21 de janeiro de 2017

'Não vamos admitir descontrole', diz ministro da Defesa no RN

Forças Armadas vão patrulhar ruas da Região Metropolitana de Natal.
Raul Jungmann chegou ao estado nesta sexta (20) para operação.
Rosanne D'Agostino e Fernanda Zauli
Do G1, em Natal, e do G1 RN
O ministro da Defesa, Raul Jungmann, afirmou nesta sexta-feira (20) que o governo federal não vai "admitir descontrole". O ministro está em Natal para acompanhar os desdobramentos da Operação Potiguar II, deflagrada após uma semana de rebeliões que deixaram 26 mortos na Penitenciária de Alcaçuz, a maior do estado.
"Não vamos admitir descontrole, não vamos admitir que venha a imperar o medo e a desordem como da vez anterior. Essa é a determinação do presidente Temer. E para nós, missão dada, missão cumprida", afirmou o ministro.
A ação das Forças Armadas pelas ruas de Natal e região metropolitana foi autorizada pelo governo federal após a série de ataques a veículos, unidades policiais e outras instituições que começaram na terça-feira (17). As tropas começaram a chegar nesta sexta.
Segundo ele, as Forças Armadas só farão a vistoria, varredura e limpeza das unidades prisionais e não atuarão dentro dos presídios.
Serão 650 homens nas ruas no primeiro dia, realizando o policiamento ostensivo. No sábado, 1,4 mil estarão na Região Metropolitana. E no domingo, 1.846 integrarão a operação. "Não vamos substituir nenhuma ação das polícias", afirmou. "É também responsabilidade dos governos estaduais garantir que essas unidades assim continuem", disse.
De acordo com o Ministério da Defesa, são militares da Marinha, do Exército e da Aeronáutica que vão atuar para garantir a ordem na Grande Natal. A Operação Potiguar II será realizada até o dia 30 de janeiro, conforme decreto do presidente Michel Temer publicado em edição extra do Diário Oficial da União.
É o 7º dia de rebeliões na penitenciária, a maior do estado. Na manhã desta sexta, os presos voltaram a ocupar o telhado da unidade. Eles continuam soltos pelos pavilhões e pelos pátios do presídio, mesmo após a entrada do Batalhão de Choque e do Bope.

Rebeliões
Mais cedo, o comandante-geral da Polícia Militar do RN, coronel André Azevedo, afirmou ao G1 que não havia intenção da corporação de fazer um "paredão humano" para separar facções criminosas na penitenciária. O coronel contradisse a fala do governador do Rio Grande do Norte, Robinson Faria (PSD), que deu entrevista à GloboNewsnesta quinta (19).
"Paredão humano, ele [governador] já se desculpou. Ele recebeu uma informação não técnica. Não existe. Lá existe arma de fogo. Polícia, se abrir as mãos, morreu", disse o comandante. "Nós, para entrarmos, temos que fazer uma operação complexa, planejada, que envolve muitos materiais, equipamentos, armas", disse.
O G1 procurou o governo do estado para comentar as declarações. O governo se manifestou por meio de nota. "Esse assunto em específico a assessoria de comunicação do governo do estado não vai comentar", diz o texto.
Segundo o comandante, deve ser instalada uma barreira física para separar as facções, que seria feita de contêineres provisoriamente. "Isso é urgente e necessário", disse. O coronel afirmou ainda que é uma "ilusão" pensar que a Polícia Militar conseguirá retirar todas as armas do presídio.

Rebeliões e mortes
A rebelião em Alcaçuz começou na tarde do sábado, logo após o horário de visita. Presos do pavilhão 5, que abriga integrantes do Primeiro Comando da Capital, facção ligada a presídios paulistas, quebraram parte de um muro e invadiram o pavilhão 4, onde há presos que integram o Sindicato RN.
Ao todo, 26 detentos morreram durante o conflito entre as duas facções criminosas dentro da unidade, que gerou uma série de ocorrências na capital e outros nove municípios. Na quinta, houve novo confronto entre os presos.
Pelo terceiro dia, ônibus e outros veículos de Natal foram atacados por criminosos. Até o momento, 26 ônibus e micro-ônibus, um carro do governo do estado, três carros da secretaria de Saúde de Caicó, um veículo da Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana, quatro delegacias e outros três prédios públicos foram alvos de criminosos.
Desde segunda, o governo do Rio Grande do Norte mantém contato com os chefes de facções para tentar retomar o controle de Alcaçuz. O secretário de Segurança Pública e Defesa (Sesed), Caio Bezerra, disse que as facções foram informadas de que a polícia não iria mais permitir confrontos entre criminosos.

Sem grades
Inaugurada em 1998 com foco na "humanização", a penitenciária de Alcaçuz, no Rio Grande do Norte, está sem grades nas celas desde uma rebelião em março de 2015. Com isso, os presos circulam livremente e os agentes penitenciários se limitam a ficar próximos à portaria. O complexo, no município de Nísia Floresta, na Grande Natal, tem capacidade para 620 pessoas, mas abriga o dobro de presos (veja como funciona Alcaçuz).

Massacres
O Rio Grande do Norte foi o terceiro estado a registrar matanças em presídios deste ano no país. Na virada do ano, 56 presos morreram no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus. Outros oito detentos foram mortos nos dias seguintes no Amazonas: 4 na Unidade Prisional Puraquequara (UPP) e 4 na Cadeia Pública Desembargador Raimundo Vidal Pessoal. No dia 6, 33 foram mortos na Penitenciária Agrícola Monte Cristo (Pamc), em Roraima.
O governador do Rio Grande do Norte, Robinson Faria, classifica o massacre em Alcaçuz como "retaliação" ao que ocorreu em Manaus, onde presos supostamente filiados ao PCC foram mortos por integrantes de uma outra facção do Norte do país.
G1/montedo.com

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