Jeep: A necessidade do exército americano deu origem à um clássico do 4×4
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Willys MB |
Em 20 de outubro de 1883, nascia em Point Pleasant, EUA, o designer Karl Probst. Ele poderia ter passado despercebido pela história automotiva, mas decidiu assumir uma missão difícil e arriscada a pedido do Exército Americano.
Era 1940 e os EUA estavam percebendo que logo estariam diretamente envolvidos na recém iniciada Segunda Guerra Mundial, que já devastava a Europa. Pensando nisso, decidiu antecipar-se aos fatos e pediu um projeto de veículo leve de reconhecimento para 135 empresas no país. No entanto, apenas a Bantam e a Willys Overland responderam.
A Bantam estava em processo de falência e não podia contar com sua equipe de engenharia, enquanto a Willys pediu mais tempo. Afinal, o US Army (exército) pediu quase o impossível: 49 dias de prazo e nada mais! No final, o protótipo já deveria ser totalmente funcional. Sem ação por parte da Willys, a Bantam pediu a Probst – freelancer na época – para desenvolver o projeto.
BRC
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Karl Probst |
Probst recusou, mas o US Army fez um pedido direto e ele acabou aceitando, mesmo sem remuneração. Karl provou ser completamente capaz de executar a missão. Em apenas dois dias ele desenhou o veículo que os militares queriam. Isso foi em 17 de julho de 1940 e no dia 22 do mesmo mês, a Bantam apresentou o protótipo BRC (Bantam Reconnaissance Car).
O BRC foi construído à mão e com peças de outros veículos, sendo então testado pelo exército e aprovado em todos os quesitos, exceto o torque do motor. De qualquer forma, o veículo já estava apto a ser produzido, mas o US Army achou que a Bantam não conseguiria dar conta do recado e pediu para que Ford e Willys passassem a fabricar também o novo carro militar.
Os componentes principais do veículo foram fornecidos pela Spicer e a Bantam manteve o nome BRC, enquanto a Ford o chamou de Pygmy (Pigmeu) e a Willys de Quad. Os três protótipos pré-série eram muito parecidos entre si e as diferenças estavam principalmente relacionadas com a grade frontal.
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Bantam BRC |
Para produção seriada, os nomes foram alterados para Bantam BRC-40, Ford GP e Willys MA. Foram fabricadas 1.500 unidades de cada modelo e imediatamente testados pelo exército. Dos três fabricantes, a Willys deu um salto maior ao reduzir o peso para os 578 kg em ordem de marcha para uma especificação de uso militar e podia ainda usar o mais potente motor “Go Devil” da empresa.
Com isso, a Willys ganhou o contrato principal de produção com um projeto que daria origem a um famoso utilitário 4×4 após a guerra. O visual do modelo, agora chamado MB, utilizava a grade de barras verticais da Ford e o design foi adotado pelo US Army.
Sem poder dar conta da demanda, a Willys Overland pediu permissão para contratar a Ford, a fim de ajudar a obter o volume necessário. Infelizmente, a Bantam não teve sucesso, apesar de ter feito 2.700 unidades do BRC-40 e ter criado o projeto em tempo recorde.
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Ford Pigmy |
Jeep
A origem real do nome “jeep” ainda é alvo de debates, mas é comumente aceito que o derivou do termo “GP” (General Purpose) usado pela Ford em seu modelo. As letras “G” e “P” soariam como “jeep” em inglês. A invenção do nome Jeep teria sido feita por Joe Frazer, presidente da Willys entre 1939 e 1944, usando exatamente a pronúncia das letras.
Enfim, o nome Jeep surgia nos campos de batalha e acabou se tornando sinônimo desse tipo de veículo dentro do exército. A fama de indestrutível nas linhas de combate fez o nome “jeep” significar também qualquer veículo inspirado no GP. Somente em fevereiro de 1943, a Willys entra com o pedido de marca para “Jeep”.
Durante a Segunda Guerra, Willys Overland e Ford construíram 640.000 unidades dos modelos MB e GPW, que representaram 18% de todos os veículos militares produzidos pelos EUA durante o conflito. O preço unitário era de US$ 648,74 na Willys e US$ 782,59 na Ford. Usado nos mais variados fins, o Jeep teve inclusive 30% de sua produção fornecidos para o Império Britânico e União Soviética.
Pós-guerra
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Jeep CW2A |
Depois da guerra, a fama do Jeep se espalhou pelo mundo e diversos fabricantes copiaram o utilitário, inclusive do Japão. O veículo também se tornou um objeto de arte, sendo considerado uma obra-prima do desenho industrial. Funcional e resistente, o projeto continuou a ser executado para fins militares, mas acabou caindo mesmo é nas graças dos consumidores.
