Paula Maciulevicius
Uma poupança praticamente intacta. Foram 30 anos de economias que transformaram um terreno no bairro Vila Bandeirantes, na Capital, em uma biblioteca aberta para a cidade. Aos 78 anos, o coronel do Exército, Rubem de Sá Padilha, viu materializado seu grande sonho: de salvar os livros. Foi ele quem comprou o terreno, construiu e inaugurou o espaço.
"Isso vem de muito tempo, começou quando eu fiz a poupança para conseguir recursos e construir, tem mais de 30 anos", conta Padilha. À época, o militar era tenente e servia em Ponta Porã.
Nascido em Três Corações, Minas Gerais, a carreira o levou para o Rio Grande do Sul, Paraná, Rio de Janeiro, Amazonas, Ceará e o então estado de Mato Grosso, hoje, Mato Grosso do Sul. E por onde serviu, Padilha compôs o acervo pessoal. Livros de todas as temáticas, de Ecologia à Política, Literatura Nacional e Internacional até revistas.
"Minha ideia foi organizar a biblioteca para salvar os livros e deixar para instituições responsáveis", explica o coronel. A biblioteca leva o nome do pai dele: "Centro de Estudo de Fronteira General Padilha", teve apoio do Exército e será operacionalizada pela UEMS.
Para realizar o grande sonho, o dinheiro foi poupado mesmo. Padilha diz que durante todos esses anos, só fez dois saques, um para o parto de um filho e outro para a compra de um carro semi-novo. O propósito se manteve firme três décadas. "Juntei o suficiente para comprar o terreno, não me lembro se foi R$ 110 ou R$ 140 mil e para construir o prédio, R$ 240 mil, o acervo não entra na conta, porque foi adquirido todo mês e eu também recebia livros de associações", descreve.
Para ele, a leitura é tudo e na memória, está guardada a imagem do Padilha ainda menino, que ouvia do pai todas as noites trechos do mesmo livro.
"O livro que pode ter mudado a minha vida tem o título de 'Coração', de um escritor italiano e que tinha todas as histórias de fundo moral. Meu pai lia para os filhos toda noite antes da gente dormir e nós sempre queríamos mais uma e ele: 'não, amanhã. Pode todo mundo escovar os dentes e cair na cama para dormir'", recorda.
Quem sabia do sonho, desacreditava ou chamava o coronel de maluco. "Muita gente não acreditou e depois que eu comecei a realizar, me chamava de maluco", confirma. O terreno foi comprado em 2010 e durante seis anos foram feitas obra e catalogação de todo acervo pela bibliotecária do Colégio Militar.
"No começo eu não pensei nos detalhes, não tinha nem noção de como se fazia ou se deixava de fazer", comenta o militar. Ainda durante a construção, foram deixados dois bilhetinhos na caixa dos Correios do imóvel, com nome e telefone. "Eu retornei e eram estudantes universitários querendo saber se poderiam usar o espaço para estudar e é esse ambiente que uma biblioteca facilita", argumenta.
No total, são cerca de 3 mil exemplares. A biblioteca funcionará das 7h30 às 12h.
"O que é a leitura? Para mim é algo fundamental. Eu sempre li por prazer e filas de banco ou consultório nunca me preocuparam, porque eu sempre estava com um livro, lendo e a coisa mais importante que você pode deixar para alguém é uma biblioteca. Não tem nada mais importante do que os livros", afirma o coronel.
E a sensação de folheá-los, qual é? "É de uma satisfação muito grande, você sentir as folhas correndo na mão. E quando o livro acaba? Se for bom, a gente guarda com satisfação, se for ruim, guarda também, o que é ruim para mim, pode ser bom para outros", opina.
A biblioteca funciona na Rua Hermenegildo Pereira, 206, na Vila Bandeirantes e é aberta ao público.
CAMPO GRANDE News/montedo.com