Avião com meia tonelada de droga decolou de fazenda da empresa de Blairo Maggi
Fábio Munhoz - iG São Paulo
Aeronave foi interceptada pela Força Aérea no último domingo em Goiás; Amaggi diz não ter relação com o equipamento e que vai apoiar investigação
O avião interceptado na tarde do último domingo (25) pela FAB (Força Aérea Brasileira) em Goiás com 500 quilos de cocaína decolou de uma fazenda pertencente à empresa Amaggi, que tem entre seus principais acionistas o senador afastado Blairo Maggi (PP-MT), que atualmente é o titular do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
De acordo com a FAB, a aeronave interceptada decolou da fazenda Itamarati Norte, localizada no município de Campo Novo do Parecis, no Mato Grosso, a cerca de 400 quilômetros de distância da capital Cuiabá. A empresa da família de Blairo Maggi confirma em sua página na internet que a fazenda pertence ao grupo Amaggi.
A aeronave que carregava os entorpecentes é um bimotor modelo PA-23-250, fabricado em 1970 pela empresa norte-americana Piper Aircraft e está registrada sob a matrícula PT-IIJ. O Registro Aeronáutico Brasileiro da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) informa que o avião está em nome de Jeison Moreira Souza.
Procurada pelo iG, a Amaggi diz, por meio de nota, que tomou conhecimento do caso por meio das reportagens publicadas na imprensa e que “aguarda o das investigações sobre a propriedade da aeronave e as circunstâncias exatas em que ela - conforme afirma a FAB - teria pousado na Fazenda Itamarati e decolado a partir de uma de suas pistas”.
Em seu site, a Amaggi - empresa da família de Blairo Maggi - confirma que a fazenda integra seus negócios (iG) |
A empresa acrescenta que “não tem qualquer ligação com a aeronave descrita pela FAB e não emitiu autorização para pouso/decolagem da mesma em qualquer uma de suas pistas”. Ainda conforme a Amaggi, a fazenda possui 11 pistas autorizadas para pouso eventual, espalhadas ao longo de 54,3 mil hectares de propriedade. A organização destaca que essas pistas são “apropriadas para a operação de aviões agrícolas, o que não demanda vigilância permanente”.
Ainda na nota, a Amaggi considera que “região de Campo Novo do Parecis tem sido vulnerável à ação de grupos do tráfico internacional de drogas, dada a sua proximidade com a fronteira do Estado de Mato Grosso com a Bolívia” e que “tal vulnerabilidade também acomete as fazendas localizadas na região”.
A empresa diz auxiliar as autoridades de segurança em ações para combater o tráfico de drogas na região. “Em abril deste ano, a Amaggi chegou a prestar apoio a uma operação da Polícia Federal, quando a mesma foi informada de que uma aeronave clandestina pousaria com cerca de 400 quilos de entorpecentes (conforme noticiado à época) em uma das pistas auxiliares da fazenda. Na ocasião, a PF realizou ação de interceptação com total apoio da Amaggi, a qual resultou bem-sucedida”, finaliza a companhia.
Também por meio de nota enviada ao iG, a assessoria de comunicação da FAB afirma que “as informações sobre o local de decolagem da aeronave interceptada no domingo foram fornecidas pelo próprio piloto durante a aplicação das medidas de policiamento do espaço aéreo. A confirmação do local exato da decolagem fará parte da investigação conduzida pela autoridade policial”.
Operação Ostium
A ação da Força Aérea realizada na tarde do último domingo integra a Operação Ostium, cujo objetivo é coibir a prática de crimes ao longo de toda a fronteira brasileira. A interceptação da aeronave com meia tonelada de cocaína foi feita em Aragarças, cidade localizada na divisa entre os estados de Goiás e Mato Grosso.
A interceptação teve início por volta das 13h. A FAB utilizou um avião A-29 Super Tucano, um turboélice brasileiro fabricado pela Embraer. A aeronave interceptada tinha como destino a cidade de Santo Antonio Leverger (MT), que fica localizada a aproximadamente 40 quilômetros de Cuiabá, capital do Estado.
De acordo com a FAB, o piloto de defesa aérea seguiu o protocolo das medidas de policiamento do espaço aéreo, conforme estabelece a Lei 7565/1986 e o Decreto 5.144/2004, interrogando o piloto do bimotor e comandando, na sequência, a mudança de rota e o pouso obrigatório no aeródromo de Aragarças (GO).
A Força Aérea informa que inicialmente, o avião interceptado seguiu as instruções apresentadas pela defesa aérea, mas em vez de pousar no aeródromo indicado, arremeteu. O piloto novamente comandou a mudança de rota e solicitou o pouso, porém o avião não respondeu. A partir desse momento, o equipamento foi classificado como hostil. O A-29 Super Tucano executou o tiro de aviso – uma medida de persuasão para forçar o piloto da aeronave interceptada a cumprir as determinações da defesa aérea - e voltou a comandar o pouso obrigatório.
A aeronave com a droga novamente não respondeu às orientações e pousou na zona rural do município de Jussara, interior de Goiás. Um helicóptero da Polícia Militar de Goiás foi acionado e faz buscas no local. O avião será removido para o quartel da PM em Jussara. A droga apreendida será encaminhada para a Polícia Federal em Goiânia.
Outro caso
Em fevereiro deste ano, a Polícia Federal apreendeu na cidade de Pará de Minas (MG) uma aeronave Cessna Aircraft, modelo 210M, que transportava 430 quilos de pasta base de cocaína. O piloto do avião foi preso em um hotel próximo à rodoviária de Belo Horizonte, para onde havia fugido. A operação foi realizada em conjunto com a Polícia Militar de Minas Gerais.
O avião foi encontrado no período da noite em um hangar, onde iria pernoitar carregado com a droga, antes de seguir viagem. Durante a perícia, a PF constatou que as asas da aeronave não tinham identificação em suas partes inferiores, além de ter as extremidades alongadas para permitir o armazenamento de maior quantidade de combustível e, com isso, aumentar a autonomia de voo.
Além da pasta base de cocaína, foi encontrado um pacote com cerca de um quilo de folhas de coca de origem boliviana, segundo a Polícia Federal.
Sem comentários
A assessoria de imprensa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento foi procurada pela equipe do iG para comentar sobre o assunto, mas não se manifestou, orientando para que a Amaggi fosse contatada. O ministro Blairo Maggi também não fez comentários sobre o caso em seus perfis nas redes sociais.
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