17 de abril de 2017

"É hora de sairmos", diz general comandante da MInustah

A manchete aí em cima é do blog. Esta, abaixo, é de Mônica Bérgamo, jornalista da Folha. 'Esquece' de citar que não existe nenhum militar brasileiro envolvido em casos de estupro. Jornalismo 'isento' é isso aí.

Estupros no Haiti são 'vergonha', diz brasileiro que comanda forças da ONU
O general Ajax Porto Pinheiro, 60, morava em Brasília com a mulher e os três filhos quando soube que deveria se mudar para o Haiti e substituir o general Jaborandy, morto na véspera por um ataque cardíaco, no comando do núcleo militar da missão de paz da ONU no país. Teve um mês para fazer a mudança e aprender o que precisava para comandar mais de 2.000 militares de 21 países.
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"Foi um choque para mim e para a minha família, mas vida de militar é assim", conta por telefone ao repórter Bruno Fávero. Quase dois anos depois de receber a notícia inesperada, ele se prepara para voltar ao Brasil —na quinta (12), o Conselho de Segurança da ONU anunciou que a missão, que já dura 13 anos, acaba em 15 de outubro.
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Ele diz que o período foi o mais marcante de sua vida. Tanto pela importância profissional —é a maior missão de paz liderada pelo Brasil na história— quanto pelo que presenciou por lá. Uma das experiências mais intensas, conta, foi ver de perto a destruição causada pela passagem do furacão Matthew, em 2016, que deixou mais de mil mortos e milhares de desabrigados no sul do país.
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"Eu e meus auxiliares passávamos pelas cidades afetadas e tinha muita gente na rua implorando por ajuda enquanto parecia que uma bomba havia sido jogada no lugar. Isso fazia a gente chorar. E, em todos esses locais, os templos religiosos, católicos e evangélicos, foram destruídos pelo vento. Então, as pessoas tinham dificuldade até para se apegar à sua fé."
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No plano político, ele faz um balanço positivo dos 13 anos de missão, que diz ter sido benéfica tanto para o Brasil, que projetou sua influência internacionalmente e treinou seu Exército em situações que não encontraria em casa, quanto para o Haiti, que está mais estável do que em 2004, quando a deposição do presidente Jean-Bertrand Aristide quase levou o país a uma guerra civil.
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Para o general, o trabalho dos "capacetes azuis", como são chamados os militares da ONU, também foi essencial para diminuir o impacto de duas das maiores tragédias da história do país, o furacão de 2016 e o terremoto de 2010, que deixou 220 mil mortos e destruiu boa parte da capital Porto Príncipe.
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Mas ele entende as críticas de setores da sociedade haitiana e da comunidade internacional, para quem a presença da ONU por tempo tão prolongado dificulta o fortalecimento das instituições do país.
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"É hora de sairmos", diz. "Uma missão de paz mostra resultados mais rapidamente no início, quando o país está em crise aguda. Com o passar dos anos, essa evolução é mais lenta. Além disso, a ONU precisa economizar recursos no Haiti para investir em outras missões, como nas da África."
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Críticos da Minustah (sigla para Missão das Nações Unidas para a estabilização no Haiti) também lembram dos surtos periódicos de cólera, que acontecem desde que soldados nepaleses a serviço da instituição levaram o vírus para dentro do país, em 2004. No ano passado, o então secretário-geral Ban Ki-Moon admitiu a culpa da ONU, pediu desculpas e propôs um plano para eliminar a doença do Haiti.
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Mas a crítica mais grave é com relação a estupros cometidos por integrantes da missão contra a população local. Segundo uma investigação da Associated Press publicada na quinta (12), foram mais de 2.000 denúncias nesses 13 anos. Os relatos incluem cenas especialmente chocantes, como estupros coletivos e abuso de menores de idade.
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"Qualquer episódio desse é uma grande vergonha para nós. Não vamos ao país criar problemas, vamos para ajudar", diz o general, que afirma, porém, que a ONU responde com rigor aos casos relatados e dá treinamentos periódicos. E que nos últimos três anos não houve mais denúncias de abusos.
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Em sua vida pessoal, Porto Pinheiro diz que uma das partes mais difíceis foi se separar da família, que não pode acompanhar militares que embarcam em missões de paz. A saudade é aplacada com contato diário pelo celular e com visitas a cada dois ou três meses ao Brasil.
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A distância de casa o fez criar novos hábitos, como o de cozinhar. "Eu sabia fritar ovo e passar um café. Agora faço umas asinhas de frango no forno. Não é o melhor, mas sobrevivo", diz rindo. Também começou a escrever sobre o que viveu e as histórias que ouviu no período em que esteve no Haiti. O plano é lançar um livro no futuro.
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Enquanto o Brasil planeja sua retirada do país, especula-se em qual outra missão de paz alocará recursos. Pelo que Porto Pinheiro ouve em reuniões, as preferidas da ONU são as da República Democrática do Congo, do Sudão do Sul, da República Centro-Africana e do Mali. A decisão final, porém, cabe ao Ministério da Defesa.
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Já o Haiti, crê o general, ficará melhor do que antes da Minustah, agora que passa por uma "calmaria política". Depois de adiar as eleições por quase dois anos, o país finalmente elegeu como presidente o empresário Jovenel Moise, em novembro. E outra missão da ONU, menor e sem efetivo militar, ainda ficará no país para auxiliar na formação da polícia local.
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"Mas, analisando a história do país, não dá pra dizer que desastres naturais e instabilidade política não vão mais acontecer", afirma.
Mônica Bergamo (Folha)/montedo.com

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