB foram presos depois de trocar tiros com a polícia, em Campinas (SP). O trio havia tirado de dentro do quartel, em Campo Grande, um caminhão militar, seguido até Ponta Porã e lá carregado o veículo com carga de 3 toneladas de maconha.
Antes de sair de Ponta Porã traficantes que teriam carregado o caminhão com a maconha deram aos militares entre R$ 4 mil a R$ 5 mil, dinheiro para custeara viagem até Campinas, onde foram capturados.
O MPM denunciou e pediu a prisão de seis militares por peculato-furto, crime cuja pena máxima pode alcança 15 anos de prisão. Além deste crime, os militares respondem por crime de tráfico internacional de droga pela Polícia Civil de São Paulo.
O promotor de Justiça Militar, Nelson Lacava Filho, que conduz o inquérito, disse que pela legislação militar, não há como incriminar os envolvidos no caso por formação de quadrilha. “A legislação militar é antiga. Pelo código, eles [militares denunciados] praticaram um crime grave, mas conhecido como organização de grupo para a prática de violência, não como quadrilha”, explicou o promotor.
Lacava Filho disse ter comunicado à Justiça Militar que o caso pode ser encaminhado à Justiça Federal ou Ministério Público Federal, cuja a legislação permite que implequem os militares em crime de formação de quadrilha.
O promotor denunciou e pediu a prisão dos cabos Fidélio Rossi Oliveira, 24, Lucas de Santana Gabriel Cavalcante Ferreira, 22 e do sargento Leydson da Silva Cotrim, 24. O mesmo pedido atinge os três militares já detidos em São Paulo: cabos Raul Seixas Simão Martins, 24, Maycon Coutinho Coelho, 26 e Higor Abdala Costa Attene.
O promotor denunciou também o sargento Victor Mariano Fernandes Vasconcelos. O militar só não teve o pedido de prisão encaminhado para a Justiça Militar por falta de provas. “No caso dele não vi crime e, sim, negligência”, disse o Nelson Lacava.
TAREFA
Pelo apurado pelo MPM todos os envolvidos no esquema trabalhavam juntos no setor de manutenção de veículos. Os primeiros militares que fizeram contatos com os traficantes paulistas foram os cabos Coutinho e Abdala.
A dupla confessou ter acertado o tráfico com um certo “Quebrada” num bar, em Campo Grande. Ali eles combinaram o tráfico.
No dia 26 de agosto, feriado pelo aniversário de Campo Grande, os militares Simão, Coutinho, Abdala e Laydson, segundo o MPM, tramaram a retirada do caminhão de dentro do 20º RCB.
O promotor disse que para os militares saírem com o caminhão, eles fraudaram a relação de controle do trânsito de veículos no quartel.
Na saída, Laydson, o mais graduado entre eles, sargento, estava dentro do caminhão, como passageiro. Por norma militar, quando um sargento estiver dentro do veículo militar ele age como “chefe de viatura”. Pelo esquema, a presença de Laydson não chamaria a atenção de outros militares que estavam no quartel.
Do quartel, o caminhão militar seguiu até o posto Locatelli, na saída para São Paulo. Os cabos Coutinho e Abdala foram atrás num veículo de passeio, propriedade do sargento. Tudo foi registrado pelas câmeras do posto. Dali os cabos entraram na viatura militares e foram para Ponta Porã. O sargento cumpriu plantão no dia seguinte.
Já a participação do cabo Lucas surge com as declarações dos três detidos em Campinas. O trio contou que Lucas sabia do esquema, mas não quis seguir viagem até Campinas. “Há indícios veementes de que este também tenha participado da empreitada criminosa, participando, não só do seu planejamento, mas também, dando-lhe suporte na execução, haja vista que estranhamente recebeu do cabo Nery, por solicitação do cabo Coutinho, dois meses antes do ocorrido a quantia de R$ 6 mil”, diz trecho do inquérito.
Cabo Lucas nega participação no caso. Ele disse que no dia que o trio foi detido, em Campinas, ele viajava para Barretos, interior de São Paulo. Ao menos por enquanto a versão do cabo não convenceu o MPM, que quer sua prisão também.
AS PRISÕES
Os cabos Simão Raul, Maykon Coutinho Coelho e Higor Abdala Costa Attene, foram detidos por volta da 1h da madrugada do dia 28 de agosto, domingo, por policiais civis de Campinas (SP).
Comunicado emitido pela Denarc (Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico), e a 5ª Delegacia da Divisão de Investigações sobre Entorpecentes e a Polícia Civil, de Campinas, informou que investigava há pelo menos três meses eventual envio de carregamento de droga que chegaria à cidade paulista.
Um dia antes (27), no sábado à noite, os investigadores do caso fizeram campana perto de uma empresa desativada. Havia no local movimentação de veículos. Assim que perceberam os policiais, os militares do Exército tentaram sair do local conduzindo o caminhão do 20º RCB.
A prisão ocorreu na rodovia SP-101. Os cabos seguiam pela estrada na contramão e trocaram tiros com a polícia, segundo a nota divulgada pela Denar. A maconha estava camuflada na carroceria do veículo, dentro de bolsas de viagem.
Os cabos Maycon e Higor Abdala foram detidos fardados, dentro do caminhão. Já o cabo Simão Raul, baleado na perna, escapou e foi detido logo pela manhã de domingo, em Cordeirópolis, ferido, e levado para um hospital de Limeira, cidade 50 quilômetros distante de Campinas.
Ainda segundo o Denar, no dia da operação, a polícia prendeu dois civis que, em carros separados tentaram escapar do cerco policial, perto do estacionamento da empresa desativada, em Campinas. A polícia paulista acredita mais duas pessoas ligadas aos civis estejam foragidas.
MIDIAMAX/montedo.com