Histórias de Quartel
Desarmado e perigoso
Ruben Barcellos
O sargento Barbosa chegou da marcha de 12 km e foi doar sangue.
No posto da Santa Casa, preencheu uma ficha de doador e olhou em volta, procurando a cadeira com o apoio do braço.
A enfermeira disse:
- Sente sargento, fique à vontade.
- Obrigado, moça, estou bem assim.
Tirou o revólver Smith Wesson .45 com 6 bala no tambor e 6 no cano e colocou encima da mesinha. Tirou a faca de trincheira que não cortava nem água e colocou do lado.
A enfermeira ainda insistiu, na hora do torniquete, antes de cravar a agulha:
- Não quer mesmo sentar?
Barbosa se sentia mais firme que palanque em banhado. Saiu a primeira golfada de sangue.
Barbosa começou a suar frio.
Tirou o gorro.
Afrouxou o cinto com a mão esquerda.
Passou a língua pelos lábios ressequidos e pediu água pelamordedeus .
Enfim sentou-se como Aquiles baleado no garrão.
Terminada a coleta, levantou e caminhou em direção a primeira porta que enxergou. Era a porta do armário de curativos que ele abriu como se fosse a porta do inferno. Pisou no fundo de vidro e caiu com armário e tudo.
Mais tarde, no quartel, disse que tropeçou nas calcinhas da mãe de quem tinha inventado toda esta história.
Cavalaria, nem melhores nem piores; apenas diferentes.