16 de fevereiro de 2017

Especialistas discordam do emprego das Forças Armadas no policiamento do Rio

Para eles, situação do estado não justifica emprego da força, embora concordem que há efeito na sensação de segurança
RENAN RODRIGUES
RIO - A morte de um suspeito de ter roubado uma motocicleta ontem na Avenida Brasil, baleado por militares, acendeu a discussão sobre o uso das Forças Armadas no patrulhamento ostensivo das ruas da cidade. Especialistas em Segurança Pública ouvidos pelo GLOBO discordam do emprego das Forças Armadas no patrulhamento do Rio de Janeiro. Para eles, a atual situação do estado não justifica o emprego da força, embora concordem que a demonstração de força possui efeito na sensação de segurança.
Pesquisador do Núcleo de Estudos de Cidadania, Conflito e Violência Urbana da UFRJ (Necvu), Michel Misse justifica essa visão baseada no preparo dos militares. Segundo ele, o foco desses agentes está no confronto.
— As Forças Armadas não são preparadas para o trabalho de policiamento ostensivo. Elas são preparadas para a guerra, o combate. Não são para administrar alguma situação, prevenir conflitos. Os problemas que têm sido apontados na (atuação da) Polícia Militar, que está na sua formação militarista, são agravados nas Forças Armadas, cuja formação não é para o policiamento — afirma Misse, que questiona o contexto do uso das Forças Armadas: — O Rio viveu algumas situações excepcionais. Essa situação pode ser tratada como excepcional, mas é prosaica.
Já o consultor em segurança Vinícius Cavalcante defende que as tropas militares estão preparadas, entre outras funções, para o policiamento ostensivo. Ele discorda, entretanto, da finalidade do atual uso do efetivo no Rio. Ele concorda com Misse sobre a ausência de uma situação que justifique o emprego deste efetivo.
— Não me agrada empregar esse efetivo em missões de segurança. Fala-se na possibilidade de militares atuarem no controle de distúrbio na Alerj. Nada pode ser pior. Know-how pra controle de distúrbio eles têm, mas é uma função muito espinhosa. Nós não estamos falando de um quebra-quebra generalizado. Não é 2013, que em certos aspectos justificaria o emprego das forças armadas. O protesto advém de uma má gestão política, uma reivindicação de setores da sociedade. Aí você usa as Forças Armadas, o último recurso, para defender o parlamento de uma má gestão — critica Vinícius.

DEMONSTRAÇÃO DE FORÇA INIBE A VIOLÊNCIA
Na terça-feira, durante o anúncio do emprego de Forças Armadas no Rio de Janeiro até o dia 22, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, afirmou que a presença das Forças Armadas no Rio é “preventiva”. Vinícius Cavalcante observa que a presença das Forças Armadas é uma demonstração de força e que, um dos efeitos, é a sensação de segurança:
— Nós estamos vendendo para as pessoas uma sensação de segurança. Essa sensação, claro, é importante para o comércio, para o funcionamento da cidade. Não é o motivo principal (a sensação de segurança), mas há um efeito. Os soldados estão em condição de agir caso seja necessário. Ninguém vai brincar com um fuzileiro, porque, se o soldado não conseguir resolver, vai tomar uns tiros.
Michel Misse analisa que, além da sensação de segurança, a presença das tropas federais também reduz o peso dos protestos de familiares de PMs, que ocorrem desde a última sexta-feira.
— A presença dos militares inibe e diminui os protestos dos familiares de policiais militares. O papel é também simbólico. É pra dizer: “agora a coisa é diferente”. Não deixa de ser importante, para diminuir a possibilidade de aumento na violência.
O Globo/montedo.com

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