11 de dezembro de 2016

A 'delação do fim do mundo' e um projeto bilionário da Defesa

Bingo!
A 'delação do fim do mundo', de Claudio Melo Filho, alto executivo da empreiteira Odebrecht, tinha tudo para envolver nomes ligados ao Ministério da Defesa, afinal, a pasta administra alguns dos maiores projetos do governo na última década, entre eles o Prosub - Programa de Desenvolvimento de Submarinos, para o primeiro submarino de propulsão nuclear do Brasil e outros quatro submarinos convencionais.

R$ 10,5 milhões em doações para Wagner
A partir da página 30 do documento, Melo Filho relata as relações nada republicanas da Odebrecht com Jaques Wagner, cujo codinome era 'Polo'. Os primeiros contatos datam de 2006, na primeira campanha - vitoriosa - do político baiano ao governo do estado. 
"A atenção demonstrada por Jacques Wagner aos temas que eram de interesse da Odebrecht reforçou a sua imagem no grupo e qualificou-o como beneficiário de melhores recebimentos financeiros", afirma o delator. Segundo ele, em 2006 Wagner recebeu R$ 3 milhões da empreiteira. De agosto de 2010 a março de 2011, foram R$ 7,5 milhões, entre doações legais e Caixa 2.

Relógios
Em março de 2012, Wagner ganhou de aniversário relógio Hublot, modelo Oscar Niemeyer, cujo valor estimado é de vinte mil dólares. O modelo tem como fundo a imagem do Congresso Nacional. Em outro aniversário, o político recebeu um relógio marca Corum, modelo Admirals Cup. Os presentes foram entregues junto com um cartão assinado por Marcelo Odebrecht, Melo Filho e André
Vital.

Prosub
A chegada de Wagner a pasta da Defesa facilitou a vida da Odebrecht na liberação de recursos de seu maior projeto na área de Defesa.
Diz Melo Filho no documento de delação:
"Me envolvi com o apoio a este Projeto quando o Ministro Jacques Wagner assumiu o cargo, pois o ponto de contato com Wagner dentro da empresa sou eu. Usando o prestígio que desenvolvi junto a ele e fazendo valer todo o apoio que a empresa fez nas campanhas de Governo dele, promovi uma reunião com André Amaro e Fabio Gandolfo, onde eles falaram abertamente do projeto e seus problemas, especialmente no tocante a fluxo de recursos. Essa reunião ocorreu no gabinete do Ministro no dia 08/04/2015, conforme consta na agenda oficial do Ministério, (disponível em: http://www.defesa.gov.br/agenda-deautoridades/agenda-do-ministro/15415-agenda-para-quarta-feira-8-deabril-de-2015)."

"Dilma da Bahia", negociava diretamente com Marcelo Odebrecht em nome da Defesa
Continua o delator:
"Na reunião estava presente a secretária executiva Eva Chiavon, conhecida como 'Dilma da Bahia', que foi designada pelo Ministro para tratar do assunto junto ao presidente da ODT e o DC do PROSUB. Por duas vezes o responsável pelo acompanhamento de recursos deste projeto em Brasília, Rubio Fernal, me entregou documentos que deixavam clara a existência de débitos altos do Governo com o projeto e eu levei pessoalmente esses documentos ao ministro como forma de pressionar. Fizemos pressão quanto ao tema e eu, particularmente, mostrava a ele que caso não fosse ele o ministro, possivelmente o projeto já teria parado por falta de recursos. O projeto não sofreu qualquer paralização na sua gestão, certamente pela forma com que ele sempre manteve um fluxo mínimo de recursos, mesmo tendo deixado dividas com sua saída."

O poderoso coronel Oliva
O coronel da reserva Osvaldo Oliva, irmão do ex-ministro Aloizio Mercadante, dirige a Odebrecht Defesa e Tecnologia, subsidiária da empreiteira, com sede em Brasília.
Oliva é figura carimbada do blog desde 2011, quando a revista Isto É revelou sua participação como consultor na intermediação dos dois maiores contratos das Forças Armadas até ali.
Oficial de carreira mediana, quase toda passada em São Paulo, foi assessor do general Albuquerque no Comando Militar do Sudeste, em 2002 e o acompanhou quando este assumiu o Comando do Exército. Porém, não permaneceu no Forte Apache por muito tempo. Em 2004, foi nomeado secretário executivo do antigo Núcleo de Assuntos Estratégicos (depois transformado em secretaria) e elaborou o projeto “Brasil 3 Tempos”, um plano de metas estratégicas até 2022. Com a queda de Luiz Gushiken, em 2007, por conta do mensalão, Oliva Neto chegou a assumir a pasta interinamente, mas deixou o cargo meses depois e afastou-se do governo.
A partir daí, transformou a Penta, pequena consultoria fundada pelo pai, em intermediária de negócios bilionários na área de Defesa. Em 2010, a Penta se uniu à Odebrecht Defesa e Tecnologia. 
Em 2015, Oliva tornou-se alvo de investigação na Operação Lava-Jato, justamente por sua atuação no Prosub, possivelmente como operador do irmão petista, Mercadante. As irregularidades descobertas no projeto, orçado em R$ 28 bilhões para a compra de quatro Scorpéne de propulsão a diesel e o desenvolvimento conjunto com a estatal DCNS de um modelo de propulsão nuclear. O Almirante Othon Bastos participou ativamente do projeto, como presidente da Eletronuclear. Recentemente, ele foi condenado a 43 anos de prisão por irregularidades na construção da usina de Angra 3.
Leia mais no blog sobre Prosub; Coronel Oliva; Eva Chiavon; Almirante Othon.

Nota do editor

Anônimo disse...
O autor do texto comete um erro em associar a condenação ao Almirante Othon ao PROSUB. ELe foi condenado por irregularidades cometidas na construção de Angra 3, nada tendo a ver com o Programa dos SUbmarinos.
11 de dezembro de 2016 11:19 

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