O Sinpol-DF teve acesso a um documento assinado pelo comandante Logístico do Exército, o general Guilherme Cals Theophilo Gaspar de Oliveira, que traz à luz uma série de problemas na empresa Forjas Taurus S/A – apontando para a necessidade de retirar determinados produtos de circulação.
No ofício, que foi enviado ao secretário de Segurança Pública do Estado do Paraná, Wagner Mesquita de Oliveira, o general compartilha “as principais conclusões alcançadas após o processo de investigação que iniciou-se em decorrência de informações que chegaram ao conhecimento do Comando do Exército, a respeito de possíveis problemas com as armas fabricadas pela empresa Forjas Taurus e que estariam colocando em risco os agentes públicos que as utilizam”.
O documento informa que foi instaurado procedimento de Verificação Sumária e que na inspeção realizada na fábrica da Forjas Taurus, “foi verificado que a empresa não possui política/gestão que busque conhecer as necessidades do cliente e seu grau de satisfação, bem como que oriente e forneça serviços de manutenção preditiva, preventiva ou corretiva”.
Ele ressalta ainda que a empresa demonstrou que, “até passado recente, tinha deficiências em seu controle de qualidade na fabricação de produtos em escala industrial”.
Foi apurada a existência de indícios de modificação do projeto da Pistola 24/7 e da Pistola 840, ambas calibre .40, sem autorização do Comando Logístico.
Enquanto a primeira apresentou alteração da trava do gatilho e no tirante do gatilho, a segunda passou por modificação do eixo do sistema de fixação das teclas do registro de segurança e na alavanca de desmontagem.
“Tal atitude demonstra a existência de indícios de violação de compromisso assumido quando da obtenção do registro perante o Sistema de Fiscalização de Produtos Controlados, compromisso esse de não modificar o produto controlado com produção já autorizada”, adverte o ofício.
Em função disso, foi instaurado um Processo Administrativo Sancionador (PAS) para “apurar a possível existência de irregularidades no trato com produtos controlados, relativas a modificações desautorizadas de Pistolas Taurus 24/7 e Modelo PT 840”.
Será analisada ainda a aplicação de sanções administrativas cabíveis, “por haver iminente risco à vida, à saúde, à integridade física e à segurança do usuário e da sociedade”, justifica o documento do Comando Logístico, que expõe ainda uma série de medidas acautelatórias já adotadas pelo Exército.
AJUSTES
Até que o PAS ao qual a empresa responderá tenha solução, foi definida a apreensão das pistolas modelo 24/7 existentes na linha de produção da empresa ou em estoque, bem como a suspenção e fim da comercialização desses armamentos, até que seja comprovado que a empresa solucionou os problemas de qualidade apresentados.
Também foi recomendado à Taurus prestar maior assistência a todos os adquirentes de quaisquer armas de fogo fabricadas por ela.
Entre as medidas estão orientações, em mídias e no site da empresa, quanto à necessidade de manutenção preventiva periódica, e a inclusão de planos de manutenção periódica, em assistência técnica própria ou credenciada pela empresa.
Outro ponto explicitado é a extensão dos recalls disponibilizados aos produtos adquiridos pelos Órgãos de Segurança Pública a todos os demais adquirentes.
LICITAÇÃO
Além do documento expedido pelo Comando Logístico do Exército, outra medida adotada pela Polícia Militar de São Paulo reforça a tese dos problemas com as armas da Taurus: a Consultoria Jurídica da corporação penalizou a fabricante a ficar dois anos sem licitar ou contratar com a Administração.
A punição é referente ao processo de aquisição de 5.9831 submetralhadoras do modelo SMT-40. O armamento foi adquirido em 2011, mas nunca foi utilizado porque apresentou problemas de funcionamento.
Nesse caso, as armas apresentavam defeitos como quebra do cano durante o disparo, travamento, disparos sem o acionamento do gatilho e rajadas de tiros involuntárias.
RECALL
O recall dos armamentos utilizados na Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) é uma reivindicação recorrente do Sinpol-DF – pois os acidentes causados por armas da Forja Taurus, muitos com vítimas fatais, têm sido frequentemente denunciados em todo o Brasil.
Há meses, o sindicato tem cobrado que a PCDF siga o exemplo de outras forças de segurança e realize a troca das armas.
Outra luta é pela quebra do monopólio da Taurus no mercado nacional. Isso possibilitaria que armamentos de outros fabricantes e com mais qualidade possam ser utilizadas pelos policiais – a exemplo do que já acontece com a Polícia Federal, que utiliza armamento importado de alta qualidade.
SINPOL DF/montedo.com