O primeiro Jeep civil foi o CJ-2A (Civil Jeep) de 1945 e custava US$ 1.090. Em 1953 surge o CJ-3B. A marca registrada só seria dada à Willys Overland em 1950. Mas ela iniciou um período de mudanças de dono. A empresa foi vendida para a Kaiser Motors em 1953 e a divisão Jeep virou Kaiser-Jeep em 1963. Com faróis maiores e para-lamas dianteiros mais delineados, o veículo foi sempre o best seller da montadora nas décadas seguintes, apesar de terem surgido variantes, inclusive picape.
Das séries do utilitário 4×4, a fabricada por mais tempo foi a CJ-5, que ficou em linha entre 1954 e 1983. Haviam também as séries FJ, FD, Jeepster, Forward Control e “M”. Em 1963, surge a série SJ, que tornaria a Jeep mais diversificada, pois tratava-se de um veículo maior e contemporâneo da época.
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Willys Jeep Truck |
Jeep
O Jeep SJ daria origem aos famosos Wagoneer (1963-1983), Cherokee (1974-1983), Grand Wagoneer (1984-1992), Gladiator (1963-1971), Série J (1972-1988) e M7XX/6217 (1967-1969). Em 1970, a AMC adquiriu a Jeep, até então nas mãos da Kaiser Motors. Nove anos depois, a Renault assume a AMC, mas a produção só em 1986.
A divisão AM General, que fabricava as versões militares, começa a desenvolver o HMMWV, popularmente conhecido como Humvee, que se tronaria o cavalo de batalha do US Army e USMC. Em 1984, surge o Cherokee (XJ) e no final do período AMC/Renault, aparecem os modelos Comanche (picape) e Wrangler (jipe).
O Wrangler é o herdeiro do primeiro Jeep e é totalmente inspirado no veterano guerra. No ano de 1987, a Chrysler assume a AMC no lugar da Renault e passa a integrar a Jeep entre suas bandeiras. A Chrysler entra com ação na justiça americana contra a GM pelo direito de usar a famosa grade, que a Hummer pretendia usar em seus utilitários.
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Jeep Wagoneer |
Em 1993, surge o Grand Cherokee, modelo que viria a ser o topo de linha da marca americana. A Jeep permaneceu diretamente ligada à Chrysler até a fusão desta com a Daimler em 1998. Nessa fazem surgem os modelos Commander (2006) e Liberty (2004), mas o Grand Wagoneer deixa de ser feito.
Na China, a parceria entre a DaimlerChrysler e a Beijing Auto faz surgir a Beijing-Benz, que daria origem a vários carros derivados do Cherokee e do Wrangler. Em 2007, a Jeep volta para a Chrysler LLC, agora separada dos alemães. No entanto, a crise de 2009 faz a empresa pedir falência nos EUA.
A salvação, além da realizada pelo governo americano com bilhões de dólares, foi a aquisição da Chrysler pela Fiat. Sob a gestão direta de Sérgio Marchionne, a Jeep passa a ter um novo foco, produtos de uma nova base ítalo-americana chamada “Wide”.
O primeiro rebento dessa nova geração foi o Novo Cherokee, tendo logo após o compacto Renegade, que é feito na Itália e no Brasil. Haverá ainda outro de mesma base e o retorno futuro do Wagoneer, entre outras coisas.
Brasil
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Willys Overland do Brasil com modelos Jeep |
A história da Jeep no Brasil e muita antiga e recentemente teve um grande desdobramento com o lançamento do Renegade. Em 1954, a Wiilys Overland começa a produzir o chamado “Jeep Willys” em Taboão, bairro de São Bernardo do Campo/SP, próximo da Rodovia Anchieta.
Logo de cara o Jeep Willys (versão CJ-3B ou “Cara de Cavalo”, por ter frente mais alta que o original da guerra), logo se mostrou adequado à realidade brasileira, onde ruas e estradas ainda eram feitas de terra em boa parte do território. Ele era vendido como “Jipe Universal”.
Em 1966, o Jeep Willys passou a ser montado também em Jaboatão/PE, onde ficou conhecido como “Jeep Chapéu de Couro”. Ele era fabricado pela Willys Nordeste, a primeira montadora de automóveis da região, onde também eram feitos os modelos Rural e Pickup. Pouco tempo depois, a planta pernambucana foi fechada.
O Jeep Willys – já do modelo CJ-5 – foi fabricado posteriormente pela Ford, após aquisição da Willys. O modelo foi feito até 1981 na fábrica de Taboão. Com seu fim, a marca some do mercado brasileiro e só reaparece nos anos 90 com importados. Ela continuou assim até a era Fiat-Chrysler, quando uma nova ação foi tomada.
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Jeep Renegade |
A nova empresa decidiu retomar a produção da marca Jeep no Brasil com o novo modelo de entrada, o Renegade. O modelo usa a mesma base do Fiat 500X e sua fabricação passou a ser feita – além da Itália – em Goiana/PE, que fica a 77 km de Jaboatão, que outrora produzira o clássico Jeep Willys. Hoje, a Jeep emprega funcionários que um dia trabalharam na montagem do modelo clássico nos anos 60.
notíciasautomotivas/montedo.com