20 de outubro de 2015

General critica políticos em palestra e pede 'despertar para a luta patriótica'

Publicação original: 12h52min
Atualização: 13h20min
RODRIGO VIZEU
EDITOR-ASSISTENTE DE "PODER"

O general Antonio Hamilton Martins Mourão, que comanda o Exército na região Sul do país, fez críticas à classe política em uma palestra recente e disse que a eventual substituição da presidente da República não altera de fato o "status quo".
"A maioria dos políticos de hoje parecem privados de atributos intelectuais próprios e de ideologias, enquanto dominam a técnica de apresentar grandes ilusões que levam os eleitores a achar que aquelas são as reais necessidades da sociedade", afirma um dos slides da palestra do militar.
A conferência foi realizada no último dia 17 de setembro no CPOR (Centro de Preparação de Oficiais da Reserva) de Porto Alegre. Partes dela foram inicialmente descritas pelo jornalista Tulio Milman, colunista do jornal "Zero Hora".
A Folha teve acesso a fotografias que mostram Mourão realizando uma apresentação em slides. Em um deles, já nas considerações finais, o general afirma que "mudar é preciso".
"Neste momento de crise, toda consciência autônoma, livre e de bons costumes precisa despertar para a luta patriótica, contribuindo para o retorno da autoestima nacional, do orgulho de ser brasileiro e da esperança no futuro", afirma o texto.
A apresentação do general Mourão afirma que "a mera substituição da PR [presidente da República] não trará uma mudança significativa no 'status quo'", acrescentando em seguida que "a vantagem da mudança seria o descarte da incompetência, má gestão e corrupção".
O slide em questão é concluído com a frase "É nosso dever esclarecer a opinião pública, notadamente a juventude".
Em um outro slide, o militar enumera quatro "cenários", que são "sobrevida", "queda controlada", "renovação" e caos".
O Comando Militar do Sul, liderado pelo general Antonio Mourão, reúne Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Sob o comando do general, está o maior efetivo do país –48 mil dos 217 mil militares do Exército brasileiro.

ANÁLISE DE CONJUNTURA
À Folha, o general confirmou a realização da palestra, mas se negou a fazer comentários. "Não estou autorizado a fazer nenhuma declaração sobre o assunto", disse.
"Prefiro não comentar, porque aquilo era destinado a um determinado público e não era algo para ser divulgado. Era uma coisa fechada e não para se tornar uma coisa política. Era simplesmente uma análise de conjuntura que a gente faz, nada mais do que isso", afirmou.
A assessoria do Comando Militar do Sul disse não possuir a íntegra da palestra de Mourão.
Questionado sobre a apresentação do general, o Centro de Comunicação Social do Exército, em Brasília, não respondeu até a publicação da reportagem.
COMANDANTE
No último dia 9 de outubro, o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, disse em videoconferência para oficiais temporários da reserva ver risco de a atual crise virar uma "crise social" que afetaria a estabilidade do país, o que, segundo ele, diria respeito às Forças Armadas.
"Estamos vivendo situação extremamente difícil, crítica, uma crise de natureza política, econômica, ética muito séria e com preocupação que, se ela prosseguir, poderá se transformar numa crise social com efeitos negativos sobre a estabilidade", afirmou.
O militar prosseguiu: "E aí, nesse contexto, nós nos preocupamos porque passa a nos dizer respeito diretamente".
FOLHA DE SÃO PAULO/montedo.com

Nota do editor
A matéria não cita, mas o evento referido foi o Curso de Extensão "Brasil: cenários e desafios", promovido pelo CPOR de Porto Alegre na semana passada. A palestra do general ocorreu na manhã de terça-feira (15) e os tópicos principais foram publicados no jornal Zero Hora e aqui no blog.


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